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Festival Novo Bauhaus Europeu

A Adelino Veiga foi Rua Zero dos encontros e das soluções para Coimbra

Centenas de miúdos e graúdos participaram no evento paralelo ao Festival do Novo Bauhaus Europeu e provaram que há vontade de mudança na Baixa de Coimbra, com espírito colaborativo, inclusivo e sustentável.

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Fotografia: Mário Canelas

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«Lembro-me de passar aqui e ir quase ombro a ombro com as pessoas que enchiam as ruas», lembrou José Manuel Silva. «Para mim era uma coisa muito complicada porque vinha com os meus colegas de comboio de Montemor-o-velho, estudava na universidade, e atrasávamo-nos pela intensidade de pessoas que aqui existia», recordou Emílio Torrão. Passava pouco das 10h da manhã na Rua Adelino Veiga, transformada em Rua Zero – (Re)Imaginando Coimbra, um evento paralelo ao Festival do Novo Bauhaus Europeu que, entre os dias 9 e 12 de Junho, acontece em Bruxelas e outras 200 cidades europeias.

O presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e o presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra, juntamente com o vice-presidente da União de Freguesias de Coimbra, participavam na sessão de abertura da iniciativa do Colectivo Rua Zero, um grupo aberto e informal que junta entidades e indivíduos com especial interesse e ligação ao Centro Histórico de Coimbra.


A estrada não era tijolo mas tinha pendurado fio amarelo a assinalar que ali se construíam sonhos, do Largo das Ameias à Praça do Comércio, com sofás e puffs coloridos pelo caminho, porque neste dia a rua era sala de estar e de ficar para mais. Tecedeiras vieram de Almalaguês marcar o passo lento mas ritmado da tarde quente e com a música, com o convívio e as experiência COL.ECO, estava montada a festa no Largo do Paço do Conde.

«Estas iniciativas que juntam as pessoas e aqueles que transitoriamente têm alguma responsabilidade são importantes, todos nós gostaríamos de ver a Baixa voltar ao que já foi mas não é possível porque tudo mudou, o que é preciso é que a Baixa seja aquilo que nunca foi e que consigamos construir uma narrativa que traga as pessoas novamente», atirou José Manuel Silva, antes de se entregar à conversa com muitos dos presentes e deixar o testemunho na Cabine da Palavra, que não parou o dia inteiro de recolher histórias, em vídeo. Duas dezenas de pessoas deixaram as suas memórias e desejos para a Baixa na Lojazero da Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra.

«Não podemos esperar, como aliás hoje é um bom exemplo, que sejam os poderes públicos a resolver tudo. As pessoas têm de se juntar, como agora aconteceu», rematou José Manuel Silva. Emílio Torrão lembrou que «o movimento Bauhaus tem na sua génese um conceito muito importante e interessante que é dar vida às cidades de uma forma bela, criativa e onde não só a arte e cultura se casam com a ciência, com a inovação mas há também uma tentativa de inclusão» e que declarou mesmo que «este impulso zero é um impulso que tanto a Universidade de Coimbra, como a CMC e a CIM apoiam e querem incondicionalmente ver, não só hoje mas a partir de hoje siga o caminho para que haja o 1, o 2, o 3, porque efectivamente esse é que é o caminho.»

As soluções dos adultos

Emílio Torrão disse que um bom projecto para a Baixa seria o bairro alojar «as artes, a cultura, a criatividade e tudo o que desperte os sentidos, porque são as emoções que nos trazem a locais como este». Mas houve quem desse mais sugestões. Na Urna de Futuros da Coimbra Coolectiva caíram mais de uma dezena de boletins carregados de opiniões e ideias, inclusive de quem «trabalhou na Baixa nos idos anos 60 e 70 do século XX» e que considera que iniciativas como a Rua Zero – (Re)Imaginando Coimbra «só podem ser bem-vindas e merecem um aplauso imenso» além de que «traz movimento e faz com que haja mais amor entre as pessoas e alegria. «Adoro! Porque nós merecemos!» salta de um dos boletins, preenchido por mais um ou uma participante entusiasta. 

Papelarias, cantinas, faculdades, ginásios, tasquinhas, lojas abertas 24h por dia e uma FNAC foram algumas ideias de negócios concretos que quem nos escreveu disse que gostava de ver abrir na Baixa, inclusive na Rua Adelino Veiga. Também cinema ao ar livre, teatro itinerante, artistas de rua permanentes, murais, aliás a ideia de bairro artístico e dedicado às indústrias culturais parece ganhar cada vez mais adeptos, desde que se evite a gentrificação.

Pedem-se mais eventos às autoridades locais, em rede com associações e juntas de freguesia. Isso e abrirem-se todos os espaços encerrados «ao menos para limpeza». Houve quem dissesse que a «cidade vê-se melhorar de dia para dia, felizmente, no entanto o estacionamento é uma enorme necessidade para atrair movimento humano à cidade». 


Ainda retirado da Urna de Futuros, há quem considere que «é necessário habitar a Baixa, chamar a população para habitar as casas desabitadas criando condições para tal e criar um gabinete da Câmara para assuntos como a habitação». Não foi a única pessoa a dizer que é preciso mais pessoas na Baixa, é a opinião mais repetida nos boletins da Urna de Futuros da Coimbra Coolectiva onde também foi partilhado que toda a acção faz sentido «porque junta pessoas, porque as pessoas dão opiniões que ficam registadas, porque cria memórias», além de que «só imaginando podemos chegar a uma melhor Baixa de Coimbra, mas uma com pessoas». 

Soluções das crianças

«Desenhámos e escrevemos sobre as coisas que gostamos e não gostamos e a nossa imaginação», diz A., de 8 anos. Mora na Baixa de Coimbra e conta o que fez nesta manhã diferente na Oficina (Re)Imaginar a Baixa com as Crianças, no espaço COL.ECO, uma oficina que de forma lúdica e criativa torna visíveis as perspectivas, opiniões e sentimentos dos cidadãos mais baixinhos acerca da zona que, pelo nome, até devia ser feita para eles. O que gostam? O que não gostam? O que gostavam que tivesse? Vegetação, decoração com coisas da Natureza, rampas de salto para bicicletas, mais cor, parques e (já agora) periquitos em vez de pombas e mais animais, em geral. Idealmente um jardim zoológico.

Durante 1h30, Sandra Silvestre e Sofia Martinho passearam, conversaram e desenharam com crianças dos 4 aos 12 anos de idade. Depois as ideias delas foram partilhadas numa Roda de Conversa, da parte da tarde, com a participação de Beatriz Caitana, socióloga e investigadora brasileira que trabalha sobre a temática da regeneração urbana inclusiva e integra o projecto URBINAT, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Também Kitti Baracsi, educadora e activista húngara, especialista em pedagogia crítica e metodologias colaborativas. Ambas comentaram os resultados, partilharam boas práticas e atiraram ideias sobre o projecto de construir uma Baixa mais amiga das crianças. 


«Ouvir os diferentes grupos, envolvê-los nos processos participativos, é essencial para se chegar a soluções que sejam de facto efectivas», disse Beatriz Caitana, ela própria produto de exercícios de participação cívica. Com 14 anos, numa escola onde é aplicado o conceito de protagonismo juvenil do pedagogo António Carlos Gomes da Costa, no Brasil, participou num projecto de desenvolvimento de soluções para o lugar onde vivia. O exercício foi decisivo e acabou por impulsionar toda a trajectória da jovem investigadora, pela reivindicação de direitos e do espaço sócio-político da participação.   


«Eu acho que o problema mais grave são os adultos, é o adultocentristmo», atirou a dada altura Kitti Baracsi, que trabalhou em comunidades carenciadas em Granada (Espanha) e no bairro napolitano de Scampia (Itália) e está actualmente a desenvolver o projecto-piloto «Fazer do Bairro a Nossa Casa» na Penha de França, em Lisboa, focado no desenvolvimento de iniciativas entre as crianças e os idosos da zona em situação de isolamento social. «Não conseguimos, nós, adultos, dar um passo atrás e deixar falar, deixar errar, deixar experimentar. É preciso criar conhecimento através de diferentes linguagens que são acessíveis para todo o mundo.»  

História e intervenção pela arte

«Junto ao casebre velho, pobre e arruinado / Um palácio se ergue altivo e deslumbrante / Aqui, todo o prazer, além, a dor cruciante / Ao lado de um feliz, um triste desgraçado.» Enquanto a Roda de Conversa decorria no piso intermédio do COL.ECO e os outros andares do espaço de Colaboração na Organização Local da Economia Eco Sustentável do Concelho de Coimbra se enchiam de actividades e demonstrações, a Rebobinar partilhava com a rua poesia do homem que lhe deu nome. Vários voluntários foram ao microfone ler escritos de Adelino Veiga no Largo do Paço do Condo, e ao mesmo tempo, mesmo ao lado, outros faziam fila para aprender a tecer com Lu Lessa Ventarola, que projecta no tear uma metáfora da vida.

«Se a gente não relaxar e se der para o fio, a gente se enrola toda», diz a artista. Na Cabine da Palavra, alguém a deixar as suas confissões e, mesmo sob o calor abrasador que se fazia sentir, havia sempre gente nova na praça e alguma ficava para ver o que acontecia a seguir. Carlos Serra embalou o fim de tarde com o terceiro showcase do dia, depois de Alex Lima e Salvador Granate, e o tempo fez-se curto para tanta vontade de convívio e partilha, entre velhas paredes familiares. «Devia voltar a ser a Rua dos Bazares», ouvimos dizer, entre planos para jantar nas redondezas. Na Adelino Veiga não há quase nada, mas quem sabe esse cenário não estará para mudar. Dia 11 de Junho ninguém teve pressa de deixar a Baixa e todos deixaram um pedaço de si na Rua Zero, e uma conta de somar à espera de acontecer num futuro breve.

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