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RU(G)AS DE COIMBRA por Ricardo Jerónimo

Chama-se agora Avenida Fernando Namora, mas quando a conheci tinha um nome bastante subsidiário: Prolongamento da Avenida Elísio de Moura. Lembro-me de ir assistindo gradualmente à construção deste novo troço porque logo num dos primeiros prédios já construídos vivia um amigo do Jardim-de-Infância, à casa de quem continuei a ir, até por volta dos 12 anos, porque os pais dele eram conhecidos do meu pai.

Ir lá para casa era óptimo, porque tinha acesso a uma série de coisas que na minha não havia: um computador (onde jogávamos o Prince of Persia, o Indiana Jones, o Larry, o NBA 89); um leitor de vídeo VHS (para o qual íamos alugar filmes, sozinhos, ao Gira Vídeo); e uma óptima aparelhagem (ao lado de uma enorme estante cheia de CDs do pai, dos quais me lembro de ter gravado para cassete coisas tão diferentes como o Nevermind dos Nirvana e o Best of dos Supertramp).

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Nos dias em que não nos apetecia nada disto, pegávamos em dois velhos tacos de hóquei e, fingindo serem metralhadoras, rastejávamos pelos corredores do apartamento, a simular emboscadas, como no Platoon. A Avenida Fernando Namora, para mim, sempre foi mais esse Prolongamento sem saída, ou melhor, com a saída em vias de o ser, onde um dia subi a um bulldozer, só porque ele estava por lá num fim-de-semana e eu fiquei curioso sobre estar lá em cima, aos comandos daquela máquina. Mas, mesmo ao lado do alcatrão que ia sendo depositado, havia um estreita calçada, de pedra irregular, cujo traçado ainda hoje se percebe e que ligava esse extremo da Solum ao Alto de São João, em direcção à Portela.

A certa altura ficava paralelo ao carril da automotora que, vinda do Parque da Cidade e fazendo escala no apeadeiro de São José, seguia para o ramal da Lousã. Era um bom caminho para percorrer de BMX, às vezes com direito a uma inglória corrida com o veículo ferroviário, após a qual só me restava regressar pela Casa Branca, por uma estrada um pouco mais normal, a da Beira, com destino ao Calhabé. Espero que me perdoem o exagerado name dropping urbano neste parágrafo final mas, naquele tempo, isto era o máximo que eu conseguia ser da street.

Texto: Ricardo Jerónimo
Fotos: Coolectiva

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