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Antigas profissões em Coimbra

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A loja de Palmira Baptista

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Os ofícios de conserto, restauro e retoque

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Ainda podemos ir ao retocador e à modista em Coimbra

Há profissões que também são vintage, além de boas aliadas da sustentabilidade. Apresentamos Babo Ribeiro, Maria do Céu Ferreira, Paulo Pinto e Palmira Baptista e os seus ofícios, que não têm data de validade mas estão em vias de extinção.

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Fotografia: Mário Canelas

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Antigas profissões em Coimbra

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A loja de Palmira Baptista

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Os ofícios de conserto, restauro e retoque

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A linha do tempo das profissões tem vida própria e nela cabem imensas vidas. Uma cidade só se iluminava à noite quando o acendedor de candeeiros subia e descia a cada poste, o leite era trazido à porta de casa pelo leiteiro, um chapeleiro tinha sempre imenso trabalho. Cada geração testemunha nascimentos e mortes de alguns ofícios, alguns desaparecem ou perdem importância com o tempo, outros resistem e persistem.

Ainda se ouve em Coimbra (cada vez menos) a gaita de um amolador e ainda é possível (mas quase ninguém está interessado) dar nova vida a um casaco numa tinturaria. Ouvimos as histórias de uma modista, um sapateiro, uma restauradora de livros e um retocador de fotografias, para lançar o desafio de valorizar fazeres e saberes e saber como estão os negócios de antigas profissões em Coimbra.

O alto preço da venda de imóvel que arrendava, levou o sapateiro Paulo Jorge Correia Pinto a sair da loja que mantinha por 19 anos em Celas e o empurrou para dentro de casa, onde montou uma oficina em Senhor da Serra, na freguesia de Semide, Miranda do Corvo. Os antigos vizinhos lojistas agora recebem e guardam os sapatos dos clientes, e Jorge tenta entender por telefone qual o conserto a fazer: «O dono do café e a dona da loja de tratamentos estéticos fazem-me o favor de passar meu número de telefone aos clientes que ainda perguntam por mim. Venho buscar os sapatos uma vez por semana, conserto-os e entrego na semana seguinte. Fico sentado numa esplanada, que faço de balcão de trabalho», lamenta Jorge, enquanto responde a uma mensagem de uma cliente que quer saber sobre uma sandália. Assim como o sapateiro Jorge, estes resistentes de ofícios antigos lutam para não desaparecer.

A restauradora e o retocador

Em Maio de 2011, nascia em Coimbra uma loja que restaurava livros, a Chronospaper. Ficava na rua da Alegria, depois Praça do Comércio e ainda na rua Adelino Veiga. Sobreviveu por dez anos. A idealizadora estudava encadernação, conservação e restauro de documentos gráficos e acreditava no potencial da cidade: «Coimbra é a cidade do conhecimento, muito embora, com muita pena minha, esse conhecimento não seja suficiente para garantir o apoio consistente ao comércio tradicional e seus ofícios artesanais», critica Maria do Céu Ferreira, a restauradora que aponta a importância de ser neta de oleiros, costureiras e crocheteiras para a criação do negócio.


Ficou difícil manter a loja na Baixa de Coimbra e, em 2021, Maria do Céu levou a Chronospaper para a casa onde o marido e as duas filhas a ajudaram a transferir o negócio para o ambiente digital, aceitando encomendas e atendimentos por marcação. Hoje criam um novo projeto para a partilha de conhecimento dos ofícios tradicionais: «O apoio ao setor cultural e ao comércio tradicional tem vindo a decrescer substancialmente em Coimbra e esta falta de apoio vem, não só das instituições, mas também dos próprios habitantes da cidade. Coimbra está a precisar de maior união e convivência entre a Alta (a Coimbra da Universidade e dos seus doutores) e a Baixa, e esta maior harmonia entre as duas teria um impacto significativo», acredita a restauradora.

Maria do Céu chama a atenção para o valor associado aos ofícios tradicionais: «Saber conservar e restaurar livros não se aprende de um dia para o outro, à semelhança de muitas outras profissões, artífices, como eu, investem em formação constante sobre técnicas, materiais e processos para poder prestar os melhores serviços aos seus clientes. As pessoas deveriam pensar melhor antes de questionarem o valor de trabalhos artesanais da mesma forma que pouco questionam o preço de uma consulta de especialidade», desafia.

«Desculpa o meu desabafo Sr. Babo, nem imagina o quanto feliz e grata estou de o senhor ter conseguido salvar a fotografia do meu falecido pai. As minhas lágrimas lavam-me o rosto… estou muito agradecida, Deus o abençoe e o proteja ao lado da sua família», escreveu, na semana passada, uma cliente de Babo Ribeiro, fotógrafo e retocador com loja na Torre do Arnado, ininterruptamente, desde 18 de Março de 1988. Começou no mundo da fotografia aos nove anos, no Foto Rasteiro, uma loja com estúdios e laboratórios fotográficos na Av. Emídio Navarro. «Trabalhava aos fins de semana, queria dinheiro para comprar uma bicicleta, uma bola e jogar matraquilhos. Fazia lá tudo: lavava as montras e os laboratórios, cortava papel, levava recados e também ajudava a retocar as imagens com pincel, tinta e raspadeira», lembra Babo Ribeiro.


Logo comprou uma máquina fotográfica usada e começou a registar os filhos dos amigos no Jardim Botânico e Penedo da Saudade, imprimia, vendia e fazia algum dinheiro. Montou um pequeno laboratório e anotava todos os jogos de futebol que aconteceriam em Coimbra e arredores durante o fim de semana: «Ia de camioneta, tirava as fotografias do grupo, falava com o capitão da equipa e oferecia-lhe uma, em troca pedia para ele oferecer aos outros. Um dia um amigo pediu-me para fotografar seu casamento, recusei, mas ele insistiu e eu fui. Comprei um flash e ganhei muito dinheiro, não queria outra coisa», relembra Babo.

Hoje já não trabalha em casamentos (mas ainda faz a Queima das Fitas e esteve no Rali), e diz que o que o entretém é o restauro de imagens antigas, algumas com mais de 50 anos: «Quando era miúdo não gostava de retocar as fotos, chateava-me porque não queria estar enfiado num laboratório, mas quando abri a loja, ouvia a necessidade das pessoas de recuperar as imagens de entes queridos. Fiz isso por muitos e muitos anos manualmente com pincel e depois aprendi a usar o Photoshop. Transferi para o digital a minha experiência em suavizar os contornos das expressões, trazer nova vida àquelas imagens descoloridas e opacas. Durmo tranquilo em ver a alegria de um neto diante da foto do avô ou da avó, com nitidez e beleza… não tem preço, porque isso é memória e quem não tem memória não anda cá a fazer nada.»

A modista Palmira

Quando Palmira Baptista era apenas uma miúda, em Fetais Fundeiros, Penela, arranjava sempre tempo para costurar com a mãe, mesmo tendo uma rotina endurecida pela falta do pai e irmãos,que a obrigava a cuidar dos animais, trabalhar na horta, limpar a casa e frequentar a escola: «Éramos três meninas e a minha mãe que passava o dia a costurar para fora, por 60 anos, sem sequer usar uma fita métrica. Ela media o tecido aos palmos. Pedia para ensinar-me e, sem tempo, respondia: “Não tens olhos? Vê e aprende”.» E Palmira aprendeu, fez seu primeiro vestido, ainda criança, para uma missa de Domingo e voltou com várias encomendas das amigas. A mãe a desestimulou: «Olha que ainda estragas o tecido às raparigas e terás de pagá-lo», mas Palmira continuou. Casou, mudou-se para Ceira, teve dois meninos e uma menina, fazia as roupas das suas crianças mas não conseguia arranjar clientes, o marido era muito ciumento e não a deixava sair de casa.

Quando o filho mais velho completou 19 anos, comprou em prestações uma pequena loja no centro comercial Avenida, na avenida Sá da Bandeira: «A loja ainda estava em tijolos e ele pediu ajuda ao pai para arranjar o piso, paredes e tecto, mas não disse que a loja seria minha. Depois avisou lá em casa que a loja era para vender uns casacos de peles que ele comprava na Serra da Estrela, mas pediu-me para levar minha máquina de costura para lá e segredou: “Mãe, tens que ter teu dinheiro e tua vida, fica com a loja, é tua”. E eu estou aqui há 32 anos.»

Palmira ganhou independência, tirou a carta e comprou um carro. «Meu marido teve que baixar a voz», mas as pessoas deixaram de gostar da roupa feita por medida e a loja de Palmira passou a oferecer, quase que exclusivamente, consertos e arranjos: «Ainda tenho meus clientes habituais e no passa-palavra faço vestidos, saias e algumas calças para aqueles que querem roupa com alguma originalidade. Venham, venham, é só trazerem o tecido!», pede Palmira.

Francisco, o colecionador de antigos ofícios

Nascido e criado em Coimbra, Francisco Oliveira teve a sorte de ter um avô apaixonado por livros, que oferecia ao neto com frequência. Um desses livros que ganhou falava sobre as profissões, era em francês e se chamava «Metiers pour rire»: «Guardei dessa obra, e da relação com meu avô, a ideia de fazer um registo fotográfico de casas comerciais antigas, como as que o meu avô me levava sempre para cumprimentar seus amigos e que eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, iam desaparecer ou tornar-se noutra coisa qualquer», explica Francisco, que trabalha no Gabinete de Comunicação e Imagem da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.


A ideia virou um passeio fotográfico e desse passeio nasceu um álbum com incríveis registos, no melhor estilo «Le fabuleux destin d’Amélie Poulain», que Francisco nos mostrou: «Eu e meu amigo fotógrafo francês, Julien Mota, definimos o (único) critério de terem que ser casas comerciais de profissões antigas e com pelo menos 40 anos de existência (o registo foi feito em 2014, nos 40 anos do 25 de Abril) e colocámo-nos, literalmente, à estrada.

Revelou-se a tarefa um verdadeiro desafio, pois não só o Julien não falava português como houve grande resistência da maioria dos entrevistados (talvez por pressentirem de alguma forma o que acabou por acontecer a muitas dessas lojas, fecharem…) mas o resultado final foi, na verdade, o que nós queríamos fazer: um registo honesto, para memória futura, de um passado assim não tão longínquo», conta Francisco com o álbum na mão, aberto na página com sua fotografia preferida que mostra José Pereira Braga, o chapeleiro dono da Bragas Lda. Chapelaria e Camisaria.

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