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Monte Formoso: boas ideias para semear e colher

Todos podemos participar nesta revolução verde e inspiradora. Subimos ao Monte Formoso para conhecer as ideias desembaraçadas com que a Associação de Moradores pretende tornar o bairro ainda mais formoso, tendo criado um prado comunitário e propondo outros conceitos pioneiros e exemplares.

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Fotografia: Mário Canelas

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Um monte coberto de um denso e extenso olival, recebia pachorrento quem se avizinhava de Coimbra vindo de norte. Alguém lhe chamou de formoso e o nome ficou, criou raízes, a celebrar um ideal de beleza e o desejo de ter casa à vista da cidade: Monte Formoso. Foi urbanizado a partir de 1963, e para aqui vieram dezenas de famílias, outras tantas dezenas aqui se fizeram, fazendo crescer uma comunidade ao redor de um templo e ligada por ruas com nomes de cidades de todo o mundo, num ímpeto de homenagem a quem desbrava um terreno agreste, nele ergue o seu abrigo e dele faz casa.

Catarina Maia, que se mudou para aqui em 2020, já se sente como uma verdadeira bairrista. Recebe-nos no seu jardim no avesso do bairro, preenchido de plantas e flores vindas de todos os cantos do mundo. Define-se como «profissional da jardinagem amadora», trauteia de cor os nomes científicos de arbustos, plantas e flores que a vista alcança e comenta sobre este seu recanto verde: «Sabes quando se diz que só se sente a falta de algo depois de o perder? Comigo aconteceu justamente o contrário, só me apercebi da falta que me fazia um jardim depois de o ter. Já não me imagino sem este contacto directo e quotidiano com a natureza». 

Monte Formoso já tem um prado comunitário

Com o apoio da Associação de Moradores do Monte Formoso (AMMF) e da União de Freguesias de Eiras e São Paulo de Frades (UFESPF), Catarina decidiu criar um prado silvestre num terreno público na Rua Cidade de Salamanca, no limiar norte do bairro, a um passo de sua casa. Mas esta é apenas uma das muitas acções que compõem um ambicioso projecto ambiental chamado Monte + Formoso, de que a Catarina é uma peça fundamental. Propõem-se diversas ideias e conceitos relacionados com os espaços verdes do bairro, públicos e privados, que prometem compor-lhe a face. Segundo Catarina, «A AMMF tem feito um trabalho extraordinário ao longo de mais de mais de uma década para melhorar vários espaços do bairro.

«O objectivo principal desta acção é recuperar, valorizar e potenciar os espaços verdes do nosso Bairro, promover a consciência ambiental e envolver a comunidade»

Manuel Cruz, presidente da Associação de Moradores de Monte Formoso

A Associação estava já em contacto com o presidente da UFESPF, Luís Correia, para se fazer a limpeza de um terreno junto à Rua Cidade de Salamanca, um espaço que estava meio abandonado e desprezado. Eu vi ali o sítio ideal para a criação de um prado silvestre, amigo dos polinizadores, e para instalação de compostores comunitários. A questão do tratamento e valorização dos resíduos orgânicos é absolutamente central no processo de transição para um modelo de sociedade mais sustentável. Mas, para já, temos apenas o prado. Precisamos do apoio da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) para a compra dos compostores uma vez que o investimento ainda é algo avultado». 

Manuel Cruz, presidente da AMMF, complementa: «Todos os anos desenvolvemos projectos na área do ambiente. É uma área que costumamos privilegiar tendo em conta a sua importância para melhorar a vida no bairro. Mas desta vez trata-se de um projecto mais abrangente e com várias componentes, graças à participação e ao empenho da Catarina Maia, que avançou com ideias novas que estão a surpreender. O objectivo principal desta acção é recuperar, valorizar e potenciar os espaços verdes do nosso Bairro, promover a consciência ambiental e envolver a comunidade».


Do pequeno prado, abre-se todo um panorama sobre o vale do Loreto. Um punhado de oliveiras plantadas há uns anos pela AMMF estão aqui e além; despontam já algumas das setenta plantas cultivadas. «Ainda não há muito para ver», comenta Catarina, a recordar o exercício da paciência que a jardinagem ensina, «Plantámos algumas dezenas de coreópsis e cosmos, plantas muito resistentes e autosuficientes. Uma vez instaladas, elas acabam por se reproduzir sozinhas». 

E porquê um prado e não um jardim? Catarina responde que: «Havia também a ideia de se fazer um jardim comunitário, mas esses projectos, apesar de muito bem-intencionados, precisam sempre de manutenção, precisam de tempo e dedicação. Neste momento, penso que é difícil manter um grupo de pessoas com essa disciplina de cuidado, o risco de as coisas ficarem abandonadas é muito grande. Temos que começar devagarinho, passo-a-passo, para que as pessoas criem uma ligação com o espaço. Mas, por exemplo, se as casas em redor tivessem um sistema de recolha de água da chuva, isso já tornava a ideia mais viável, porque nós não vamos colocar aqui um sistema de rega. Nem nos interessa fazer isso em termos de sustentabilidade».

Surge a Dona Célia, uma vizinha que cede a água para regar as plantas do prado até que estas se estabeleçam e que também participa na conversa: «[O prado] ainda está no princípio. É bom para o bairro, precisamos de mais coisas destas». Outra moradora, Eugénia Sousa, ajuda: «Acho a iniciativa perfeita. [Facilita] a integração entre as pessoas, pela beleza e pelo interesse nas plantas. E isso faz com que se tomem outras providências, é o início de um movimento para tornar o bairro mais bonito. Acredito que sim, apoio totalmente». 

Varandas mais floridas 

Caminhamos pelas ruas e vêem-se muitas varandas floridas, dando sentido ao nome do bairro. Recentemente, a AMMF lançou a primeira edição do concurso Varandas + Floridas, a que concorreram 34 moradores. Aguarda-se a divulgação dos vencedores para o mês de Junho. 


Segundo Catarina, a iniciativa não é totalmente original, faz-se em Setúbal, Belmonte, Viana do Castelo, entre muitas outras localidades pelo país fora. «Eu gostava que este concurso servisse para sensibilizar as pessoas para a importância de cuidar do seu próprio espaço verde. Há também o desejo de alargar o âmbito do concurso para integrar as categorias de jardins e canteiros. Mas este alargamento pode ser um pouco mais complexo porque já envolve a administração de condomínios e outras questões burocráticas, mas é um objectivo! Entretanto, no final do ano passado, promovi um encontro de troca de plantas e sementes que correu muito bem. Acredito que através destas pequenas acções vamos criando um maior envolvimento cívico, um movimento sólido, com pessoas mais alerta, com mais vontade de participar na vida pública». 

Eugénia Sousa concorre com a sua varanda florida, e comenta: «Eu acho que é uma boa ideia, por levar a conhecer os vizinhos, pela comunicação entre pessoas, e também pela beleza que fica. Deixa as varandas bonitas e faz com que as pessoas se interessem mais pelos seus jardins, pela natureza».

Torres para andorinhas e hotéis de insectos

Catarina explica que, em complemento ao prado – que se quer ver alargado –, propõe-se a instalação de um hotel para insectos, três ilhas de compostagem comunitária e duas torres para a nidificação de andorinhas. Naquele momento espreita um bando de andorinhas, atarefadas e breves, como se escutassem a conversa. Catarina segue-as com o dedo e com o olhar até desaparecerem por detrás do prédio. «Aqui há muitas andorinhas», por contraste, estas aves praticamente desapareceram na aldeia onde cresceu, perto de Tentúgal.

As alterações climáticas e o uso intensivo de pesticidas na agricultura são algumas das razões possíveis para este fenómeno preocupante, mas também sabemos que estes animais causam algum desagrado por deixarem cair junto das habitações lama e outros detritos, o que por vezes leva à destruição dos seus ninhos. A ideia de criar uma ou duas torres de nidificação para andorinhas pode ser uma solução de compromisso. 

Catarina falou com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e com a FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, que manifestaram o seu apoio à iniciativa através do seu parecer positivo e lhe disseram não ter conhecimento da existência de torres destas em Portugal. «O modelo já foi testado com sucesso na Alemanha, Áustria, agora também em França. Junto ao Museu do Louvre, por exemplo, foi instalada em 2021 uma torre com 32 ninhos. Isto foi feito dois anos antes do início das obras de requalificação do Arco Triunfo, onde habitualmente nidificam as andorinhas, para que as aves possam ter tempo de adaptação. Do mesmo modo, eu tenho a noção de que se fizermos isto [no bairro], pode demorar anos até que as andorinhas se estabeleçam, mas, mais uma vez, é necessária paciência e capacidade de pensar a longo prazo». 

Já o projecto de instalação de um hotel para insectos, semelhante àquele criado por uma escola em Lousada ou no Jardim Botânico de Lisboa, quer responder de forma mais imediata à necessidade de criação de locais seguros para a atracção e fixação de insectos em meio urbano. Segundo Catarina, as verbas disponíveis para o Orçamento Participativo da UFESPF podem ser o trampolim desta iniciativa. 

Dificuldades e antecipações

No seu conjunto, os custos envolvidos na concretização desta acção ambiental são consideráveis, mas não demovem nem Catarina, nem a AMMF. Só a instalação dos compostores, por exemplo, pode chegar aos 6 mil euros. Em relação às torres, segundo a Catarina «não está a ser fácil encontrar carpinteiros para a sua execução. Pedi orçamento a uma empresa alemã que me disse que só seria viável com uma encomenda de 10 unidades. Estamos à procura de outras alternativas. A questão dos compostores está também em stand by porque são muito caros, eu não tinha ideia. É preciso esperar por um contexto melhor, quando voltarmos a ter programas de financiamento verde. Continuamos em contacto com a UFESPF e a CMC para que se invista onde é preciso: no futuro». 

«Acho que em Portugal ainda existe um certo estigma associado ao trabalho manual, a mexer na terra. Isso precisava de mudar. Gostava de contribuir um bocadinho para isso, porque nestes bairros mais antigos perdeu-se esse hábito.»

Catarina Maia, Associação de Moradores de Monte Formoso

Para Manuel Cruz, «o mais importante é ir à procura do financiamento necessário para a concretização do projecto. Nós agora vamos apresentar o projecto de uma forma mais robusta, a CMC e a UFESPF têm que ser parceiros privilegiados para viabilizarem este projecto. Há uma área definida que pode ser intervencionada, a CMC pode usar máquinas e meios, requalificando o terreno. Gasta dinheiro, mas não mexe em papel. Para a torre temos que ir à procura de financiamento. A CMC pode ter aqui uma oportunidade de liderar e de tomar este projecto como exemplo para outros locais».

Ideias a germinar

Manuel Cruz idealiza o prado de forma integrada, prolongando-o de modo a ligar-se ao Jardim do Monte Formoso, um espaço verde a duas centenas de metros para Nascente. «Podemos colocar casas para pássaros por aqui, juntando às torres das andorinhas. Temos [no bairro] um projecto educativo muito interessante, a Associação Milsorrisos, um jardim-escola que está na Mata de Monte Formoso. O projecto educativo deles é muito cá fora, as crianças mexem na terra, sujam-se, têm esse contacto com a natureza. Explorávamos aqui um espaço pedagógico, um centro ambiental, para articular com as crianças da escola».


Catarina pretende recuperar as trocas de plantas e sementes e tem também outras ideias que extravasam a geografia do bairro: «Gostava de ver replicado em Coimbra um projecto como os Jardins Abertos, em Lisboa. Eles fazem visitas guiadas a jardins públicos, mas também privados. É muito interessante. Em Coimbra existem alguns jardins privados que merecem ser conhecidos. Existem outros, como o da Casa de Saúde na Rua da Sofia, que deveriam ser recuperados e aproveitados. Para lá dos muitos estudos, é uma evidência empírica: o contacto com a natureza faz bem à saúde! O caso do Hospital de Cantanhede, que quer criar um jardim terapêutico no espaço envolvente ao hospital, é um exemplo a seguir no que toca à promoção da saúde mental e do bem-estar». 

Sejam a semente no vosso bairro

As pequenas acções vão acumulando e surtindo efeito, como refere a Catarina: «O fenómeno dos jardins comunitários, que está a acontecer um pouco por todo o lado, especialmente nas grandes cidades, sobretudo entre jovens cosmopolitas, reflecte a crescente preocupação com a sustentabilidade e um estilo de vida mais saudável. Acho que em Portugal ainda existe um certo estigma associado ao trabalho manual, a mexer na terra. Isso precisava de mudar. Gostava de contribuir um bocadinho para isso, porque nestes bairros mais antigos perdeu-se esse hábito. Tento aqui com os meus vizinhos, sem muito sucesso. Quando eu me mudei tinha [ali] uma nespereira enorme, maravilhosa, que o dono do prédio mandou cortar porque fazia “muito lixo”. Fiquei doente! Agora o espaço está completamente ao abandono. Eu sei que não é fácil com os horários que as pessoas têm, com filhos e mil e uma tarefas, mas também não existe essa cultura do cuidar dos espaços verdes. Os miúdos podiam começar a ganhar gosto, às vezes dou-lhes plantas, mas quando não há uma rotina, quando nas escolas não se fala disso, as pessoas crescem alheadas da natureza». 


Catarina conclui, desejando que este exemplo passe para outros bairros, que sirva para outras pessoas: «Eu gostava que as pessoas deixassem de olhar para [o seu jardim ou canteiro] como uma obrigação e começassem a olhar para isso como uma parte do seu dia-a-dia, um prazer e um investimento no seu próprio bem-estar. Depois desta experiência de confinamento, apesar de tudo, sinto que as pessoas vivem todas muito fechadas dentro de quatro paredes. Acredito que juntos podemos fazer mais pela nossa comunidade. Parece-me errado pensar que a responsabilidade pelo cuidado do espaço público é uma competência exclusiva dos poderes e instituições públicas. Também me parece errado que essas instituições não valorizem a iniciativa dos cidadãos. É preciso criar pontes de diálogo e depois passar à acção».

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