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Opinião | Se mais pessoas utilizarem estes meios de transporte, melhores condições teremos

Por Fábio Veríssimo Santos

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A bicicleta fez parte da minha vida desde sempre. Na Benedita, o gosto por pedalar foi em parte fomentado pelo meu pai e pelas voltas de bicicleta ao domingo à tarde. Teria cerca de 12 anos e, na altura, seriam pequenos percursos que para mim eram grandes aventuras. Com o passar dos anos e o meu crescimento a uma dúzia de quilómetros à volta de casa deixaram de ser suficientes, comecei a ambicionar pedalar cada vez mais longe, cada vez mais alto e cada vez mais depressa. Era uma forma de liberdade, poder ir onde queria pelos meus próprios meios. Subidas e descidas nunca foram um problema, morar a meio de uma subida de com cerca de 7% de inclinação média com zonas de 10%, fazia-me forçosamente ter de trepar para sair ou voltar a casa

A utilização da bicicleta como ferramenta de mobilidade urbana surgiu enquanto morei no Porto. Apesar de a rede de transportes públicos ser relativamente sólida (para as minhas necessidades), não justificava a compra e as despesas inerentes à posse de um automóvel, que seria apenas para utilização esporádica. Ainda considerei uma mota, mas, como um amigo me disse, ia molhar-me na mesma. Assim, a bicicleta ressurgiu como a opção que dava flexibilidade às minhas deslocações.

Em 2010, não havia muitas ciclovias na cidade e as existentes não eram úteis para a locomoção urbana. Em deslocações urbanas, semanalmente fazia cerca de 55 km. De dia e de noite, com sol e com chuva. Desde cedo, percebi que bastaria a indumentária adequada para me molhar menos do que a pé com guarda chuva. Na altura, os preços das bicicletas eléctricas eram proibitivos. A mudança para Coimbra trouxe também uma alteração na conjuntura familiar. Temos um automóvel na família, é utilizado maioritariamente para as deslocações maiores. Cheguei a usar o comboio com frequência, pedalava de manhã cedo para Coimbra B e fazia o caminho inverso à noite. Era canja laranja, nunca perdi um comboio. Agora, a trabalhar e morar em Coimbra, consigo fazer todas as minhas deslocações a pé ou de bicicleta.



Utilizar a bicicleta enquanto principal modo de locomoção urbana tem praticamente os mesmos problemas, vantagens e desvantagens em qualquer um destes locais mencionados. Um dos problemas é a falta de segurança dos locais onde por vezes temos de deixar as bicicletas. Já fui furtado mais do que uma vez, tenho amigos a quem foram furtadas bicicletas e já me furtaram peças de bicicletas. Relativamente à circulação, é necessário salientar que qualquer espaço de partilha está
sujeito a ser um espaço de conflito. A polis é, na sua génese, um local de partilha, confiança, discussão e conflito. Como ferramenta para mitigar este conflito entre os vários modos de locomoção, são utilizadas muitas vezes as ciclovias. Contudo estas parecem muitas vezes surgir nas cidades mais como «obra pública a ser inaugurada» e/ou obra para aparecer nas campanhas eleitorais como «quilómetros construídos».

Considero que hoje deveríamos reflectir se não seria muito mais rentável e fácil para todos, tornar as ruas mais seguras e (re)colocar as bicicletas junto dos automóveis.


Embora este tipo de ciclovias promovam, sem sombra de dúvidas, a actividade física parecem carecer de estratégias urbanas de locomoção e promoção de alteração de hábitos de mobilidade. À falta de estratégia, adiciona-se um desenho e uma sinalização propícia a situações desconfortáveis entre utilizadores. A título de exemplo, olhemos para as ciclovias integradas nos passeios, como temos aqui em Coimbra, e muitas vezes precedidas do sinal D7f. O sinal D7f — redondo, azul, com uma bicicleta e duas pessoas, divididas com uma linha — torna obrigatória a utilização da faixa para velocípedes por estes. Desta forma, os velocípedes são forçados a circular no mesmo lugar onde muitas vezes circulam, errada e erraticamente, pessoas — quer a correr, quer a andar, com ou sem carrinhos bebés e crianças, que andam com os pais a passear de bicicleta.


Embora a escolha dos pões seja errada, a utilização é compreensível, uma vez que o piso da ciclovia é muito mais agradável, menos acidentado e muito menos escorregadio nos dias de chuva do que a calçada de calcário. Contudo, transporta-nos de novo para o problema do conflito mas desta vez entre peões e velocípedes. De salientar que fico sempre desconfortável ao ver ciclistas a pedalar em cima
do passeio. Considero que hoje deveríamos reflectir se não seria muito mais rentável e fácil para todos, tornar as ruas mais seguras e (re)colocar as bicicletas junto dos automóveis. Se atentarmos que cada vez mais pessoas usam trotinetes e bicicletas eléctricas (que facilmente atingem os 25km/h), poderá ser mais importante diminuir a velocidade máxima dos automóveis para 30 km/h dentro das cidades, e fazer da faixa de rodagem um espaço de partilha mais seguro.

Embora este tipo de ciclovias promovam, sem sombra de dúvidas, a actividade física parecem carecer de estratégias urbanas de locomoção e promoção de alteração de hábitos de mobilidade. À falta de estratégia, adiciona-se um desenho e uma sinalização propícia a situações desconfortáveis entre utilizadores.


Com uma rua mais segura, mais pessoas se poderiam sentir motivadas a deixar o automóvel em casa e optar por outras soluções de mobilidade que nos permitam ter uma cidade com ar menos poluído e com menos ruído, uma cidade mais limpa e mais saudável, dar um pequeno passo na descarbonização dos transportes e até mesmo reduzir o trânsito automóvel para quem tem obrigatoriamente de se deslocar de carro. E é sempre bom lembrar que a Organização Mundial de Saúde recomenda de 150 a 300 minutos de actividade física moderada semanal, com vista à saúde e bem-estar. Se pedalarmos ou
caminharmos 30 minutos por dia, no final da semana são 150 minutos. Contudo, e como nem tudo é mau nem conflito, tenho sentido em Coimbra cada vez mais pessoas a pedalar e uma grande e favorável adaptação dos condutores aos ciclistas. No meu caso tenho sentido que as tangentes são cada vez menos, e a paciência dos automobilistas tem aumentado.



Das estratégias que fui construindo ao longo dos anos para utilizar a bicicleta como meio de transporte principal, aponto:

  • Numa bicicleta urbana: luzes sempre funcionais, que circulemos de noite (idealmente também com um colete reflector). Pára lamas, para que a estrada molhada não nos suje. Campainha, para que possamos alertar algum peão distraído. E, por último, um sistema de porta cargas, porque nunca se sabe quando precisamos de parar na mercearia para trazer qualquer item em falta em casa. Um espelho retrovisor é uma boa adição ao conjunto e ajuda-nos a compreender a envolvente, sem ter de olhar para trás.
  • É necessário salientar que o código da estrada prevê a ciclovia que seja de utilização preferencial e que preferencial não significa obrigatório. Quando pedalamos a 30km/h, estamos mais próximos mais das velocidades dos automóveis do que dos peões.
  • Agora que temos uma bebé na família, adquirimos um reboque de bicicleta para levá-la connosco sem ter de utilizar o automóvel. A questão da segurança é extremamente pertinente e está no topo das preocupações. Assim, procuro ir sempre por locais o mais seguros possível, mas sou também obrigado a confiar nos automobilistas, que me vão respeitar enquanto utilizador da faixa de rodagem. Também com este reboque foi possível transportar itens maiores sem ter de levar o automóvel.
  • Para a chuva, é essencial ter um sistema impermeável, seja um capote ou um conjunto de calças e casaco, uns óculos transparentes são também uma boa adição ao kit da chuva.
  • Eu gosto de ter numa pequena bolsa uma barra de cereais e uma luvas de látex, no verão levo também um bidon de água na bicicleta. Quando faço deslocações maiores e/ou em família, levo sempre uma câmara de ar extra, bomba de ar e o mini kit multiferramentas. Como sabemos estar prevenido/a vale por dois/duas.
  • Procuro usar sempre capacete quando pedalo. Sinto-me como se estivesse nu sem capacete. O seguro é opcional, mas normalmente morre de velho.
  • Por último, considero importante conhecermos a nossa bicicleta e saber alguns conceitos básicos de mecânica da mesma. A manutenção é um aspecto importante para quem usa a bicicleta diariamente, convém manter as mudanças e travões afinados. Em Coimbra temos várias lojas/oficinas de bicicletas por onde escolher, nelas os mecânicos podem ajudar-nos a manter as bicicletas seguras e em boas condições.

Hoje em dia, nos dias em que não consigo usar a bicicleta ou fazer qualquer tipo de actividade física sinto que são dias extremamente sedentários, em que apenas alternei da cadeira da mesa para o assento do automóvel e para o assento do trabalho, repetindo em ordem inversa ao final do dia. O maior benefício começa aí: na nossa saúde. À saúde, junta-se a poupança que sentimos na carteira ao reduzirmos o número de quilómetros e o número de utilizações do automóvel. Respeitando as regras do senso comum, posso deixar a bicicleta em quase qualquer lado e no trabalho tenho sempre lugar de estacionamento. E o melhor de tudo: quando alguém quer começar usar a bicicleta como meio de transporte, pergunta-me como é.

Como nem tudo é mau nem conflito, tenho sentido em Coimbra cada vez mais pessoas a pedalar e uma grande e favorável adaptação dos condutores aos ciclistas. No meu caso, tenho sentido que as tangentes são cada vez menos e a paciência dos automobilistas tem aumentado.



A cidade será obrigada a responder às necessidades dos seus habitantes, se mais pessoas utilizarem estes meios de transporte, melhores condições teremos. As ciclovias têm problemas, basta usar com o intuito de as usar fora do contexto de lazer. Espero que os veículos do Metro Mondego tenham espaço para as bicicletas, e que quem quiser/precise da sua bicicleta para complementar a sua deslocação o possa fazer. Conto ainda que os arranjos urbanos na operação da Metro Mondego tenham em vista o melhoramento das condições de mobilidade de todos e que possamos ajudar a cidade a tornar-se melhor.



Fábio Veríssimo Santos é arquitecto, fotógrafo, triatleta.

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