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Metrobus e uma política de arborização insuficiente

As obras para o futuro Sistema de Mobilidade do Mondego, em Coimbra, pretendem «melhorar a integração do canal do Metrobus na paisagem e garantir reforço da estrutura ecológica urbana», mas o corte de 663 árvores expõe as inconsistências no caminho do urbanismo sustentável.

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Fotografia: Mário Canelas

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Quem circular pela zona da Solum, próximo da antiga linha ferroviária, encontrará um rebuliço típico de obras públicas: maquinaria pesada, muitos capacetes em movimento e, para além da indicação de alvará, a sinalização de uma hipotética viragem e melhoria da cidade — são os primeiros troços do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), a pensar nas rotas e caminhos do Metrobus. 

Nada de estranho haveria a apontar neste cenário de transição e mudança até as queixas e incómodo por parte de moradores sobre um novo corte de árvores a sul do Estádio Cidade de Coimbra, junto à Avenida Fernando Namora, após cortes na Praça 25 de Abril de cerca de 20 árvores de médio porte. 

«A construção do Metrobus obriga a incómodos (ruídos, desvios de trânsito) e a substituir algumas árvores que se situam no corredor intervencionado e que não é possível manter no local onde se encontram». A afirmação é da empresa Metro Mondego no Plano Para Reforço da Estrutura Arbórea, disponibilizado em Março, e desenvolvido em colaboração com a Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Ao todo, a previsão aponta para um abate total de 663 árvores, ao longo das quatro fases de empreitada.

Num projecto que pretende «melhorar a integração do canal do Metrobus na paisagem», garantir a «preservação da biodiversidade» e, também, o «reforço da estrutura ecológica urbana», o enorme corte de árvores levanta dúvidas e contradições pertinentes. 

A Coimbra Coolectiva esteve à conversa com alguns elementos do movimento CIimAção Centro, que, desde 2019, vem desenvolvendo trabalho activista pela defesa ambiental e climática, para perceber como têm acompanhado esta questão em particular, mas também o panorama geral da cidade em termos de estrutura arbórea. 

Ao olharmos apenas para os números da proposta de reposição de 664 novas árvores em substituição dos exemplares que serão abatidos, Gustavo Lopez, aponta incoerências: «as regras de mitigação internacionais são, pelo menos, de duas árvores por cada árvore abatida. Não estão nem a cumprir o mínimo».

Já Miguel Dias define como «vagas» as medidas de compensação previstas e sublinha o modo «leviano» desta forma de actuação. «As árvores novas não vão substituir as árvores abatidas nas suas funções durante muitos anos, não vão compensar a enorme perda de biodiversidade, não vão compensar em termos de diminuição da poluição sonora, não vão ser capazes de fazer filtração de água que fazem as árvores adultas, não vão contribuir para uma diminuição das ilhas de calor, antes pelo contrário, vão aumentar essas ilhas de calor», sublinha.

Numa perspectiva mais ampla, ao longo dos últimos anos, os elementos do movimento de protecção ambiental consideram que houve uma melhoria genérica na política de arborização, também fruto desse trabalho militante. Existe essa preocupação de replantação de árvores no centro da cidade, depois de anos de corte e abandono. Referem como positiva a plantação de árvores nas ruas Alexandre Herculano, na General Humberto Delgado, porém, enumeram algumas artérias onde o problema de ausência de replantação ainda persiste, como nos casos da rua Pinheiro Chagas, da rua de Tomar, da rua Augusto Rocha ou até da rua Antero de Quental. 

Ao olharmos para esta primeira fase de empreitada, que irá ligar o Alto de S. João até à Portagem, com retirada estimada de 273 árvores, os elementos do ClimAção fazem um paralelismo com o que ocorreu na Av. Emídio Navarro, há alguns anos, onde «a linha de metro também aí ditava o abate de uma faixa de árvores, era a faixa central dos plátanos». Miguel Dias lembra ainda que «pouco tempo depois, estranhamente, as árvores adoeceram e tiveram que ser abatidas».

Jorge Paiva, biólogo e professor jubilado da Universidade de Coimbra, vai mais longe nas palavras ao relembrar esse episódio. «Coimbra é a cidade dos milagres: o milagre da Rainha Santa; montar um metro e por milagre o metro desaparecer; por milagre os plátanos que estavam na Av. Emídio Navarro morreram todos em linha, excepto um. Morreram todos! Meti em tribunal a CMC, nessa altura. Os que estavam ao lado no parque não foram infectados e aquele que está na curva não foi infectado, está lá ainda, porque ali já não passava o metro. Morreram todos por milagre, foi preciso abatê-los. Estavam infectados com o mesmo fungo.»

Miguel Dias explica outro porquê dessa comparação entre esse episódio passado na Av. Emídio Navarro e a situação actual da Av. Fernando Namora em pleno desenvolvimento do SMM, «porque em ambos os casos a CMC não abdica das faixas de rodagem automóvel». «Se o metrobus aumenta a oferta de transporte público na cidade, o objectivo último de um projecto destes é a redução do número de automóveis a circular pela cidade», remata ainda.

Na mesma semana em que se assinava o auto de consignação da empreitada de construção da Linha do Hospital, a terceira fase do projecto, que irá ligar a Linha da Lousã aos Hospitais da Universidade de Coimbra, o Instituto de Oncologia e o Hospital Pediátrico, os elementos do ClimAção criticavam a forma como estes mega projectos são comunicados e partilhados com a população. «As informações sobre os projectos estão disponíveis, mas estarem disponíveis não significa que estejam acessíveis», clarifica Miguel Dias, questionando por que motivo não existem maquetes, que se possam visitar no edifício da CMC, por exemplo, ou desenhos 3D, foto-montagens que permitam uma compreensão para o cidadão comum. 

Mário Montez, outro membro activo do movimento ClimAção, faz a ponte para uma falta de percepção dos resultados do próprio contributo cidadão. «Houve muita discussão pública, participei na própria plataforma, mas depois não tens feedback nenhum sobre como é que as ideias da população influenciaram na decisão política».

Na visão do movimento, a problemática das árvores tem vindo a ganhar um espaço positivo como é exemplo, em 2019, da votação por unanimidade da criação dum Plano de Arborização Urbano. Porém, lamentam não existir acesso ou conhecimento sobre medidas concretas, quer do anterior ou do actual executivo, que permita acompanhar e debater essas soluções.

Faltam árvores dentro da cidade 

O corte de árvores na execução da empreitada Metrobus deverá levar-nos a uma reflexão de fundo, ou, pelo menos, mais ampla sobre urbanismo, de como construir cidades de futuro num contexto mais agreste de alterações climáticas e fenómenos meteorológicos extremos, como a recente onda de calor que assolou o país de norte a sul. Faltam árvores dentro da cidade. 

Em 1996, Jorge Paiva descrevia numa publicação dos Cadernos de Geografia indicadores importantes sobre esta simbiose, no texto Coimbra: As Artérias Urbanas e as Árvores. «Uma cidade, além de ser uma parcela integrada da paisagem, não deve constituir apenas um agregado de blocos de betão armado separados por arruamentos asfaltados, sem quaisquer espaços verdes, nem árvores ou arbustos nas respectivas artérias […] Feitos os cálculos, verifica-se que cada indivíduo necessita, teoricamente, de 40m2 de espaço verde num ambiente urbano». Desta área, 10m2 deveriam estar próximos de cada habitante, e os restantes 30m2/habitante estariam disponíveis nos espaços verdes integrados na estrutura verde principal do agregado populacional. Apesar de Coimbra possuir espaços verdes públicos, a cidade ainda não alcança a superfície verde por habitante necessária. Em 2022, essa situação ainda não se alterou.

Jorge Paiva, aponta a cidade de Viseu como um exemplo quase perfeito de integração da vegetação na malha urbana. «Para mim é das cidades mais verdes do continente português, é uma cidade saudável». Quando pedimos exemplos fora de Portugal, é a cidade de Curitiba, no Brasil, que surge como uma referência de urbanismo sustentável, com cerca de 64,5 m2 de área verde por habitante.

Trabalho com o cidadão comum

«Há também muito trabalho a fazer com o cidadão comum, as câmaras não são os únicos responsáveis pelos abates de árvores, porque há muitos abates que são resposta a pedidos de munícipes, que desconsideram simplesmente as funções das árvores. As árvores para eles são objectos meramente decorativos, assevera Miguel Dias. 

«Quando estamos a governar algo não podemos estar só a resolver o problema no imediato, tem de se estar a prevenir aquilo que podem vir a ser problemas no futuro. Por isso é que as pessoas têm de ter visão, ser esclarecidas, ter coragem política para fazer o que faz sentido numa perspectiva de sustentabilidade, numa perspectiva de desenvolvimento integrado», finaliza Mário Montez, que alerta também para necessidade de «ouvir os técnicos, que não são políticos, são técnicos e dizem precisamente isso: daqui a 20 anos isto vai estar assim». 

Mário refere a necessidade de manter uma coerência nas medidas e decisões em prol da defesa do ambiente, seja no tipo de árvore que se escolhe, o seu consumo de água, a adaptação ao nosso clima, aos eventos meteorológicos extremos.

Há uma sensação de impotência e desânimo em relação a projectos que são apresentados como uma «inevitabilidade». O movimento ClimAção lamenta que as poucas vezes em que são chamados a dar opinião e participar em reuniões tudo não passe de um exercício de «casuística», mais para ser notícia do que para dar resposta às preocupações ambientais.  

Uma opção partilhada com outros grupos ou organizações de cariz ambiental no futuro passa pela criação de equipas jurídicas, que possam actuar de forma consequente e, «se necessário, com providências cautelares, sempre que os poderes públicos decidirem agir sem ouvir os cidadãos». Miguel Dias desabafa: «dá-me impressão que essa é a única linguagem que algumas câmaras entendem». 

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