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Projeto «minimalista» do Sistema de Mobilidade do Mondego

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Documentos Sistema de Mobilidade do Mondego – Coimbra B

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Movimento Cívico pela Estação Nova

Coimbra B será «uma Estação do Oriente
em escala proporcional à cidade de Coimbra»

A declaração é de Ana Bastos, vereadora do Urbanismo da Câmara Municipal, num debate público marcado pelo cuidado nas declarações - inclusive sobre um bypass que vai ligar Coimbra à Alta Velocidade ferroviária. Ficou a certeza de que há poucas certezas: «está tudo em cima da mesa».

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Fotografia: Mário Canelas

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Movimento Cívico pela Estação Nova

Ao longe, é possível ouvir o alerta sonoro que anuncia a chegada dos comboios e o tom agudo da frenagem nos carris. A cerca de 700 metros da Estação Coimbra B, porém, o que se escuta são graves adjetivos e duras críticas à velha Estação: «não dignifica a cidade», «parou no tempo», «é preciso que deixe de ser um apeadeiro!». Essas foram palavras ditas durante o debate público «Infraestrutura e Mobilidade como Desenvolvimento», realizado no último dia 2, no Lufapo Hub, dentro da programação da Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, Anozero.

Os protestos remontam a um histórico nada glorioso de projetos e promessas frustradas. Inaugurada em abril de 1864, a Estação Coimbra sempre foi marcada pela simplicidade e, não raro, por críticas. Até mesmo o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, em seu livro Uma visita a Portugal, fez um contraponto destoante do lugar, narrando a «luta» para entrar em uma carruagem. Mas, para além da literatura, a Estação centenária de Coimbra passou por pontuais reformas estruturantes e ajustes tímidos, e ainda foi alvo de ousados projetos nunca realizados. O último deles assinado em 2010 pelo arquiteto espanhol Joan Busquets – chamado de projeto «maximalista».


No extremo oposto, dez anos depois veio a público uma proposta do Governo de Portugal, através do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), a chamada «adaptação a uma solução BRT-Metrobus», que incluía uma solução arquitetônica Coimbra B classificado como «minimalista» pelo público e até «miserabilista» pelo arquiteto João Paulo Cardielos, interveniente da audiência que não poupou o verbo: «Esse é um problema que persiste há 100 anos. Coimbra B é uma espécie de cancro da cidade. Quero dizer que tragam-nos de volta a qualidade à cidade».

Contudo, nem só de críticas à Coimbra B se fez o momento. Perspectivas sobre uma nova
estação totalmente intermodal, e a ligação desta com a Alta Velocidade nacional, provavelmente
suscitaram dúvidas ou euforia, em alguns, e certamente expectativa em todos os presentes.
«Esta é a oportunidade para a cidade ter uma verdadeira estação intermodal», referiu a
vereadora Ana Bastos
, que compunha a mesa de debates ao lado de Jorge Delgado, Secretário
de Estado da Mobilidade Urbana; Jorge Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra (FEUC); e Nuno Grande, professor do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DARQ/FCTUC) e moderador do
evento.


Apesar de reiteradas vezes alertar que «está tudo em cima da mesa», em um discurso cuidadoso, Ana Bastos antecipou à audiência aquilo que é desejado para dignificar a cidade. «A nova Coimbra B será uma Estação Oriente em escala proporcional à cidade de Coimbra. Uma estação que terá todas as valências da mobilidade – desde o comboio tradicional à alta velocidade, um Metrobus, parques de estacionamento, uma central de camionagem para receber transportes urbanos e suburbanos, regionais inter-regionais, internacionais. Por isso precisamos de uma estação precisamente de grande dimensão e com todas as valências que deve ter – desde a informação ao público, mas também devidamente articulada com todos os modos de transporte (taxis, bicicletas, trotinetas). Uma verdadeira estação intermodal, onde todos os modos de transportes vão confluir», descreveu a vereadora.

Jorge Delgado, que até o último dia 30 de março respondia pela IP e agora é Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, fez um histórico dos transportes em Portugal, admitiu a necessidade de renovar e melhorar uma estrutura ferroviária «em decadência», destacou o projeto do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), «atualmente sem igual no País», até chegar ao ponto nevrálgico da situação: «E agora, em cima disso tudo, há uma outra camada que tem a ver com a Alta Velocidade. Um projeto antigo, que já tem décadas, que já foi abandonado várias vezes, mas que ganhou uma nova centralidade. O pusemos na agenda».


Dúvidas, porém, não faltam. Quem irá assinar o projeto deste empreendimento de tantas expectativas? «O plano será desenvolvido por uma pessoa a ser anunciada rapidamente, que não é de Coimbra, mas já conhece bem o terreno e já tem trabalhos anteriores e por isso foi escolhida. Mas, primeiro temos que celebrar o acordo. É prematuro dizer que será pessoal tal. Permitam-me manter um pouco mais o enigma».

O facto da escolha sobre a mesa ser de alguém fora de Coimbra parece não incomodar – ao menos ao arquiteto Nuno Grande. «Eu nunca tive dúvidas de que a negociação deste projeto teria que ser feita com um gabinete com muita experiência. Não sei de quem se trata, mas terá que ser um gabinete interdisciplinar». Se não sabemos quem assinará o projecto, será possível revelar em que sítio será instalada a nova Coimbra B? «O que se perspectiva, neste momento, é a manutenção da localização da Estação. Não quer dizer que não venhamos a evoluir, porque o plano está em fase inicial», declara a vereadora, mantendo o suspense.


Entre as soluções maximalistas de Joan Busquets e minimalistas do SMM, o que está sendo idealizado «é uma solução intermédia», segundo Ana Bastos. Porém, diferente das primeiras, nesta ainda não é possível visualizar maquetes ou sondar o estilo do projetista. Então, afinal, o que há de concreto sobre o tema? «Os transportes estarão todos sediados na futura Coimbra B. E é isso que nós exigimos. E para isso é preciso um plano. Não podemos estar a construir aos bocadinhos, de forma pontual. Tem que haver um plano global, onde cada uma dessas equivalências esteja devidamente encaixada», descreveu a vereadora. O plano global a que se refere, contudo, também está em aberto. E ao que parece a tão sonhada estação intermodal de Coimbra terá mesmo de aguardar um pouco mais. «Tudo depende da solução que vamos adotar ao nível da alta velocidade». E aqui entra um novo nível de complexidade.

Onde está o impasse sobre Coimbra B?


O impasse da solução a ser adotada está entre aquilo que a Infraestruturas de Portugal (IP) havia planeado inicialmente e o que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) considera mais adequado atualmente. Jorge Delgado, que até o último dia 30 de março respondia pela IP e agora é Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, fez um histórico dos transportes em Portugal, admitiu a necessidade de renovar e melhorar uma estrutura ferroviária «em decadência», destacou o projeto do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), «atualmente sem igual no País», até chegar ao ponto nevrálgico da situação: «E agora, em cima disso tudo, há uma outra camada que tem a ver com a Alta Velocidade. Um projeto antigo, que já tem décadas, que já foi abandonado várias vezes, mas que ganhou uma nova centralidade. O pusemos na agenda».

O facto é que a agenda do IP não estava alinhada ao que pretendia a CMC. «Estamos a aguardar a consignação da obra entre Coimbra B e o Largo da Portagem, dentro do SMM, onde se inclui a reformulação desta Estação. A nossa posição, relativamente às Infraestruturas de Portugal, foi que essa decisão não podia, de maneira alguma, condicionar a alta velocidade», enfatiza a vereadora.


Ana Bastos explica o porquê da condicionante: «Estava previsto era um investimento de 28 milhões na Estação B, mantendo basicamente a traça atual, a estação na localização onde está, e seriam construídos dois novos edifícios onde muito possivelmente irá passar o canal de alta velocidade. Não podíamos admitir esse investimento e que a seguir disséssemos “agora não podemos ter aqui Alta Velocidade, porque foram feitos investimentos que a inviabilizam diretamente na estação Coimbra B”». Segundo a vereadora, agora o momento é de estudar o que é possível e o que não é possível manter. «Para-se a obra, avalia-se o que é compatível com o projeto futuro, tendo sempre a alta velocidade em Coimbra B. É nessa ótica que temos estado a trabalhar».

Pelo lado do Governo de Portugal, o Secretário de Estado parece alinhar o discurso. «O mais importante é que tenhamos sistemas que sejam complementares uns aos outros e que tenham boas interligações. Isto é que o torna eficaz, eficiente. Portanto, termos essa interface da Alta Velocidade em Coimbra é uma boa notícia».

«Queremos uma bala a passar por Coimbra?»

A ligação de Coimbra B ao sistema ferroviário de Alta Velocidade implicará custos ainda desconhecidos e prazos de conclusão também incertos. Há um consenso, porém, da parte da Câmara Municipal: «A proposta é passar a alta velocidade em Taveiro e a Estação B servir como um bypass apenas para os comboios que venham servir diretamente Coimbra. Assim, mantém-se a autoestrada ferroviária Lisboa-Porto – onde passam comboios que não interessam a cidade, e portanto não temos que sofrer com esse traçado – e nessa solução permanece a cota da linha ferroviária, sem precisarmos puxar a estação para o Norte. Portanto, podemos aproveitar parte das infraestruturas que já existem atualmente em Coimbra B, mas ainda assim vai ter que expandir, alargar», adiante a vereadora do Urbanismo.


A opção pelo bypass surpreendeu parte da audiência. «Não queríamos ficar sentidos, em Coimbra, com a solução que se quer encontrar para a Estação e para Coimbra», ponderou o professor José Reis. No projeto rejeitado pela Câmara Municipal, a passagem da Alta Velocidade seria efetivamente por Coimbra B, exigindo uma mudança na localização da Estação, a adequação de dimensões maximalistas e o atravessamento do rio Mondego através de um túnel.

A não aceitação desse projeto foi decisiva para a gestão municipal. Além do projeto minimalista do Governo de Portugal não prever a linha de Alta Velocidade, obrigando o construir e demolir em seguida, Ana Bastos pontua outra preocupação. «A pergunta que nós cidadãos de Coimbra devemos fazer é o que nós queremos em Coimbra B. Será que é um comboio a passar a 250, 300 km por hora – com as implicações do ponto de visto do ruído, ambiental, mas uma para qual eu sou muito sensível, que é a questão da segurança? O comboio de alta velocidade ia criar uma barreira física e social, em Coimbra B. Termos aqui umas balas a passar. Além disso, teríamos que retirar muito mais casas para isso, por exemplo. É o que queremos?»

«A cidade tem que se envolver nesse debate, e não poderia ser de outra forma, senão envolvendo a população, todos os interessados. E todos já estão convidados a vir discutir conosco – nomeadamente o senhor secretário de Estado, pois sendo da Mobilidade eu quero muito que isto seja uma verdadeira estação intermodal. A mobilidade é o princípio básico que está subjacente a esta questão».

Ana Bastos, Vereadora Câmara Municipal de Coimbra



O traçado da Alta Velocidade Porto-Lisboa passa nas proximidades de Taveiro. Algumas locomotivas sequer param em Coimbra e cruzam o Conselho a uma velocidade de aproximadamente 300km por hora. Outras, porém, terão paragem em Coimbra, Leiria e Aveiro – em linhas independentes. No deslocamento Lisboa-Coimbra-Porto, por exemplo, os passageiros serão levados de Coimbra B à plataforma que os ligarão ao comboio de Alta Velocidade. É o chamado bypass, que deverá seguir de Coimbra B, passando pelas estações Bencanta, Espanadeira e Casais, até Taveiro – toda essa zona terá alargamento de via. Assim, a cidade o sistema de transporte da cidade passa a integrar a Alta Velocidade, ainda que a «bala» não corte a paisagem em Coimbra B.


Mesmo sem maquetes ilustrativas, é possível imaginar as dimensões estruturais que a solução representa. «De Coimbra B até a proximidades de Taveiro temos uma zona de atravessamento dos Campos do Mondego. Vamos ter ali uma nova ponte, um viaduto com cerca de 6 km de comprimento, que vai ter um impacto bastante significativo nos campos, no Vale do Mondego. São áreas inundáveis, que é outro desafio. Mas, para conseguir evoluir por vezes temos que demolir – coisas que não gostaríamos de fazer, nomeadamente a invasão dos campos do Mondego. Já fiz questão de dizer ao senhor presidente da Escola Agrária que essa também vai receber ali algum corte com a passagem destas duas a quatro vias», descreveu Ana Bastos, para em seguida ponderar: «Tudo está em estudo prévio, não há nada aprovado».

Impactos no Metrobus e consulta à população

Naturalmente, todas essas nuances no sistema ferroviário de Coimbra terão consequências diretas também para o Metrobus. «O impacto é total, muito forte. O que está em cima da mesa é a solução que faz parte do projeto do Metrobus. Haverá partes que vão ser construídas desde já e partes que vão ser necessariamente suspensas porque não há condições para ser feitas. Neste momento, o que está a ser feito, é avaliar não só um novo plano, mas estamos em fase de definição de um programa preliminar que será o lançamento de um novo Plano de Urbanização que irá abranger todo este espaço da Estação B, mas não só – seguirá por toda esta zona, o Loreto, e até Norte», aponta a vereadora.


Entre avaliar o que pode ser construído sobre a proposta do Sistema de Mobilidade do Mondego e aquilo que viabiliza a ligação de Coimbra B à alta velocidade está o fator tempo. «Mas não podemos atrasar a obra. O que vai haver é uma obra parcial. Vamos cortar componentes que estavam financiadas, é verdade, e que alguma verba vai se perder, mas entre perder ou estarmos a investir mais 15% para demolir imediatamente a seguir não faz qualquer sentido», enumera Ana Bastos. Ainda assim os prazos são curtos e o Metrobus de Coimbra, que anteriormente entraria em funcionamento a partir do final de 2023, agora tem nova data: final do primeiro trimestre de 2024. «É o que está previsto».

«Viemos com o peso do passado e da semente. Esperar tantos anos, torna tudo mais urgente.»

Jorge Delgado, Secretário de Estado da Mobilidade Urbana


Enquanto Jorge Delgado alerta que «o Metro Mondego precisa que se resolva o problema de Coimbra B, para que haja a coexistência do MM com os comboios», Ana Bastos anuncia para setembro deste ano a primeira discussão pública sobre a matéria – ligação Coimbra B e Alta Velocidade. «A cidade tem que se envolver nesse debate, e não poderia ser de outra forma, senão envolvendo a população, todos os interessados. E todos já estão convidados a vir discutir conosco – nomeadamente o senhor secretário de Estado, pois sendo da Mobilidade eu quero muito que isto seja uma verdadeira estação intermodal. A mobilidade é o princípio básico que está subjacente a esta questão».

A estrela do Comboio da Meia-Noite

Palavras, expectativas, projeções e espera. Tudo o que foi colocado no debate público do Lufapo
Hub teve como origem a exposição «Comboio da Meia-Noite», uma mostra de projetos e maquetes desenvolvidas por três equipas de alunos do Mestrado de Arquitetura da Universidade de Coimbra desafiados a imaginar e tornar visível, memos em miniaturas, a nova Estação Intermodal Coimbra B. A exposição, inclusive, terá visitas guiadas nos dias 18 e 25 de junho, às 15h e às 17h.


Entre a exposição de maquetes apresentada pelos alunos e uma mesa de debates composta por
professores, porém, estão duas gerações conectadas em um mesmo ideal: dar a Coimbra uma
estação digna de seu brilho. Afinal, como disse o professor José Reis, «uma cidade é como uma
estrela. E uma estação não é um sítio onde passa comboios, onde para comboios. Uma estação
é um sítio para projetar a maneira como uma cidade quer viver».

Na mesma carruagem poética, o secretário Jorge Delgado relembrou a canção «Liberdade», de Sérgio Godinho: «a canção diz: paz, pão, habitação, saúde, educação. Se calhar, também poderíamos inserir a mobilidade. Não é bom de rima, mas… ». De facto, a rima não se encaixa no refrão. Contudo, diante dos tantos projetos malogrados, das poucas certezas e das muitas expectativas para Coimbra B, faz bem recorrer ao próprio Sérgio Godinho sobre o futuro da velha estação: «Viemos com o peso do passado e da semente. Esperar tantos anos, torna tudo mais urgente.»

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