Também conhecido como Festival sobre Igualdade de Género para Crianças, Jovens e Famílias, o Festival Género ao Centro tem como principal foco crianças de 3 a 18 anos. A primeira edição, no ano passado, foi realizado em Penela e Coimbra, e teve participação direta de mais de 800 pessoas. Por ser voltado para o público infanto-juvenil, o Festival foi pioneiro em Portugal, o que rendeu parcerias significativas como Centro Regional de Informação das Nações Unidas (UNRIC), localizado em Bruxelas, e que presta serviços de informação a 22 países da Europa, e apoio da Direção Regional da Cultura do Centro.
Vânia Couto diz que o pioneirismo causou algumas resistências. A mentora do evento e fundadora da associação Catrapum Catrapeia, entidade organizadora do festival em Coimbra, conta que causou «urticárias» junto à população mais velha da cidade. Comentários como: «Por que estão a fazer isso com as crianças?», «Por quê um festival tão perigoso como esse?», «Vão ensinar as crianças a serem homossexuais» ou «As crianças vão ficar traumatizadas» foram alguns dos que a também cantora e instrumentista recebeu.
Já «a reação das crianças foi maravilhosa», assegura Vânia. Dá o exemplo da reacção de algumas que subiram ao palco no final da conversa pós-espectáculo Frida e Chavela: uma Estória de Humanidade, no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, para interagir com Briana Preces, mulher transexual. Também partilhas feitas pelas crianças durante oficinas de pintura, como a de um menino que não gostava de jogar à bola e só o fazia para agradar aos pais.
É através das artes que o festival pretende contribuir para a formação «das novas gerações e de educadores e educadoras para um novo mundo no respeito pelos direitos humanos e a liberdade de sermos quem quisermos ser, independentemente do sexo, género, orientação sexual, etnia, idade, cultura, comunidade, com ou sem necessidades especiais», como é explicado na brochura do festival.
Um dos ganhos significativos na edição deste ano é a ampliação da quantidade de sítios onde o festival acontece. Na primeira edição foi em Coimbra e Penela, mas este ano é a vez de Góis e Condeixa-a-Nova, além de Coimbra. A previsão é de que cerca de 1200 pessoas participem, mais 50% do que no ano passado. Um crescimento que está alinhado com o objetivo maior do festival: tornar-se um evento de dimensão nacional.
Na edição de 2021, as linguagens artísticas utilizadas foram a música e a pintura. Este ano, a literatura será o pano de fundo das atividades que visam dissipar preconceitos e promover o respeito às diferenças dirigido ao universo infanto-juvenil – das crianças do jardim da infância até aos adolescentes que frequentam o ensino básico e secundário na região de Coimbra.
O programa deste ano
O mote é o Poder da Palavra, poder sentido nas palavras imortalizadas por grandes escritoras portuguesas e do mundo inteiro, bem como quando manifestada pelas crianças durante os quatro dias do festival. Ele será experienciado pelas crianças em dois formatos: através da realização de workshops de escrita criativa e poesia, e ao expressarem-se utilizando a poetry slam, género artístico que combina poesia, teatro, performance e narrativa – as origens do género remontam a Chicago no início dos anos 1980.
O ponto de partida é a peça Sons do Ó!, para crianças dos 6 aos 10 anos, em que a questão da igualdade e identidade de género será abordada através dos textos de grandes escritoras, como Nadia Murad, Maria Elena Walsh, Virginia Woolf, Carolina de Jesus, Angela Davis, além de excertos da obra Novas Cartas Portuguesas, um clássico da literatura portuguesa que completou 51 anos, de autoria das «três Marias»: Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.
Como na edição anterior, há debates abertos à participação do público após o espetáculo com profissionais e entidades especializadas na área do tema do festival, desde psicólogos, professores, estudantes de Estudos Feministas, formadores e agentes de instituições para a igualdade de género, influencers e ativistas.
O Cinamiza-te, como o nome deixa entrever, é composto da exibição de filmes, realizado em parceria com a a associação cultural XX Element Project, e tem especial enfoque nas temáticas da mulher, promovendo a igualdade do género.
Haverá também conversas abertas com a participação de jornalistas e convidados especiais engajados em ações de cidadania e direitos humanos, que depois serão transformadas em material pedagógico a ser utilizado na sensibilização para a igualdade de género, na luta contra a discriminação e a eliminação de preconceitos. Estas conversas terão transmissão na Rádio Universidade de Coimbra (RUC) pela Aborda, a primeira plataforma de jornalismo feminista em Portugal.
Convidados especiais
Sexta-feira, dia 25 de Novembro, a influencer, ativista e artista multidisciplinar Nuna dialogará com o público no auditório da Escola Secundária Dom Duarte, dia em que a escola comemora o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher.
Quem também já confirmou presença foi a jornalista e também professora Liliana Carona, que desafiou 23 estudantes do curso que lecciona de Comunicação Social da Escola Superior de Educação de Viseu a repensar e alertar para as formas de comunicação no mundo virtual. O desafio resultou no projeto «Não comentes com a boca cheia», um manual multimédia de boas maneiras com 23 conselhos.
O psicólogo cognitivo-comportamental Luís Franklin, que participa em conferências e formações para profissionais, pais e professores nas áreas dos problemas de comportamento, psicopatologia em crianças e adolescentes, é um dos repetentes nas conversas pós-espectáculo do Festival Género ao Centro que também conta com a participação de António Ferrari, assessor de Comunicação da Organização das Nações Unidas para Portugal no Centro Regional de Informação das Nações Unidas para a Europa Ocidental, em Bruxelas.
O programa conta ainda com um Sarau das Flores e uma roda de conversas interativa para debater o tema Direito e Mulheres, com as advogadas Evelyn Melo Silva e Olívia Pinto.