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A fotografia ao serviço de diferentes causas e o poder de um olhar irresistível

Houve uma pessoa que me mandou um e-mail há uns tempos, a contar que veio de propósito da Suíça a Leiria buscar um cão, por causa da foto no Instagram, dispara João Azevedo. Em cerca de dois anos de Be My Friend, o projecto que ajuda patudos disponíveis para adopção, o fotógrafo já conta com 1880 de cães e gatos fotografados, de Norte ao Sul do país. São 65 sessões em 36 espaços diferentes, quase sempre com uma história triste por trás. 

Está tudo no olhar. De Matosinhos a Cascais, passando por Coimbra, Condeixa e Lousã, mais de um milhar de animais foram adoptados e uma boa parte por causa das irresistíveis fotografias que João Azevedo produz de forma meticulosa e apaixonada. É desafiante, mas na semana passada fui a Cascais e fotografei 60 cães em 2h30. A missão é fotografar o máximo possível, explica. O profissional, com estúdio em Coimbra, conta que são raros os animais propriamente com disposição para serem fotografados, dos mais enérgicos aos mais tímidos, mas isso não é obstáculo. 

É um misto de diversão com stress, mas quando chego a casa e começo a ver as imagens já fico com os olhos a brilhar e apetece-me editar e publicá-las logo. Depois tem a parte das adopções, às vezes são os próprios adoptantes que vêm agradecer as fotos. 

O Be My Friend também já teve uma componente vídeo, em parceria com Mariana Norton. Impedido de fotografar durante o segundo confinamento, João Azevedo começou a fazer montagens vídeo com imagens enviadas por instituições e vozes de figuras públicas. A Inês Santos seguiram-se a de Rui Unas, Inês Castel-Branco e Fernando Alvim, por exemplo. João garante que o impacto foi grande nas redes sociaisLembro-me do Sr. Silva, um cão cego, com a voz do Ivo Canelas, que foi adoptado rapidamente, recorda. A cada clique, aumenta o número e cresce a técnica do fotógrafo, evolui a estética e acontece a experimentação. Isto é acima de tudo um projecto fotográfico, mas que também faz a diferença para aquelas famílias e para aquele cães, define Azevedo, sempre pronto a fazer-se à estrada para tirar a próxima chapa, munido de tela, flash e tripé. 

Coimbra Out Loud

Maomé vai à montanha mas a montanha também vai a Maomé. Ultimamente é grande o corrupio de artistas, desta feita humanos, a entrar e a sair do estúdio de João Azevedo na Arregaça. Começou a segunda ronda de sessões da rubrica Coimbra Out Loud, em parceria com a Coolectiva, com mais de 3 dezenas de peças com fotografias e texto biográfico de músicos de Coimbra ou com grande relação com a cidade.

Além do lado artístico da fotografia, as histórias são sempre muito interessantes, são pessoas cheias de projectos, de ideias, talentosas, e estamos a colocá-las online, pesquisáveis, algumas simplesmente não existiam online, conta o autor do projecto publicado mensalmente. Desde estrelas do rock e punk local, como Victor Torpedo, Afonso Pinto, Kaló e Raquel Ralha, até à cantora lírica Lara Martins, o músico jazz Luís Figueiredo, o jovem Paulo Sousa e o rapper Ruze.

E a transformação funciona para ambas as partes. João confessa que antigamente conhecia as bandas mas não ligava assim muito à música de Coimbra, nem ia a concertos. Hoje, é um habitué da cena musical da cidade e a ideia é um dia o projecto ganhar corpo numa exposição ou mesmo num livro.

Projectos à parte, Azevedo continua a dedicar-se à especialidade que é a fotografia profissional, inclusive bonitas fotos de família, com diferentes cenários – até de Natal. O que o motiva é, sobretudo, o efeito que as sessões têm em quem está do outro lado da lente. Trabalhar as expressões das pessoas, deixá-las espantadas no final com o resultado, diz. A maioria dos meus clientes começa por dizer que não gosta de ser fotografada, ou que nunca ficam bem na fotografia, mas a verdade é que através do jogo de ângulos e expressões saem quase sempre como se estivessem no seu melhor dia. As sessões podem até nem ser por iniciativa própria, o fotógrafo disponibiliza vouchers por isso também podem ser um presente para alguém especial.

Texto: Filipa Queiroz
Fotos: João Azevedo

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