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As trotinetes são uma boa alternativa?

O objectivo das operadoras de micromobilidade que disponibilizam trotinetes eléctricas partilhadas em Coimbra passa por reduzir a utilização do automóvel na cidade. Experimentámos, falámos com utilizadores, com as forças de segurança e com a especialista em mobilidade Anabela Ribeiro , que aplaude a ideia mas diz que ainda há um caminho a percorrer.

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Fotografia: Mário Canelas

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Não há-de haver nenhum habitante de Coimbra que ainda não se tenha cruzado com uma trotinete eléctrica nas ruas. Verde se for da Bolt (empresa que tem também na cidade o serviço de comida a casa, de carros e, mais recentemente, de bicicletas partilhadas) e preta se for da Bird, as duas operadoras de micromobilidade que têm trotinetes eléctricas partilhadas disponíveis por toda a cidade há mais de um ano. Segundo dados da Câmara Municipal de Coimbra, desde Fevereiro de 2021 (altura em que o serviço foi retomado na cidade) já foram usadas por 66 640 pessoas, num total de quilómetros percorridos de 883 mil. Todos os meses, são feitas cerca de 22 mil viagens. 

As operadoras que actuam em Coimbra querem que a sociedade veja as trotinetes eléctricas como uma boa alternativa ao automóvel, mas tanto elas como especialistas em mobilidade admitem que há ainda factores a melhorar, como a segurança e a fiabilidade do sistema. Recentemente, os veículos entraram no programa de incentivos estatal do Fundo Ambiental, no qual há apoios para a compra de veículos eléctricos, tendo os interessados em comprar trotinetes ajuda até 500 euros.

Presenciámos algumas das cerca de 22 mil viagens que são feitas mensalmente. Duas delas por Diogo Marques, um enfermeiro que encontrámos a trocar de trotinete no Parque Verde do Mondego, na margem esquerda. «Uso com frequência, andando por várias zonas da cidade», admite. Apesar de considerar a velocidade máxima boa, gostava que «os veículos tivessem mais potência», entende. Uns minutos depois chegam Tomás Silva e Inês Cardoso, estudantes da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, que confessam usar o veículo com alguma frequência. «Gastamos uns cinco euros por mês, talvez um pouco mais. Fazemos percursos até ao Fórum ou até à Praça da República», aponta Inês. Tomás gosta de andar de trotinete, mas gostava que o preço baixasse um pouco, admite entre risos.

A óptica do utilizador

Nos dados que nos foram fornecidos pela Câmara Municipal de Coimbra, reparamos que a viagem média é de cerca de 10 minutos, sendo a distância média percorrida por viagem de 2,21 quilómetros. É o tipo de viagem que faz Énio Simões, estudante de Design e Multimédia com quem falámos. «Vou muito para o centro da cidade e para as aulas, quando já estou atrasado», conta. Já o também estudante Francisco Cruz revela que usa muito a trotinete para atravessar as margens do Rio Mondego, indo de Santa Clara até à zona da Portagem com frequência.

«Estamos a tentar acelerar o processo de maturidade dos utilizadores. Tem de haver educação das pessoas para que saibam qual é o comportamento correcto e, com a normalização destas operações, as pessoas vão aprendendo.»

Mark Mollet, director de operações da Bolt em Portugal

Resolvemos experimentar. É preciso ter internet. Instalámos as aplicações da Bird e da Bolt e em ambas apareceu o mapa da cidade com a indicação da localização das trotinetes que nos estão mais próximas e disponíveis, graças ao sistema de localização, bem como a bateria que ainda têm. Na aplicação da Bird, temos de adicionar uma forma de pagamento, e somos avisados de que pagamos 1€  para começar e depois 0,20€ por minutode utilização do veículo. No caso de nunca termos utilizado, podemos escolher o modo principiante, em que a aceleração é mais suave. Nos menus, podemos aceder às recomendações de segurança.

Na aplicação da Bolt, ao escolher a opção «2 rodas» (onde se inserem as trotinetes), seleccionamos o veículo mais próximo, sendo-nos informado o número de quilómetros que a bateria ainda aguenta. Temos ainda de adicionar um método de pagamento, associando uma conta bancária somos informados de que o desbloqueio é gratuito e a circulação fica a 0,14€  por minuto.  A aplicação permite reportar problemas e activar o modo iniciante, com  velocidade limitada a 15 km/h. Normalmente as trotinetes circulam a 25 km/h.

Segurança é prioridade

Para este tipo de veículos ter maior procura, as operadoras consideram ser necessária maior segurança, quer dos equipamentos quer dos utilizadores. Na parte dos equipamentos, esta tem vindo a ser trabalhada nos últimos tempos. «A segurança é uma prioridade número 1 para a Bird e continuamos a inovar para assegurar a melhor experiência aos utentes das estradas. Além do sistema para evitar a condução em calçadas, lançámos zonas de segurança que vão um passo além das zonas comuns de restrição de velocidade, concentrando-nos noutros locais com um elevado número de peões, tais como escolas, parques, ou centros comerciais».

Quem o diz é o representante da Bird em Portugal, Bernardo Janson, completando que, nessas zonas, as trotinetes reduzem automaticamente a velocidade máxima para 13 km/h e enviam um aviso ao telemóvel do utilizador explicando a razão para esta redução de velocidade. «As áreas serão visíveis na aplicação Bird, onde os utilizadores poderão planear os seus percursos tendo em conta estas zonas», conclui.

Em relação à Bolt, e apesar de os nossos contactos não terem tido sucesso, assistimos a um seminário de Mark Mollet no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, a 21 de Abril, onde o director de operações da empresa em Portugal, definiu a segurança e o estacionamento como dois dos grandes desafios. Em relação ao estacionamento, os equipamentos têm já uma tecnologia de inteligência artificial, na qual o motor de inteligência artifical lê a fotografia tirada pelo utilizador e, se ficar mal estacionada, este recebe uma notificação com dicas. «No futuro haverá penalizações e proibição de utilizadores reincidentes», admite. Para os horários tardios (entre as 23 horas e as 6 da madrugada), os veículos têm um teste de velocidade de reacção para detectar a embriaguez dos utilizadores. «Se não passarem é recomendado que chamem um dos nossos carros», revela o director.

«Os modelos de negócio nem sempre são eficientes na recolocação e recolha, e os equipamentos nem sempre estão disponíveis no centro. Isso inviabiliza que as pessoas usem trotinetes para ir de casa para o trabalho, porque não são ainda fiáveis»

Anabela Ribeiro, investigadora do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

Os equipamentos da Bolt têm também um sensor de peso, que permite perceber se está mais do que uma pessoa a utilizar a trotinete, bem como se esta está a ser usada por um menor. No caso da Bird, Bernardo Janson admite estarem a ser trabalhadas tecnologias nesse sentido, de modo a fornecer uma solução automatizada. O mesmo se passa em relação ao estacionamento. «Há ainda muito para fazer e estamos a trabalhar em novas soluções tecnológicas para permitir um estacionamento preciso. Estamos também a propor o estacionamento obrigatório nas cidades onde operamos, ou seja, obrigando os nossos utilizadores a estacionar em locais específicos», aponta.


Quanto à segurança promovida pelos utilizadores, os responsáveis de ambas as operadoras reconhecem haver ainda caminho a percorrer, sobretudo relacionado com o facto de o serviço de trotinetes eléctricas partilhadas ser um meio de transporte recente. Nos seus sites, bem como nas aplicações, são disponibilizadas dicas de segurança, mas ambos admitem que nem sempre são totalmente cumpridas. «Estamos a tentar acelerar o processo de maturidade dos utilizadores. Tem de haver educação das pessoas para que saibam qual é o comportamento correcto e, com a normalização destas operações, as pessoas vão aprendendo», defende Mark Mollet.

Bernardo Janson alinha pela mesma ideia, sublinhando que «a micro mobilidade é uma indústria muito nova e ainda estamos na nossa fase embrionária». Pela sua experiência, o director de operações da Bird em Portugal conta que há sempre alguns meses de aprendizagem dos utilizadores quando o sistema chega a uma cidade. «Graças aos esforços que fazemos na promoção de acções pedagógicas e à tecnologia que fornecemos para melhorar o estacionamento, os nossos utilizadores estão a proceder melhor», considera.


Segundo os dados que nos foram facultados pela Polícia de Segurança Pública de Coimbra, e apesar de não os ter quantificados, as principais infracções dos utilizadores de trotinetes eléctricas são a circulação nos passeios ou zonas destinadas a trânsito de peões, o transporte de mais que uma pessoa, o desrespeito pela sinalização luminosa, a utilização de telemóvel durante a condução e a circulação em sentido oposto à circulação rodoviária. Tem também registados alguns acidentes, na sua maioria quedas, tendo sido necessária assistência hospitalar.

«Uma das máximas da empresa é gerar emprego nas cidades onde estamos localizados. É por isso que as nossas equipas de operações são empresas locais, com profundo conhecimento da cidade onde estão localizadas. Essa forma de operar tem-se revelado muito eficaz, para além de gerar valor local para cada cidade.»

Bernardo Janson, representante da Bird em Portugal

Apesar de não ser obrigatório, a Polícia recomenda aos utilizadores o uso de capacete. Quanto às regras, a PSP remete para o Código da Estrada, lembrando que «as trotinetes com motor elétrico, são equiparadas a velocípedes, pelo que os respetivos condutores são obrigados a cumprir com as normas previstas no Código da Estrada  e no Regulamento de Sinalização do Trânsito (RST), das quais se destaca o cumprimento das regras de condução previstas no Artº. 90º do CE.

Segundo o Código da Estrada, os velocípedes podem circular paralelamente numa via, excepto em vias com reduzida visibilidade ou sempre que exista intensidade de trânsito, desde que não circulem em paralelo mais que dois velocípedes e tal não cause perigo ou embaraço ao trânsito. Está ainda escrito que os condutores de velocípedes devem transitar pelo lado direito da via de trânsito, conservando das bermas ou passeios uma distância suficiente que permita evitar acidentes.

Trabalho permanente

Para os veículos estarem disponíveis nas devidas condições, há um trabalho feito por dezenas de pessoas por parte das duas operadoras. No caso da Bolt, são 17 os trabalhadores em Coimbra, para além de dois mecânicos. No terreno, há dois turnos de trabalho: um das 5 da madrugada até ao meiodia e outro das 17 horas até à meia-noite. Estes dois turnos são responsáveis pela recolha de veículos, troca de baterias e verificação de danos. Das 8 às 16 horas, há um outro turno no exterior de detecção de trotinetes mal estacionadas. Nesse período, estão os mecânicos na oficina para manutenção dos veículos.

Na Bird, o trabalho é feito com o apoio de empresas locais. «Uma das máximas da empresa é gerar emprego nas cidades onde estamos localizados. É por isso que as nossas equipas de operações são empresas locais, com profundo conhecimento da cidade onde estão localizadas. Essa forma de operar tem-se revelado muito eficaz, para além de gerar valor local para cada cidade», descreve Bernardo Janson.

Especialista alerta para fiabilidade

De modo a compreender a integração das trotinetes na mobilidade de uma cidade, falámos com Anabela Ribeiro, investigadora do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que admite que é uma solução interessante, no entanto com algum caminho pela frente. «Todas as alternativas ao transporte privado são interessantes. Quando se conseguem suprimir viagens de automóvel é sempre muito bom», entende a investigadora, complementando com uma intervenção que ouviu do presidente da Câmara Municipal de Helsínquia, na Finlândia, que disse não colocar nenhuma restrição a esse tipo de serviço porque quer que as pessoas evitem o carro.


Apesar de ver como positivo o sistema de trotinetes, Anabela Ribeiro admite que ainda tem de ser optimizado até ser uma verdadeira alternativa ao transporte particular. «Os modelos de negócio nem sempre são eficientes na recolocação e recolha, e os equipamentos nem sempre estão disponíveis no centro. Isso inviabiliza que as pessoas usem trotinetes para ir de casa para o trabalho, porque não são ainda fiáveis», admite.

A investigadora apela ainda à existência de estações fixas neste tipo de transporte, o que o tornaria mais fiável. «Não ter estação fixa torna-o mais flexível, mas traz problemas de gestão do sistema e de fiabilidade para os utilizadores, que não sabem a que distância estão dos equipamentos», entende.

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