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O transporte para a escola ainda é um desafio para crianças de Souselas

Quatro anos depois do encerramento do Instituto Educativo de Souselas, o único estabelecimento de ensino básico e secundário da localidade, o transporte público é insuficiente ou inexistente, sobretudo para quem teve de ir estudar para outro concelho.  

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Fotografia: Mário Canelas

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Quatro anos depois do fecho do Instituto Educativo de Souselas (INEDS), a questão do transporte para os estudantes que tiverem de procurar alternativas na Adémia, em Eiras, Coimbra ou mesmo no concelho da Mealhada, é ainda um problema. A escola funcionava ao abrigo de contratos de associação assinados entre o Governo e as escolas particulares e cooperativas, em zonas onde a oferta estatal não dava resposta suficiente. Em 2016, o Executivo começou a cortar nestes contratos, levando ao encerramento de várias escolas, entre elas o INEDS. Aberto desde os anos 90, chegou a ter 800 alunos do 5.º ao 12.º anos e do ensino profissional e fechou no ano lectivo 2017/2018.

No caso de João Paulino, residente em Souselas, o fecho do estabelecimento de ensino afectou o filho mais novo, a frequentar a Escola Secundária D. Dinis, em Eiras. Passou a ir para a escola de automóvel com o pai e a regressar  de autocarro mas, durante algum tempo, uma vez por semana o avô tinha de «fazer cerca de 5km de carro» para o ir buscar a outra localidade, «porque a Transdev não tinha transporte na altura». A Transdev era a única operadora de autocarros públicos a servir a União de Freguesias de Souselas e Botão até Abril de 2021, altura em que o serviço dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) foi alargado até à zona.

A rotina da família de Sofia Seiça também mudou com o encerramento da escola. A viver em Larçã, no extremo norte da União de Freguesias, conta que o filho mais velho, a estudar na Escola Secundária de Avelar Brotero, em Coimbra, tem de utilizar o autocarro das 6h25 dos SMTUC para ir para a escola, que começa às 8h30. Se a opção for a carreira da Transdev, o jovem ganha meia hora e a história repete-se ao final do dia: se sair da escola às 18h20, chega a casa por volta das 21h, via SMTUC. 

No caso do filho mais novo, a frequentar uma escola no concelho da Mealhada, vai com o pai, de carro, por falta de transportes públicos. Ainda assim, nos dias em que não tem aulas à tarde, Sofia usa a hora do almoço para ir de Coimbra buscar o filho à escola e evitar que faça 3 km a pé ou esperar pelo final do expediente do pai. 

As alternativas para escolas fora do concelho

Antecipando o início de mais um ano lectivo, e com o desejo de encontrar soluções, Sofia Seiça levou, em finais de Junho, o assunto à reunião da Câmara Municipal de Coimbra. Em resposta, Ana Cortez Vaz, vereadora da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) com a tutela da Educação e da Acção Social, garantiu à Coimbra Coolectiva que o «transporte tem de ser assegurado» para as crianças de Souselas e Botão e que «isso está a ser feito» na preparação do plano de transportes escolares para o próximo ano. Cortez Vaz apela aos pais para que se inscrevam na plataforma SIGA (Sistema Integrado de Gestão e Aprendizagem), que permite ao município gerir serviços como refeições, actividades de animação e apoio à família, bem como o transporte escolar. 

No ano passado, apenas oito pais de União de Freguesias de Souselas e Botão inscreveram-se na plataforma, de um total de 70 estudantes a frequentar as escolas da Mealhada. Sofia Seiça foi uma delas, mas o número de inscrições foi considerado insuficiente para a criação de alternativas. Face ao apelo da vereadora para a inscrição na plataforma SIGA, Sofia diz que compreende os procedimentos mas pede respostas alternativas: «Há muitas pessoas que não têm internet, não têm computador, eles é que acham que as pessoas não têm esta dificuldade. Conheço pessoas que nem sequer têm email».

Na União de Freguesias de Souselas e Botão, o presidente Rui Soares, adianta-nos que têm sido feitas diligências e que acredita que a falta de utilização da plataforma SIGA acontece porque «a maior parte das pessoas já está organizada e tem disponibilidade para levar [os estudantes] e organizam-se com outros encarregados de educação». 

Com a mudança de crianças para as escolas da Mealhada, Rui Soares deixa o repto: «era preferível a Câmara Municipal de Coimbra organizar um transporte dedicado apenas às escolas, e levar as crianças para as nossas escolas, do que deixá-las ir para as de outro concelho». Quando o INEDS estava em funcionamento, o transporte das crianças era assegurado. Segundo o responsável da escola à época, Manuel Duarte, com base em estudos feitos, o encerramento da escola teria um custo ao erário público de 80 mil euros ao ano.

Ajustes nos horários dos autocarros para Coimbra

A necessidade de ajustes nos horários dos autocarros é outra das reivindicações que se ouve em Souselas  e que chega à farmácia Hebel, no centro da localidade, onde falámos com Pedro Rodrigues. «A população também não é muito grande e tem vindo a diminuir o que faz com que, em parte, o fluxo dos autocarros não seja muito frequente», assinala. O farmacêutico dá-nos conta de comentários que vai ouvindo sobre as dificuldades em conciliar horários de autocarros e de trabalho para ir buscar as crianças, com as famílias a terem de recorrer «a familiares, ou a conhecidos» para o efeito.

Uma das soluções, na óptica de João Paulino, poderia passar pela criação de um «circuito interno» de autocarros. A ideia seria trazer as pessoas de zonas mais afastadas ao centro de Souselas para que, a partir daí, «pudessem apanhar a outra panóplia de autocarros».

Há quem relate que há circulação de autocarros com poucas pessoas e, ao presidente Rui Soares, já foi colocada a possibilidade de serem retirados dois horários porque «andaram muitos dias sem ninguém». «Agora, se for necessário voltarem a ser colocados esses horários, sei que também estão disponíveis para os colocar», assegura.

Uma realidade que é constatada por Sofia Seiça: «Saio de casa às 7h45 e vêm dois autocarros vazios à minha frente dos SMTUC. E não o conseguimos apanhar porque nunca chega antes das 8h [ao destino]. Se começo a trabalhar às 8h não tenho hipótese». Uma situação que diz lamentar, tendo em conta o aumento dos preços do combustível e o perigo que a utilização do automóvel representa para o meio ambiente. 

Ana Bastos, presidente do Conselho de Administração dos SMTUC, já mostrou abertura para ajustes de acordo com as necessidades. Em reunião de Câmara, a também vereadora da Câmara Municipal de Coimbra com a pasta dos Transportes e Mobilidade, disse que para aumentar o número de autocarros «não basta pedir, [as pessoas] têm mesmo de os usar». Acrescentou que, para que possam ser usados, é fundamental responder directamente às necessidades. A vereadora deixou ainda um apelo à população para que fizesse chegar as suas opiniões à União de Freguesias de Souselas e Botão, que por sua vez as remeterá aos SMTUC, notando que é preciso ter em «consideração que não é possível ter um autocarro de 10 em 10 minutos, por mais que gostássemos».

Na avaliação que faz de pouco mais de um ano de SMTUC na União de Freguesias, Rui Soares considera que os serviços estão a «funcionar bem» e adianta que o transporte público, hoje, chega a «quase todas as localidades», excepto Santa Luzia: «Andamos a fazer um esforço enorme para conseguirmos mudar a linha de Sargento-Mor para passar também em Santa Luzia e já beneficiava muita gente». 

Comboio é opção?

O comboio tem vindo a cair em desuso ao longo dos anos e uma das causas será o facto de serem pouco frequentes na vila, ou assim nos relata Rui Soares. Mas há quem o veja como a melhor opção para se deslocar até à Baixa da cidade de Coimbra.  É o caso de Francisco, reformado, que encontrámos a dar uma ajuda no café da filha, no centro de Souselas. Num intervalo do vaivém de clientes, o residente justifica a escolha com a rapidez do meio de transporte. «No autocarro, tenho de ir dar a volta por outros lugares. Outras vezes, tem que se mudar na Adémia e indo de comboio é directo».  

Mas o que pensam os pais das crianças e jovens que frequentam escolas noutros concelhos sobre esta alternativa? João Paulino considera que os «horários são difíceis» e, por comparação, o autocarro «é mais directo». Já Sofia Seiça, considera que continuaria a não ser uma solução para os filhos. «Têm de ir na mesma para a Pampilhosa ou para Souselas para depois apanharem o comboio até Coimbra-B e depois teriam de apanhar outro autocarro. Nunca pensei nessa possibilidade, mas acho que seria um pouco mais complicado».

Futuro das instalações

Um pouco por toda a vila o encerramento do INEDS é ainda hoje lamentado. O farmacêutico Pedro Rodrigues é ex-aluno do estabelecimento de ensino e recorda as «boas condições» da escola. «Via-se que o dinheiro que entrava era usado na escola». Lúcia recorda com saudade os 25 anos passados na escola. Antiga funcionária, admite que o encerramento foi «muito custoso». Rui Soares fala mesmo de «um rombo enorme», nomeadamente para a economia local, apesar de considerar que as crianças e os adolescentes foram «os principais lesados» .

Com o anúncio do fim dos contratos de associação, a possibilidade de reformular o projecto escolar esteve em cima da mesa, mas sem sucesso. «O ambiente social não era muito favorável a termos alunos suficientes, que pagassem 200 euros de mensalidade, no mínimo», atira o antigo director, Manuel Duarte. Ainda houve inscrições, «mas eram residuais e não houve condições de avançar». 

O INEDS mantém-se, no entanto, activo com acções de formação certificada para empregados e desempregados, com financiamento do Estado e de programas europeus. As iniciativas têm sido itinerantes e, até ao final do ano, algumas terão lugar nas instalações de Souselas.

Perguntamos a Manuel Duarte se ainda guarda alguma esperança na reabertura da escola: «A única esperança que mantenho é a esperança que pode vir a haver gente racional, com a racionalidade necessária nos lugares a que se candidatarão ou que ocuparão, para, no futuro, perceber que se cometeu um erro e que temos forma de emendar um pouco a mão». O presidente da União de Freguesias argumenta mesmo que se a escola «tivesse 10 turmas, dava para funcionar».

Mas já há um novo projecto para as instalações do antigo INEDS: um lar, que Manuel Duarte acredita que poderá abrir dentro de ano e meio, com capacidade para 61 utentes. Nos planos também estão acções de formação para idosos – para que «o sofá e a televisão funcionem o mínimo»e a Segurança Social já terá referido que «não havia necessidade de qualquer protocolo no local para haver camas subsidiadas». Por isso, sem apoio do Estado, «quem precisar, vai ter de pagar», lamenta.

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