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Numa década esta Casa construiu uma autêntica comunidade com Arte

Tem dificuldades auditivas e vive e trabalha em Viseu, mas não foi isso que impediu José Cruzio de assistir assiduamente aos espectáculos da Casa das Artes Bissaya Barreto, nos últimos 3 anos. Entre 2017 e 2020, o artista visual entrou pela porta do imenso casarão cor de salmão na Avenida Sá da Bandeira, com sede […]

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Tem dificuldades auditivas e vive e trabalha em Viseu, mas não foi isso que impediu José Cruzio de assistir assiduamente aos espectáculos da Casa das Artes Bissaya Barreto, nos últimos 3 anos. Entre 2017 e 2020, o artista visual entrou pela porta do imenso casarão cor de salmão na Avenida Sá da Bandeira, com sede de algo diferente.

Tinha interesse em conhecer novos grupos e perceber como funciona, até porque fiz parte de vário colectivos e nem todos funcionaram da mesma maneira, conta Cruzio enquanto conversamos no último piso, que é uma espécie de sala de convívio onde também estão patentes trabalhos artísticos. A Casa das Artes oferece uma programação um bocadinho alternativa e diversificada comparativamente com o resto dos espaços em Coimbra e foi por esse interesse, continua. Um interesse que não se ficou pelo de assistir aos espectáculos mas passou também por registá-los com a máquina fotográfica, e valeu a pena ver o resultado exposto no 1º andar da Casa. Pés, mãos, gestos, olhares, momentos, cores.

As suas fotografias funcionam em conjunto como um retrato multi-facetado da Casa. Este exercício delicado foi possível no contexto de uma relação continuada de observação, registo e atenção. Como se fosse uma forma de escuta, lê-se na apresentação da mostra escrita numa das paredes do corredor. José Cruzio foi publicando as imagens nas redes sociais à medida que iam acontecendo os concertos na Garagem, o festival Les Siestes Electroniques e outros tantos, alguns já durante a pandemia. O público, barricado em quadrados de dois metros de lado, os músicos longe, e os movimentos do fotógrafo confinados.

As fotografias são registos de vários concertos, cativou-me a diversidade da plateia e o facto de ser um espaço inclusivo, onde é possível captar momentos e pessoas que fogem um pouco ao padrão, diz José Cruzio. Aqui gosto do sentimento de pertença e os concertos na Garagem faziam-me lembrar aqueles clubes ‘underground’, são esses pormenores que me atraem.

Parabéns a você

O n.º 83 da Avenida Sá da Bandeira foi a primeira sede da Fundação Bissaya Barreto, fundada pelo próprio médico, humanista, político e filantropo Fernando Bissaya Barreto em 1958. Fundou-a conjuntamente com um grupo de amigos e admiradores, dotando-a de fundos próprios e do compromisso de dar expressão continuada e organizada à Obra Social que já tinha iniciado. Actualmente, a Fundação tem inúmeras áreas de intervenção, entre elas a cultura, como o conhecido Portugal dos Pequenitos.

Em 1992, a sede foi transferida para a Quinta dos Plátanos em Bencanta, onde permanece até hoje, e a 13 de Novembro de 2010 inaugurou a Casa das Artes Bissaya Barreto como um projecto inovador e criador de oportunidades de afirmação, desenvolvimento sustentável e projecção do trabalho empreendido por associações culturais de Coimbra como a Fila K Cineclube, a Camaleão e a Marionet.

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Nesta data querida

Alexandre Lemos é o programador residente desde o início e não gosta do termo alternativa para classificar a Casa. Tem de ser muito mais aberta e ecuménica porque tem um vínculo com a instituição Fundação, tem uma relação com a cidade que não começa nem acaba em mim nem na ideia de alternativo. No entanto, até como espectador o responsável admite que a Casa é um espaço diferente. Porque é uma evidência que há coisas que só passam aqui, atira. Não o fazemos para sermos diferentes nem alternativos mas para encontrarmos o nosso lugar num espaço em que acreditamos, mais exploratório, com espaço para novos criadores.

A equipa aposta em artistas menos conhecidos porque considera que faz mais sentido programar o que não vai às outras salas, além de fazer de tudo para proporcionar conforto e inclusão. Para que o espectador tenha a percepção de que mesmo que vá ver uma coisa que não conhece, saiba que foi escolhida com critério e que vai ser recebido com cuidado, explica Alexandre Lemos. Lula Pena, Mostafa Anwar e Luís Vicente, Hugo Antunes, Pedro Melo Alves e Gala Drop foram alguns dos nomes que encheram a Casa em 2020.

Muitas felicidades

De portas abertas sempre abertas às crianças (há protectores auriculares disponíveis gratuitamente) e mesmo animais de estimação, há famílias inteiras a ir aos espectáculos, nota Alexandre Lemos. O que eu acho que melhor representa a Casa é a comunidade diversa que consegue mantê-la a funcionar e que vai desde a Fundação, institucionalmente, às associações que fizeram pressão para que a Casa começasse, aos artistas e criativos que passaram por aqui, às pessoas que aqui trabalham ou trabalharam mas também ao público.

A exposição A Casa das Artes desde 2010 que pôde ser vista no espaço tentou contar por palavras e imagens esta história onde as relações que se criam são o que de mais revolucionário há na fruição artística no nosso tempo, nas palavras do programador. Em 2020, desde que foi possível reabrir, a programação foi constante e uma boa parte dos concertos durante o Verão esgotou, apesar das limitações. Foi um bocadinho angustiante e não foi como planeámos mas agora é preciso reencontrar o nosso lugar. 

Muitos anos de vida

Já estou a programar os concertos deste Verão, acredito que vamos ter concertos em 2021, e estou a trabalhar em pelo menos dois cenários. Sem pandemia já pusemos 500 pessoas no jardim e com pandemia consigo 80, atira Alexandre Lemos. O jardim é o grande trunfo da Casa que há 3 anos realiza Matinées com DJ às sextas-feiras ao final da tarde, projecções de filmes, distribuição de Cabazes Verdejar de agricultura biológica, aulas de ioga, oficinas, sessões de jogos de tabuleiro e aulas de português para estrangeiros. Também tem uma Fanzinoteca, actualmente encerrada devido à pandemia.

Da mesma forma que criámos maneiras seguras de assistir aos concertos agora também vamos criar formas seguras de fazer as outras coisas, diz Alexandre Lemos. Gostávamos muito que as pessoas viessem a um concerto porque gostam muito da banda mas também porque ao sábado à tarde é dia de vir ver um concerto e, talvez seja o concerto do ano ou talvez uma coisa com que se identificam menos, mas onde se vão sempre sentir confortáveis e não sentem essa pressão de só irem ver o que já conhecem. 

Em 2019, a Casa das Artes ultrapassou os 10 mil espectadores, só nesse ano. Alexandre Lemos não tem dúvidas de que Coimbra é uma cidade com muita coisa boa mas precisa que as coisas que aparecem fiquem e não dependam da carolice. A Fundação Bissaya Barreto tem uma capacidade extraordinária no contexto de Coimbra para fazer coisas que fiquem, não há muitas instituições com a robustês da Fundação em Coimbra, por isso vamos  continuar a diversificar o que fazemos de maneira a que mais pessoas conheçam a Casa e se sintam parte da Casa, e dar uma regularidade e qualidade ao trabalho para que ele possa existir por si. 

Este ano, o programador revelou à Coolectiva que vão abrir um concurso para bolsas de criação dirigido a artistas em início de percurso profissional.

Podem acompanhar a programação na página oficial da Casa das Artes Bissaya Barreto no Facebook, no website da Fundação Bissaya Barreto ou subscrevendo a newsletter via WhatsApp.

 

Texto: Filipa Queiroz
Fotos: José Cruzio e Filipa Queiroz

*Texto originalmente publicado em Janeiro e actualizado em Julho de 2021

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