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Cerca de 70 voluntários investem o seu tempo a dar conforto e amparo a doentes oncológicos e aos seus acompanhantes no Instituto Português de Oncologia de Coimbra. Fazem falta mais braços, mais mãos e mais apoio aos utentes.

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Fotografia: Mário Canelas

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Foi numa quarta-feira de manhã que nos dirigimos até ao Instituto Português de Oncologia de Coimbra (IPO) onde percorremos os diversos serviços e nos cruzámos com dezenas de doentes oncológicos e os seus familiares ou amigos, com médicos, enfermeiros e auxiliares. A azáfama de uns contrastava com o silêncio de outros, neste local denso de emoções, de competências clínicas, exames e máquinas.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC ou Liga), uma associação de utilidade pública, apoia doentes oncológicos e as respectivas famílias, e desenvolve ainda um conjunto de iniciativas relacionadas com a prevenção do cancro e de estímulo à formação e investigação em oncologia. Entre diversas actividades, a Liga organiza voluntariado hospitalar no IPO e no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

O encontro estava marcado com o voluntário João Inocêncio, 44 anos, residente em Mira, uma pessoa carregada de espírito de missão e vontade de ajudar. «Curiosamente, vim parar ao IPO sem contar com isso. Sou empresário, estou ligado à informática e, quando fiz a inscrição na Liga, pensei que pudessem precisar dos meus dons informáticos. Na entrevista fizeram umas quantas perguntas e deram logo a entender que o caminho era o IPO ou os CHUC. O que é certo é que depois da formação inicial de 5 ou 6 sessões, o desafio final foi vir para o IPO. Um primo meu faleceu há vinte e um anos e o IPO dizia-me mais.»

Os voluntários da Liga são pares de braços que amparam e mãos que apontam o caminho. E fazem falta mais braços, mais mãos e mais indicações para as centenas de doentes que passam diariamente pelo IPO. De segunda a sexta-feira, os voluntários acolhem, orientam e acompanham os doentes aos vários serviços hospitalares, oferecem refeições ligeiras aos doentes e acompanhantes, apoiam doentes internados e os que estão a fazer tratamento em ambulatório.

As quartas-feiras são o dia em que João sai de Mira em direcção a um apartamento que a Liga arranjou mesmo em frente ao IPO. «É um espaço todo aconchegado, com as regras implementadas, fazemos teste antigénio todas as manhãs em que vimos e, se estiver tudo bem, avançamos, vestimos a bata, preparamo-nos e vimos para cá.»

Nestas manhãs de serviço voluntário, o trabalho da empresa que espere. «Tenho funcionários que vão colmatando as situações e estão todos avisados para não me chatearem nesta manhã. Há um ou outro cliente que rabeia mas à tarde resolve-se, o mundo não acaba naquela hora.»

Cada equipa de voluntários é distribuída pelos diferentes pisos e cada pessoa tem determinadas tarefas. «Podemos ter de acompanhar os utentes para os levar aos gabinetes médicos, mostrar-lhe onde são as análises, o raio-x, o ecg [electrocardiograma]. Às vezes, os utentes aparecem por uma porta de acesso e nem sempre vão ao piso certo para fazer a inscrição, alguns também chegam de uma viagem, de ambulância ou de carro, e ficam perdidos, tentamos encaminhá-los. Depois temos os carrinhos onde damos algum tipo de alimentação, água e outros líquidos. Costumam ser alguns elementos mais experientes, que já conhecem as rotinas e os cantos à casa, que colocam a comida nos carros.»

Diariamente, esta pequena teia de voluntários procura cobrir as necessidades dos utentes, reajustando as suas posições em função do maior ou menor volume de pessoas em cada serviço. «Somos 15, contando comigo, mas faltam sempre um ou dois. Para um dia de hoje, somos poucos. Estamos aqui entre as 8h30 e as 13h, mas a partir do meio-dia já está tudo mais liberto, há menos consultas ao final da manhã.»

No processo de selecção de voluntários pela Liga, os currículos profissionais (cv) importam pouco, já que o mais importante é identificar os perfis mais adequados para o desempenho destas funções. Assim, cada grupo de voluntários é diversificado nas ocupações de cada um: «Na minha equipa temos de tudo, um ou dois com profissões ligadas à agricultura, um ou dois empresários, aposentados, qualquer cv serve. Se quiserem ajudar, todos são bem-vindos. É preciso ter coração, vontade.»

Voluntário há quase seis anos, desde 2020 que João passou a ser chefe de dia. As responsabilidades acrescidas passam por organizar e comandar a sua equipa, criando a escala e indicando onde cada voluntário vai estar, relembrando regras e passando informações adicionais transmitidas pela Liga. João também verifica os stocks de água, sumos e bolachas, e a alimentação que vai seguir nos carros de apoio. 

No IPO, o tempo corre a diferentes velocidades, tanto escorrega pelos dedos como se demora em minutos que parecem uma eternidade nas salas de espera. Mas tempo é algo que a sociedade civil parece não ter. «As pessoas não tiram tempo. Quase todas as semanas, chateio pessoas que têm tempo de sobra mas há sempre alguma coisa, as pessoas criam logo barreiras, quer estejam a trabalhar ou não. Cada vez está pior, em termos de associativismo e voluntariado. As pessoas não dão o passo e criam o compromisso. Muitas pessoas até aceitam o desafio mas não aparecem e não podemos andar a ser polícia das pessoas.»

Fazem falta voluntários, com particular ênfase para os mais novos (na idade ou na mente), que tragam mais dinamismo e um renovado foco nas tarefas propostas. «No verão passado, tivemos um estudante de medicina do 3.º ou 4.º ano que vinha com a intenção de perceber a ligação entre os médicos e os doentes cá fora. Queria perceber o dia de amanhã, quando estiver do outro lado do sistema.»

Perguntámos se as tarefas diárias são emocionalmente exigentes e João respondeu-nos com uma mensagem forte:

Era importante as pessoas perceberem aquilo que fazemos cá de facto. Até parece que vamos dar tratamentos às pessoas ou vamos ver sangue, não sei o que lhes passa pela cabeça. Mas nós aqui não vemos nada mais do que seres humanos com necessidades de se deslocar ou de algum apoio.

João Inocêncio

Há a percepção de que é preciso haver um distanciamento emocional, que a bata que os voluntários vestem cobre tudo o que sentem junto dos utentes. «Não é fácil dar força se não a temos interiormente, mas todos damos o nosso melhor, tentamos reconfortar. Damos atenção aos utentes, quando somos guias também damos algum conforto quando saem das decisões terapêuticas. Quando o impacto da notícia não é o melhor, já vi colegas a chorar a par com os utentes, eu também já me emocionei.»

O período inicial do trabalho de voluntariado pode ser desafiante. «Tenho esta coisa de fixar as caras das pessoas e de as reconhecer. Logo quando comecei, ao fim de três semanas, reparei num casal, uma senhora alta e ele ligeiramente mais baixo, novos, à volta dos 30 anos. Ela tinha cabelo pelos ombros e cabelo forte. Passados 15 dias ou três semanas, olhei para aquela cara já sem cabelo. Aquilo foi um impacto para mim, tinha acabado de começar e pensei “eu hoje desisto, não sei se vou aguentar”, mas eu fico contente em servir.»

Heróis anónimos, os voluntários são diariamente recompensados por quem percebe a importância do seu trabalho silencioso. «Todos os dias temos agradecimentos a toda a hora. Enchemos o coração de muitos utentes quando os apoiamos com alguma coisa, às vezes basta dizer “a porta é ali”. Tenho uma pena grande de não estar aqui mais tempo porque sei que isto é fundamental para os utentes. O IPO reconheceu a nossa falta quando não pudemos vir e, se somos úteis, tem de cá estar alguém. Na última semana do ano, uma senhora chegou de ambulância, estava sem acompanhante, desamparada e se não for o voluntário que a pessoa tenha sorte de ter disponível para acompanhar, fica ali pendurada, sem saber para onde se virar.»

«Não sinto necessidade de estar aqui com protagonismo, não faz parte do meu ser. Sou chefe de dia, sou jovem e estou aqui a dar o meu tempo em vez de estar na empresa, sei que isto pode parecer diferente mas eu não ando aqui por isso. Estou a tirar o tempo do meu trabalho de boa vontade, venho para aqui para servir.»

Cidadãos Cool é uma série de reportagens sobre pessoas que estão a mudar Coimbra para melhor. Queremos ir atrás daquelas pessoas que fazem a diferença nas suas ruas, nos seus bairros, nas suas comunidades. 

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