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RU(G)AS DE COIMBRA por Ricardo Jerónimo

Confesso que, até escrever este texto, não sabia o nome desta rua. Não deixa de ser muito estranho, porque passei nela centenas de vezes, mais ou menos entre 1990 e 2005. Durante esse período, morava na Rua Miguel Torga, mesmo junto a uma enorme escadaria que ia até meio da encosta onde, depois de passar […]

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Confesso que, até escrever este texto, não sabia o nome desta rua. Não deixa de ser muito estranho, porque passei nela centenas de vezes, mais ou menos entre 1990 e 2005. Durante esse período, morava na Rua Miguel Torga, mesmo junto a uma enorme escadaria que ia até meio da encosta onde, depois de passar uma mina de água, se encontra a esquina entre a Bernardim Ribeiro e a Alberto Oliveira (outra que aprendi agora). Esta espécie de atalho entre a Solum e Celas/Olivais dava muito jeito para quem, como eu, quase sempre se deslocava a pé.

Era por ali que, em incontáveis sábados à tarde, ia e voltava da Sede do Agrupamento de Escuteiros de Santo António dos Olivais que, à época, estava situada na Travessa do Padre Américo, mesmo ao lado da Casa do Gaiato. A maioria das vezes, para não ter de ir dar a volta, chegava ali à casa da Quinta dos Loios, onde estava instalada uma congregação de freiras (mesmo ao lado da actual CCDRC – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro) e, sorrateiramente, entrava num portão que nunca estava trancado, de modo a fazer mais um pequeno atalho que me levava até às traseiras da Sede dos Escuteiros. Nunca percebi se algum dia uma das freiras me terá visto ou se mais alguém fazia aquele atalho (em rigor, talvez se pudesse chamar invasão de propriedade privada, vá), o que é certo é que nunca fui apanhado.

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Também era na rua Bernardim Ribeiro (até já a trato pelo nome), que regularmente passava a caminho de dois campos desportivos. Um, dentro do Quartel da GNR, onde por vezes ia jogar futebol com uns amigos, incluindo um cujo pai era da Guarda, o que nos dava livre acesso (depois de mostrar o Bilhete de Identidade à entrada, claro). Outro, o Pavilhão do OFC, o Olivais Futebol Clube, mais conhecido apenas por Olivais, onde, na verdade, se jogava era basquetebol. Eu passei pelos Infantis/Juvenis e bastantes vezes fiz aquele percurso com o saco de desporto às costas, para ir a treinos ou jogos.

E era por esta mesma rua que, muitas noites, regressava a pé do States. A ida normalmente era por outro lado, com escala na Praça do Papa ou na Praça da República, para as quais subia pela Rua Miguel Torga. Mas a volta era bem mais curta e rápida se fosse por este caminho. Depois de noitadas que acabavam com o fecho da pista, às 6 da manhã, não apetecia andar mais uns 20 minutos até casa, mas era muito rara a noite em que sobrava dinheiro para um táxi. E mesmo que sobrasse, poupava-o, porque até sabia bem deixar entrar uma boa quantidade de ar fresco nos pulmões, após tantas horas a fumar cigarros passivamente. Depois de passar a Cruz de Celas e subir até à Avenida Dias da Silva, finalmente começava a descida. Quando chegava ao fim do pequeno troço pedonal, nos Loios, frequentemente parava e sentava-me no primeiro degrau da escadaria que descia até à porta de casa. E ali ficava, a preparar-me para ir dormir, enquanto via o sol nascer.

Texto: Ricardo Jerónimo
Fotos: Coolectiva

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