«Sou sem abrigo, pronto, é isso que sou. Nos últimos cinco anos não tive casa, o meu rendimento mínimo é pouco para pagar um quarto e alimentação e por isso estou na rua. Foi uma opção que fiz, não é a mais correta… mas de momento tenho que optar pela rua. Claro que tenciono ter meu quarto e estudar, quero ter um curso! Gosto de Coimbra, mas tenho muita dificuldade em viver aqui, porque sinto que as pessoas me ignoram. Não olham para mim. Quer dizer, olham, mas não me vêem, porque eu estou na rua. Não uso drogas, eu só vivo na rua porque não consigo pagar uma casa, mas sei que quando olham pra mim pensam que tenho vícios. Sou filho único e a minha mãe já morreu há nove anos. Depois de ela ter morrido o meu pai expulsou-me de casa e não me deixa voltar. Sou herdeiro de parte da casa, mas não posso lá viver. Estou sozinho agora, nunca casei. Eu acho que sou uma pessoa normal, como toda a gente, que já tive trabalho, com vencimento ao fim do mês, vivia na minha casa, tinha a minha orientação, como toda a gente tem. Sou transparente, não crio problemas a ninguém. Passo as dificuldades que passo e procuro levar minha vida com respeito, acho que mereço.»
Este testemunho faz parte de uma reportagem sobre a população em situação de sem-abrigo em Coimbra que será publicada brevemente.