Neste momento vivo, com a minha família, em Bruxelas, para onde viemos há três anos e meio diretamente de Brasília (Brasil), onde estivemos por mais de seis anos.
A mudança da América do Sul para o centro da Europa deveu-se a diversos fatores: primeiro, um desafio profissional interessante – ser Conselheiro Técnico na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia – que me tem permitido negociar, em nome de Portugal, diversos dossiês importantes como a reforma dos direitos de autor na UE, a nova diretiva do audiovisual, e diversas outras propostas relacionadas com o domínio digital e das telecomunicações. Segundo, as oportunidades para a educação dos meus filhos num ambiente mais cosmopolita e, naturalmente, estar geograficamente mais próximo da família em Portugal.
Bruxelas é uma cidade injustamente avaliada. Na verdade, tem muita qualidade de vida. Inúmeros parques e zonas verdes, uma boa rede de transportes públicos e uma localização no coração da Europa que nos permite estar a duas horas de comboio de Londres, Paris ou Amesterdão. Isto é fantástico e contrasta imenso com a periferia que sentimos em Portugal. Antes da Covid19, Bruxelas tinha uma vida cultural muito intensa e ofertas diversas em termos de música, teatro, museus. Confesso, que não aprecio alguma da intransigência dos belgas e, tantas vezes, fechados sobre si mesmos. Há coisas que só acontecem na Bélgica, mesmo!..
Inexplicavelmente sente-se sempre saudades de Coimbra, ainda que Coimbra tenha há muito parado no tempo e tenha tão pouco para oferecer a quem, como eu, teve o privilégio de correr o Mundo e de viver em diferentes cidades e regiões do globo.
Mas, a família e os Amigos de sempre estão ou são de Coimbra e isso não se encontra noutro lugar. De igual modo, a “comida da mãe” é, também, incomparável e insubstituível. Quando vivia no Brasil ia no máximo duas a três vezes por ano, sendo que apenas uma de férias. Pensei que em Bruxelas seria diferente, mas a verdade é que vou muito menos do que gostaria. Em regra, três a quatro vezes por ano, máximo. A pandemia está a afetar-nos gravemente desse ponto de vista. Quando vou é obrigatório jantar com os Amigos de sempre! E, antes, se houvesse jogo, ir ver a minha Académica!
Há tanta tanta coisa que gostaria que mudasse em Coimbra. Sobretudo, não para a minha geração voltar, pois dificilmente acontece, mas para evitar que outras tantas queiram sair. Coimbra tem todas as condições para, num esforço conjunto com a Universidade, ser um polo que fixe e atraia talento numa economia digital e verde, pois com a pandemia percebemos que há movimentos em busca de qualidade de vida fora das grandes metrópoles. Voltar a Portugal está escrito nas estrelas, mas não tenho pressa!
Ricardo Castanheira
[post-ad]