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Teatro precisa-se, por isso fomos à estreia

A palavra palhaço deriva do italiano paglia, que significa palha em português. Palha que, antigamente, era usada no revestimento dos colchões das camas e por isso terá sido associada aos cómicos, uma vez que a roupa era feita do mesmo pano e revestimento dos colchões, que aliás os protegia das quedas e tropelias. Mas apesar da suposta […]

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A palavra palhaço deriva do italiano paglia, que significa palha em português. Palha que, antigamente, era usada no revestimento dos colchões das camas e por isso terá sido associada aos cómicos, uma vez que a roupa era feita do mesmo pano e revestimento dos colchões, que aliás os protegia das quedas e tropelias. Mas apesar da suposta alegria dos palhaços – que tanto podem ser coloridos e engraçados, com roupas despropositadas e pinturas no rosto, como melancólicos, românticos ou mendigos, como o enorme Charlie Chaplin – há uma certa ideia de ingenuidade e fragilidade à volta deles. De contrasenso. 

Há 3 palhaços especiais para conhecer por estes dias no Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB). São velhos, desempregados e reencontram-se numa cinzenta sala de espera, onde acontece de tudo menos serem atendidos para a bendita (ou maldita) entrevista de emprego. Nesta Era agridoce de crise pandémica, em que somos todos obrigados a (também) meter as nossas máscaras e suportar a angústia dos dias, ver a peça  Palhaço Velho, Precisa-se da Escola da Noite, dá a sensação de espelho mas sabe a oxigénio, porque somos nós. Somos nós a passar constantemente da gargalhada à angústia, da tensão ao abraço, do sorriso à lágrima.

Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash são incríveis como protagonistas, numa excelente encenação de António Augusto Barros. O coração quase nos sai pela boca em cenas como a da fanfarra, que passa na rua e os palhaços, não conseguindo ver, apenas ouvindo o rufo dos tambores, pratos e trompetes, explodem de raiva e gritam: Eles não têm nenhuma janela! Os porcos! 

Precisamos todos de janelas e agora mais do que nunca. Este espectáculo, com cenografia de João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano, figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção, desenho de luz de Danilo Pinto e som de Zé Diogo, vai de pontapés no cu ao fim da comédia, com rasgos de crise existencialista, muito italiano e uma piscadela de olho ao Padrinho pelo meio, mas faz o ar circular e deixa-nos com vontade de retomar os hábitos culturais que, apesar dos constrangimentos, estão aí em força e a nossa Agenda é prova disso. Perto de alcançar as 70 novas criações em 28 anos de actividade ininterrupta, A Escola da Noite volta a explorar a obra de Matéi Visniec. Em Outubro, há nova estreia: Do sexo da mulher como campo de batalha na guerra da Bósnia, um retrato da guerra e da forma particular como as mulheres são vítimas directas e indirectas da barbárie, com encenação e interpretação de Ana Teresa Santos e Sofia Lobo. 

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Cinema a acompanhar

A par da temporada de Palhaço velho, precisa-se, até 4 de Outubro, o TCSB apresenta clássicos do cinema dedicados à temática do clown e arte circense:

I CLOWNS (Os Clowns), de Federico Fellini (1970) | M/12
com Fellini, Billi, Scotti, Victoria Chaplin, Anita Ekberg
16 de Setembro de 2020 às 21h30
(falado em italiano, com legendas em inglês)

THE GENERAL (Pamplinas Maquinista), de Buster Keaton e Clyde Bruckman (1927) | M/6
com Marion Mack, Charles Henry Smith, Richard Allen
23 de Setembro às 21h30
(filme mudo, com entretítulos em inglês)

LOLA MONTÉS, de Max Ophüls (1955) | M/12
com Martine Carol, Peter Ustinov, Anton Walbrook
30 de Setembro às 21:30
(falado francês com legendas em português)

Onde? Teatro da Cerca de São Bernardo
Quanto custa?
3€ (por sessão). Bilhetes à venda no TCSB e na TicketLine e nos locais habituais

Texto: Filipa Queiroz
Fotos: A Escola da Noite

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