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As boleias já são o presente e estão no futuro da mobilidade sustentável

Do erguer do polegar à beira da estrada, os pedidos de boleia passaram para plataformas e redes sociais na Internet, inclusive canais mais privados como o grupo de Susana Oliveira no Whatsapp. Há quem admita ter algumas reservas no que toca à segurança, mas Álvaro Ribeiro desenvolveu uma tese que pode resolver essa reticência.

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Fotografia: João Campos, Isaac Mehegan, Jan Baborák

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Há já alguns anos que Susana Oliveira usa plataformas de boleias para se deslocar, sobretudo através das redes sociais. Há cerca de 2 anos e meio, passou a ser ela a ceder lugares no carro nas suas habituais viagens entre Lisboa e Coimbra, para partilhar custos. O sucesso foi tanto que nasceu o «Uber da Susy», um grupo privado do Whatsapp com 25 membros, que  se tornou também um espaço de amizade e de partilha.

«Consigo quase sempre encher o carro, agora só recorro aos grupos do Facebook quando tenho uma vaga», conta-nos Susana Oliveira, formadora do Grupo Nabeiro em Lisboa, que viaja quase todos os fins-de-semana, transportando pessoas para as zonas de Coimbra, Cantanhede e Bairrada. «Ao longo destes dois anos e meio acabámos por nos ir conhecendo e fazendo amizades, então as nossas viagens já são momentos de diversão», aponta Susana.


A verdade é que as boleias de Susana Oliveira têm conquistado as pessoas. É o caso de Renata Ribeiro, oriunda da zona de Coimbra mas a trabalhar em Lisboa.. Desde  o início da pandemia que a psicomotricista (profissional que estuda problemas motores ligados a comportamentos) é utilizadora do «Uber da Susy», mas já há muito tempo que recorre às boleias. «Fui estudar para Lisboa há 10 anos e comecei a usar. Na altura fazia por ir com pessoas conhecidas ou amigos de amigos, porque não me sentia muito à vontade em confiar duas horas de viagem a um estranho», relata. Agora, faz por viajar, pelo menos uma vez por mês, com Susana Oliveira, até porque moram próximo uma da outra na capital.

Rui Rodrigues é investigador na área das Neurociências e um utilizador regular dos sistemas de boleias na Internet há 7 anos, sejam as redes sociais, seja o Bla Bla Car, um site exclusivo para boleias que tem 90 milhões de utilizadores em todo o Mundo, espalhados por 22 países. Em Portugal, estima-se que haja cerca de meio milhão de pessoas inscritas. «Uso as redes sociais, sobretudo os grupos de Facebook ligados às boleias. Ainda usei o Bla Bla Car, mas só surtiu efeito uma vez. Das outras vezes que tentei acabei por não conseguir com quem ir», revela, completando que dá primazia às boleias em relação ao transporte público. «É mais flexível em termos de horários», considera.

Desde que deixou Coimbra rumo a Viseu para estudar no ensino superior que Lisa Sebastião também dá prioridade às plataformas de boleias, opção que manteve quando foi trabalhar para Lisboa. Lisa é membro do «Uber da Susy» e considera o sistema vantajoso. «Para além de ser mais flexível, é muito melhor do que ir sozinha no autocarro no meio de 50 pessoas», aponta. Conhecer a condutora também é uma vantagem. «É muito importante, dá-nos outra segurança», defende.

Tornar as boleias mais seguras

Todos os utilizadores das boleias como forma de se deslocarem entre cidades nos falaram na importância de viajar com pessoas conhecidas, nomeadamente os condutores. Foi a pensar nessa necessidade de confiança que, em 2014, Álvaro Ribeiro, na sua tese de mestrado em Engenharia Informática na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, propôs a criação de uma plataforma que tornasse as boleias mais seguras: o MoCaS Web. Falámos com o autor, actualmente a trabalhar em Lisboa, que considerava a plataforma como «o Uber das boleias».

Através do site ou da aplicação móvel MoCaS Web, o utilizador começaria por fazer uma pesquisa pela origem e destino que pretendesse, se desejava ou não viajar com fumadores e que desvios estariam dispostos a fazer em cada viagem. Numa segunda página, apareceriam os resultados dessa pesquisa e, depois de seleccionada a viagem pretendida, era possível ver os locais de paragem da viagem, a indicação da auto-estrada que seria utilizada, os possíveis desvios espaciais e temporais para tornar as viagens mais flexíveis para quem se pretendesse associar, informação sobre o condutor e sobre o veículo, preferências do condutor, mapa com o percurso da viagem e indicações como a classificação do veículo e do utilizador, preço e número de lugares disponíveis.


Na sua tese, Álvaro explicava  que a diferença estaria na classificação dos utilizadores. «É através das classificações atribuídas por cada utilizador que é possível garantir um melhor e mais fiável serviço a cada passageiro ou condutor. Na gestão de classificações é possível a cada utilizador ver as classificações por atribuir, as classificações enviadas e recebidas e, a qualquer momento, tem ainda a possibilidade de alterar classificações já atribuídas.». Entre os parâmetros avaliados estariam a pontualidade, flexibilidade e condução, e outros três níveis para o veículo, avaliando o seu conforto, consumo e bagageira, havendo ainda espaço para um comentário adicional à avaliação, para um maior detalhe na sua experiência nos serviços partilhados.

Na conclusão desse trabalho, Álvaro Ribeiro considerava que «o sistema é inovador pois não há nenhum semelhante no mercado, possui um website simples e fácil de utilizar, tem uma grande abrangência na preparação de uma viagem, pois tem várias parametrizações que podem fazer a diferença na correspondência de condutores e passageiros, como as preferências de permissão de fumar, se o utilizador conversa durante a viagem, se há alguma flexibilidade temporal e espacial».

O autor defendia ainda que o MoCaS Web poderia fomentar o interesse pelos sistemas de boleias. «Este sistema é bastante completo na medida em que é suportado por um website e uma aplicação móvel, permitindo assim ser utilizado em todo o lado desde que se possua um dispositivo com ligação à Internet e também pelo uso da marcação em tempo-real, que irá permitir uma maior oferta de serviços visto que os pontos de paragem do condutor para ir buscar um passageiro podem ser dinâmicos», descrevia.

A plataforma acabou por não ser desenvolvida. «Na altura, não houve nem interesse por parte da Universidade nem de outra entidade em financiar. Outro aspecto que ajudou a isso foi o facto de não haver tantos eventos como hoje em dia, onde pequenas ideias como essa podem ser apresentadas a um conjunto de investidores», afirma Álvaro Ribeiro.

Óptica do utilizador

Segundo os utilizadores com quem falámos, os grupos de boleias do Facebook e a plataforma Bla Bla Car são os mais utilizados quando se trata de procurar transporte e companhia para as viagens. Para além dos cerca de 500 mil utilizadores do Bla Bla Car, os grupos de boleias entre Lisboa e Coimbra rondam os 16 mil membros, enquanto o grupo Boleias Portugal tem 20 mil. Outras plataformas disponíveis são o Boleia.net (actualmente com cerca de 13 mil utilizadores no país), o Carpoolworld.com (com 780 mil utilizadores registados em todo o Mundo) e o Europe-carpooling.com, destinado a viagens pela Europa, que tem, na plataforma portuguesa, 11 mil registos. Já existiram outros sites, como o Deboleia.net e o GalpShare, que não estão actualmente em funcionamento.

Fizemos a experiência e pudemos constatar que apesar de prático, o sistema apresenta constragimentos. Experimentámos inscrever-nos num grupo de Facebook (Boleias: Lisboa-Coimbra e Coimbra-Lisboa)  e procurar uma boleia para Lisboa e registámo-nos na plataforma Bla Bla Car. No Facebook, não conseguimos uma viagem conveniente ao nosso horário, mas no site encontrámos várias opções. Escolhemos origem, destino e dia e encontrámos uma viagem Cernache-Lisboa com o custo de 10 euros e partida a uma hora conveniente. Entrámos em contacto com o condutor. Para o regresso, encontrámos também uma viagem Lisboa-Cernache a 12 euros. Fizemos o pagamento online, num total de 22 euros para ir e vir de Lisboa. As opções mais económicas que encontrámos  de autocarro ou comboio rondavam os 30 euros. No entanto, acabámos por não obter confirmação da primeira boleia e o próprio condutor recusou a segunda, por já ter o carro cheio. O pagamento feito online foi-nos devolvido. 


Anabela Ribeiro, professora e investigadora do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, considera que a partilha de automóveis é uma das práticas de futuro da mobilidade urbana. «É muito vantajoso e enquadra-se na mobilidade do futuro, com o transporte a ser cada vez mais partilhado. O conceito de posse de veículo é considerado fonte de despesas e chatices», considera.

Para a especialista, o sistema de boleias representa uma dupla poupança: em termos individuais, com a redução de despesas em transporte, e em termos colectivos no que toca ao espaço na cidade, reduzindo o congestionamento provocado pelos carros estacionados.

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