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De Pequeninos se faz esta Liga

Há uma associação sediada no Hospital Pediátrico que não só procura responder às necessidades dos utentes, como de todos os trabalhadores do meio hospitalar. Fomos conhecê-la e saber para que futuro sustentável trabalham.

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Fotografia: Mário Canelas

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«És das notícias?», pergunta o Afonso, com uma curiosidade desafiante que demarca bem os seus 11 anos de idade. Já quando entrávamos na Ludoteca do Hospital Pediátrico tinhamos ouvido essa mesma voz arrojada, a negociar uns segundos extra para arrumar os brinquedos dele, sobrepondo-se ao alarido de várias crianças que procediam a tarefas de organização semelhantes, à medida que se entoava uma contagem decrescente para a hora do lanche. Um pragmatismo disciplinar que nos surpreendeu pela total ausência de rigidez, evidenciando-se uma cumplicidade jovial entre miúdos e graúdos presentes na sala.

A sala em questão servia de palco ao Brincar no Hospital, um dos muitos projectos concebidos pela Liga dos Pequeninos. Também denominada Liga de Amigos do Hospital Pediátrico de Coimbra, a associação sem fins lucrativos nasceu há pouco mais de 10 anos no âmbito do Hospital Pediátrico, curiosamente por excesso de espaço, no moderno edifício  onde o hospital foi reinstalado em 2011. Enquanto o Pediátrico anterior permitia a muitos dos médicos e utentes conviverem regularmente, a amplitude das actuais instalações – benéfica para espaçar as diferentes patologias – revelava-se algo inóspita e carente de um certo calor humano.

É precisamente esse calor humano que a Liga procura incentivar no Pediátrico, qualificando este Hospital não tanto como um lugar-comum, mas um todo unificado. E isso implica a sua distinção de entidades como a ASIC – Associação de Saúde Infantil de Coimbra ou a Casa Acreditar, no sentido em que não se dedica a uma categoria em específico, abarcando no seu escopo auxiliar todos os que frequentam o meio hospitalar, tanto ao nível interno como para fora de portas e expedientes, desde médicos e enfermeiros a assistentes que, nas interrupções lectivas, recorrem à Liga para acolher os seus parentes mais novos num sítio seguro, lúdico e feliz como o que o Brincar no Espaço viabiliza.

André, com 11 anos, realça que a ocupação dos pais «não é aqui no hospital, é no hospital do universitário de Coimbra». O irmão gémeo do Afonso esclarece que o pai «marca quando as pessoas vão tirar sangue» e a mãe «é secretária, mas eu não sei muito bem o que ela.. é a mesma coisa que o meu pai, acho eu.» Refere igualmente que a mãe apreciaria um espaço como o Brincar no trabalho, «porque ela trabalha muito em casa e também trabalha muito lá no hospital e sente-se cansada depois de vir do hospital.» Quando lhe dizemos que certamente ele teria esse cansaço da mãe em conta para se portar bem em casa, ele responde com um sorriso parcialmente travesso: «Mais ou menos. Sou um bocado traquina.»

Ajuda para os pais

O cômputo geral dos pais destas crianças é de gratidão perante a Liga, precisamente pela iniciativa do Brincar enquanto espaço seguro e vizinho ao local de trabalho onde podem deixar as crianças, uma mais-valia que se torna ainda mais valiosa para quem não tem familiares por Coimbra a quem recorrer. Já a actividade em si não se resume a brinquedos e brincadeiras. Divide-se entre o entretenimento e a educação, com o equipamento a condizer. A Maria Dinis diz que às sextas-feiras à tarde costuma  «ver um filme ali na televisão», apontando de seguida para um tablet em formato de mesa onde «nós podemos ligar e jogar nele, jogos de lógica e cálculo mental».

A frequentar o Brincar desde os 5 anos, Maria Dinis – actualmente com 8 – já revela um indiscutível gosto por todas as actividades que o Brincar oferece (desde a leitura ao desenho), mas também um especial apreço pela aprendizagem, sobretudo nas semanas temáticas. «A semana passada foi das ciências, por isso nós fizemos quizzes, também fizemos experiências. Eu gostei muito dessas e escrevi algumas no meu caderno até.» Há então aqui um equilíbrio entre o lúdico e o educativo, tão útil quão necessário para as pausas lectivas. Até porque, como nos confessa a Madalena, já bastante saudosa dos horários e recintos escolares, «acho que as férias são demasiado grandes». O desabafo desta menina de 9 anos coaduna-se precisamente com a questão da falta de pessoal nos meios hospitalares e que efectivamente levou à criação do Brincar no Hospital.

«O absentismo era elevado nalguns pontos do ano e percebemos que eram nas interrupções lectivas, porque o médico, o enfermeiro, qualquer assistente operacional tem a sua própria família.» Quem nos aponta essa necessidade é Isabel Maia. A actual presidente da Liga dos Pequeninos e uma das fundadoras da associação elenca igualmente várias outras questões à qual a Liga procura responder, sem descurar o objectivo geral firmado há uma dezena de anos, que é de estabelecer uma relação biunívoca: «queríamos levar algo positivo do Pediátrico para a sociedade e, simultaneamente, que a própria sociedade pudesse ajudar com as necessidades que sabemos que este tipo de organizações tem».

«O absentismo era elevado nalguns pontos do ano e percebemos que eram nas interrupções lectivas, porque o médico, o enfermeiro, qualquer assistente operacional tem a sua própria família.»

Isabel Maia, presidente da Liga dos Pequeninos

Apoios e relação com a cidade

Essa ponte entre a acção social da comunidade, da sociedade e as necessidades do próprio hospital ditou a que a Liga tivesse de enveredar por projectos e parcerias, dado que o grupo não é subsidiado por qualquer entidade. A presidente da Liga elencou-nos assim os variados prémios sociais que a associação tem vindo a arrecadar, como o BPI La Caixa e Fidelidade Comunidade, que permitem o financiamento e a continuidade dos projectos da Liga dedicados a áreas tão distintas como a literacia para a saúde e bem-estar ou a música em ambiente hospitalar. Alguns desses projectos sofreram uma pausa forçada, dado o condicionamento que adveio da pandemia, mas o prosseguir nunca foi posto em causa. 

«Não queremos que o projecto tenha uma vida útil de um ano», esclarece-nos. «Queremos que esse ano inicial seja de um de monitorização e correção para que depois seja de sustentabilidade, pois cada projecto tem de ser sustentável ao longo da vida.» A responsável avança que o plano é que em 2023 as investidas externas regressem em força. Já o raio de acção da Liga não se limita a Coimbra mas propaga-se por toda a Zona Centro, abrangendo visitas a escolas – desde o pré-escolar aos ciclos seguintes -, contando também com as várias parcerias que a Liga tem com entidades como a PSP, a ASAE, o Auchan ou a Roche.

Inovação e inclusão

As duas últimas empresas mencionadas estiveram por detrás de uma das conquistas mais marcantes da Liga: a criação da primeira Sala Snoezelen em ambiente hospitalar pediátrico do país. Trata-se de uma sala de estimulação sensorial, com variados equipamentos de última gama, que permite um auxílio valioso às variadas secções de pedopsiquiatria. Embora seja muitas vezes classificada erroneamente como terapia, é um ambiente de relaxamento que facilita terapias e/ou diagnósticos dos mais novos. Uma iniciativa que cresceu com a criação de unidades móveis e que se destaca como um estandarte de referência nacional com o nome de Coimbra Inclusiva.

«Existem famílias que têm o dinheiro praticamente contado e, quando se vêm em situações destas, se não fosse a Liga dos Pequeninos, provavelmente não teriam dinheiro para adquirir os aparelhos.»

Fábio, pai

Partilhando esse teor de inclusão social, é o Pés e Pernas para Andar, iniciativa da Liga que consiste no aluguer de materiais ortopédicos a preços muito inferiores aos do mercado. Feita em parceria com o departamento de ortopedia e o serviço social do Pediátrico, ajuda muitas famílias como a de Fábio, pai de uma menina de 11 meses que, devido a uma luxação e displasia da anca, teve de usar várias talas ortopédicas. Ele relatou-nos o apoio incansável e eficaz da Liga para que a filha tivesse o aparelho necessário a uma correção médica apropriada, realçando ainda que «existem famílias que têm o dinheiro praticamente contado e, quando se vêm em situações destas, se não fosse a Liga dos Pequeninos, provavelmente não teriam dinheiro para adquirir os aparelhos».

Além de todas estas actividades, a Liga presta-se a encontrar mais campos para crescer em termos de iniciativa. Essas novas investidas abordam muitas das questões pós-pandémicas que têm vindo a demarcar-se na população mais jovem: o sedentarismo forçado – e o agravamento considerável da obesidade infantil nos últimos tempos , assim como as dinâmicas relacionais estarem cada vez mais dependentes dos ecrãs. De facto, os alertas pedopsiquiátricos têm-se centrado muito no papel positivo ou negativo que o digital tem no diálogo familiar, nomeadamente entre pais e filhos. 

Empatia para com o futuro

«O Covid também fez com que eles ficassem muito tempo também estagnados em casa e tem que haver sempre estas mudanças e estas interactividades, ajuda para eles se desenvolverem muito», confessa-nos a mãe da Carolina, técnica de radiologia nos CHUC, enquanto vai buscar a filha de 5 anos ao Brincar. Além das reacções positivas de pais e crianças, pudemos apreciar o brilho nos olhos de quem trabalha ou colabora presencialmente. «É maravilhoso deambular a brincar, a sorrir e a espalhar magia aos utentes deste hospital. Mesmo com um pequeno gesto conseguimos criar grandes momentos», confessa-nos Beatriz Carvalho. Já Renata Nunes descreve a experiência quotidiana na Liga como «realmente fantástica, porque se chega ao fim do dia com uma sensação maravilhosa e coração cheio». 

Já Cristiana Santos, que descobriu a Liga dos Pequeninos ao inscrever-se numa Feira de Voluntariado na Universidade de Coimbra, revela que tenta vir sempre que possível, «pois já tive um primo que teve muito tempo internado e acho importante responder a este tipo de necessidades. Vir fazer voluntariado para o Pediátrico puxou mais por mim e desde aí que ajudo no que posso, seja no Brincar ou noutras actividades como a recolha de tampinhas». A porta está aberta a qualquer «cidadão cool» que queira juntar-se a este grupo de amigos. «É assim que nós queremos, que é para ter uma perspectiva de envolvimento de todas as pessoas e para podermos estar quando é necessário e cirurgicamente necessário», afirma a presidente.

Perguntámos aos pequenos utentes do Brincar no Hospital o que gostariam de acrescentar na Liga. Muitas e variadas foram as sugestões, desde consolas e computadores para ver vídeos do YouTube até campos improvisados para jogar futebol. Mas a mais sonante acabou por ser a da Maria Inês, com 7 anos, futura veterinária. «Talvez um hamster, porque não estou a ver mais nenhum tipo de animais que possam entrar aqui. Tipo, um cão pode roer os livros e os brinquedos todos e um gato pode ficar a miar todo o dia e pode arranhar as pessoas.» Fica a dica.

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