Junto a uma belíssima figueira, no interior do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, e a propósito de uma visita guiada pelos jardins da cerca com Noel Kingsbury, um dos mais aclamados planting designers e editores de livros botânicos a nível global, que participou por exemplo no projecto do jardim High Line, em Nova Iorque, e que Carlos Antunes pensava que estava «tão distante como a Lua» mas afinal vive em Oliveira do Hospital, começamos uma conversa com o arquitecto e director da Anozero sobre a Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, sobre a cidade e sobre a vida.
Para Carlos Antunes, aquela que é uma das mais notáveis cercas monásticas portuguesas poderia, por exemplo, ser vista como uma espécie de cidadela islâmica, que pode ser penetrada e criar relações de urbanidade entre as duas margens do Mondego. Já Agnaldo Farias, curador da edição anterior da Bienal, tinha pensado o Mosteiro como um lugar que espelha o lado de lá, o lado da Universidade de Coimbra, dominantemente masculina, e o lado da acrópole que tem ainda os ecos da presença feminina, das monjas que lá viveram, recentrando o rio como um eixo da cidade. Imaginar que há uma acrópole para o conhecimeto científico e outra para o conhecimento artístico que se entreolham.
E da mesma maneira que se espelham dois edifícios, porque não dois jardins botânicos? Carlos explica essa ideia para Coimbra, comenta o projecto municipal de permitir a transformação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova num hotel de luxo, o impacto da Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra na cidade e o começo e desenvolvimento deste «sonho» que começou com uma edição experimental em 2015, partindo da classificação da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia como Património Mundial da Humanidade dois anos antes, e já é um dos evento mais apoiados pela Direcção-Geral das Artes a nível nacional – o mais apoiado ao nível da arte contemporânea.
«Como nós contribuímos com o melhor que podemos para as cidades onde vivemos, isto é, quando de facto percebemos que a cidadania depende em última instância dos pequenos contributos de cada um de nós, há uma máquina feroz que se põe em movimento e que transforma o mundo.»
Também falámos sobre o poder, que o arquitecto considera que deve ser «exercido com uma enorme parcimónia e, acima de tudo, deve estar sempre focado no empoderamento do outro, este é o poder mais extraordinário». Os equívocos de questões como o feminismo, as desigualdades e a uma nova espécie de condescendência dos poderes instituídos. «Temos de ser totalmente intolerantes com o abuso do poder, seja ele como for», atira sobre a luta pela qual está disposto a «dar tudo». Ao longo da conversa, abordamos inevitavelmente a segunda parte da Bienal que tem como título «Meia Noite», com curadoria de Elfi Turpin e Filipa Oliveira e uma fortíssima programação Convergente a decorrer um pouco por toda a cidade até ao final da edição, a 26 de Junho.
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