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RU(G)AS DE COIMBRA por Ricardo Jerónimo

Mas que raio de rua esta… Uma das mais longas de Coimbra, dizem. Notam-se ainda sinais de ela, além de rua, também ter funcionado como a principal estrada que ligava a N1, desde a Portagem, à Estrada da Beira. Bons exemplos são as duas gasolineiras, uma por baixo do viaduto e outra junto a um […]

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Mas que raio de rua esta… Uma das mais longas de Coimbra, dizem. Notam-se ainda sinais de ela, além de rua, também ter funcionado como a principal estrada que ligava a N1, desde a Portagem, à Estrada da Beira. Bons exemplos são as duas gasolineiras, uma por baixo do viaduto e outra junto a um prédio branco muito alto.

Esta é claramente uma rua que teve muitas dores de crescimento. Cresceu não em extensão, entenda-se, essa sempre lá esteve, mas em conteúdo. Ao longo dos anos, as casas de 1 ou 2 andares foram dando lugar a edifícios de 4 ou 5 ou mais. E isso trouxe mais pessoas e mais comércio e mais carros. Tudo isto sem poder alargar, claro, nem contar com a ajuda de uma série de transversais que, pelo contrário, só ajudam à confusão. Com o passar do tempo tornou-se cada vez mais descuidada, poluída, suja, feia. Custa-me usar estes adjectivos, mesmo acerca de ruas, coitadas, mas não há como usar outros.

Seja como for, eu raramente a percorria. Não calhava nos meus percursos a pé e era (ainda é) péssima para andar de bicicleta, por ser tão estreita, com muitos carros estacionados e cheia de entradas e saídas de garagens. Pelos passeios, pior, de tão exíguos que eram (ainda são), em certos sítios com postes de iluminação ou de trânsito, mal se cruzam duas pessoas.

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Mas, na verdade, sempre que lentamente a atravessava no banco de trás do carro dos meus pais, ficava interessado na quantidade de cafés, restaurantes, cabeleireiros, tabacarias, oficinas, mini-mercados, lojas de tapetes, lojas de artigos do lar, lojas de ferragens, lojas de material de construção, e tudo o mais que se pudesse imaginar. Até um sítio onde se ia comprar lenha literalmente às toneladas… O meu olhar, em movimento, sentia ali no meio de toda aquela azáfama, de todas as coisas a serem tratadas, de todos os passos apressados, uma certa vida. Daquela que nas cidades faz falta e que, no fundo, as torna cidades.

A certa altura, quando nos mudámos para a Solum, comecei a acompanhar regularmente um dos meus pais, normalmente ao sábado, ao Supermercado INÔ. A entrada ficava mesmo em frente a um portão de metal ao qual, para se chegar, tinha (ainda tem) de se subir meia dúzia de escadas. Assim feito, estávamos no Mercado do Calhabé. Depois de comprar o leite, o arroz e o papel higiénico no supermercado, íamos sempre lá ao lado porque a fruta e os legumes no supermercado não são bons e são mais caros. Curiosamente, agora que vivo no Bairro Norton de Matos, de vez em quando vou a esse mesmo Mercado, porque a fruta e os legumes no actual supermercado até podem ter ficado mais baratos, mas continuam a não ser bons. E sempre que, para lá chegar, percorro a pé uma parte desta artéria, penso para mim: Mas que raio de rua esta…

Texto: Ricardo Jerónimo
Fotos: Coolectiva

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