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O cinema está de volta às Galerias Avenida

É emocionante abrir a porta do Estúdio 2, no rés-do-chão das Galerias Avenida, e ver as luzes acesas. No chão, caixas de ferramentas e junto à grande tela andaimes onde trabalhadores fazem as últimas afinações. Na plateia, alguém faz testes de som através de um computador e avisa-nos que daqui a pouco não vamos conseguir conversar. […]

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É emocionante abrir a porta do Estúdio 2, no rés-do-chão das Galerias Avenida, e ver as luzes acesas. No chão, caixas de ferramentas e junto à grande tela andaimes onde trabalhadores fazem as últimas afinações. Na plateia, alguém faz testes de som através de um computador e avisa-nos que daqui a pouco não vamos conseguir conversar. Saímos para o átrio do centro comercial conimbricense com Tiago Santos, director do festival Caminhos do Cinema Português, que este ano conta com o Alto Patrocínio da República Portuguesa e não só se realiza, apesar dos contrangimentos causados pela pandemia de COVID-19, como é responsável pela reactivação da antiga sala de cinema encerrada há mais de uma década. 

O Caminhos obteve um apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) que viabilizou a compra de um projector digital de cinema e o facto de a administradora das Galerias Avenida, Cátia de Almeida, ter feito saber através da imprensa que tinha vontade de voltar a ter cinema no centro comercial levou a organização a retomar o contacto, já iniciado em 2015. Houve receptividade – bastante boa na nossa opinião e que agradecemos – para programarmos este final de ano em que, em plena pandemia e num cenário atípico em que toda a gente ruma para o online, nós abrimos uma sala de cinema que estava desactivada há 12 anos

No meio online a experiência daquilo que se chama cinema acaba por ser entretenimento e nós estamos a promover que seja uma experiência colectiva porque isso é mais importante do que estar simplesmente a oferecer filmografia, mas sim o acesso a um cinema que é discutido, debatido e onde se pode ter contacto com os autores, que é uma coisa que só um festival pode oferecer, continua o director do Caminhos, enquanto nos leva para a cabine de projecção – qual momento Cinema Paraíso (1988). É desta pequena sala, que agora acolhe o novo projector digital do Caminhos, que na 5ª feira, dia 5 de Novembro, pelas 21h45, sai Um Punk Chamado Ribas, de Paulo Antunes. O filme faz parte do cicloPrograma!Ação que podem conhecer aqui.

Seguem-se três sessões de Warm Up! para miúdos, às 10h30, no dia 7 de Novembro. As curtas-metragens Angel’s Trumpet, Arcade Boys, ClimAgir, Fox Tale, Hornzz, #Lingo, Maré e o28. Além de provar que A Cultura é Segura, o Festival Caminhos quer passar a ideia de que o cinema é uma arte capaz de reforçar laços familiares. As crianças levam os pais ao cinema e só elas é que pagam bilhete, a entrada é gratuita para os seus acompanhantes e tudo seguindo as boas práticas de higiene e segurança que os tempos exigem. À noite, pelas 21h45, é exibido Hotel Império (2019), de Ivo M. Ferreira, com a presença do cineasta que também assinou Cartas da Guerra (2016).

Cinema Avenida

Embora temporário, a organização da XXVI Edição do Festival Caminhos do Cinema Português diz que o renascer do Estúdio 2 traz consigo a possibilidade de Coimbra voltar a ter um cinema de bairro, uma arthouse, um espaço de encontro entre espectadoresTemporária porque o festival não tem capacidade para suportar a renda a longo prazo mas desde já representa o abrir de uma caixa de memórias da própria cidade. O Centro Comercial Galerias Avenida foi construído no início dos anos 80 e substituiu o antigo Teatro-Circo do Príncipe Real D. Luiz Filipe, datado de 1892, que permitia espectáculos de tudo – inclusive equestres. Actualmente, no átrio do centro comercial, pode ver-se um antigo projector original e a bilheteira e os expositores vazios dão um aperto no coração de quem não perdia uma sessão ali nos anos 90, em plena zona histórica da cidade, na bonita Avenida Sá da Bandeira. Este tipo de recintos faz muita falta pela proximidade com o público, pela envolvência com a comunidade – a facilidade com que as pessoas entram e saem, convivem e não estão sempre condicionadas ao que os grande centros comerciais promovem que é o consumo, diz Tiago Santos.  

Todos os cinemas com uma programação alternativa ou sem olhar à receita no resto da Europa tem tido muito mais procura e frequência do que as salas ditas comerciais, continua o director do festival de cinema que tem sido, desde 1988, um dos principais referentes no panorama cinematográfico nacional. É o único dedicado ao cinema português em todas as suas vertentes (projectos finais de escolas de cinema, animação, documentário, curta e longa-metragem). Nós sempre procurámos promover a coexistência entre um cinema com uma estética mais de massas com um cinema mais de carácter ensaístico, por isso nos chamamos Caminhos do Cinema Português, para levar de um ponto A a um ponto B. Tiago Santos, colaborador dos Caminhos desde 2007, diz que há um diálogo aberto com as outras infra-estruturas cinematográficas da cidade e um entendimento geral de que o festival gostaria de ter um espaço comum para programar ao longo do tempo.

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Mas os Caminhos não se ficam por aqui. O novo equipamento foi comprado olhando a sua versatilidade para que em 2021 possamos, caso haja apoios, avançar para o cinema ao ar livre que é uma coisa que não há com qualidade em Coimbra. Queremos fazer aquilo que outros cineclubes fazem na Póvoa, em Guimarães ou Viseu, que são bons exemplos, em que há envolvimento das autarquias e dos munícipes, com programação relevante e de qualidade do ponto de vista técnico e artístico, e de alguma forma que isso possa contribuir de forma muito mais alargada para a valorização daquilo que são os públicos de cinema e dos territórios. Devido à pandemia, este ano o festival é misto, os painéis temáticos e discussões são online, bem como parte do Simpósio Internacional Fusões no Cinema. Mas vamos procurar que a vertente do cinema e das artes se mantenha, diz Tiago, sem esconder a ansiedade provocada pelos recentes anúncios do Governo relativamente às medidas de combate à pandemia. O festival garante cumprir todas as medidas de segurança. Na Sala 2 do Galerias Avenida, Teatro Académico de Gil Vicente e Mini-Auditório Salgado Zenha a lotação é limitada a 100 pessoas.

Programação 

Dia 10 de Novembro Zé Pedro Rock’n’Roll, de Diogo Varela Silva, conclui o ciclo de preparação para o Festival às 21h45. A XXVI Edição do Caminhos do Cinema Português acontece no espaço de um mês para oferecer condições de segurança para todos, de 9 de Novembro a 5 de Dezembro, com a programação praticamente toda dessincronizada. Já se conhecem os nomes dos primeiros jurados Coimbra é uma cidade que tradicionalmente gosta muito de cinema, há um público fiel que não é muito alargado, só temos muita dificuldade de entrar na faixa do público universitário mas isto é uma coisa comum a todas as entidades do sector, diz Tiago Santos. A Coolectiva é novamente parceira do Caminhos e vai brevemente dar conta da programação completa do festival que o director garante que é muito muito boa e competitiva. Tivemos 720 filmes inscritos, 326 portugueses e mesmo assim vamos exibir uns 170 nacionais ao longo das várias secções e mostras temáticas. O renascido Estúdio 2 também vai exibir filmes das Seleções Ensaios e Outros Olhares, bem como o Simpósio Internacional Fusões no Cinema e as sessões de Reposição e do Turno da Noite. 

Texto: Filipa Queiroz
Fotos: Filipa Queiroz com Caminhos do Cinema Português

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