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RU(G)AS DE COIMBRA por Ricardo Jerónimo

Para muitos como eu, a Rua Almeida Garrett nunca teve essa designação. Na verdade, sempre se chamou a Rua da Via, nome este que, por sua vez, remetia para uma antiga estrada italiana… Enfim, apropriações rodoviárias… A Via que ficava naquela rua era a Via Latina, discoteca que teve provavelmente o seu auge nos anos […]

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Para muitos como eu, a Rua Almeida Garrett nunca teve essa designação. Na verdade, sempre se chamou a Rua da Via, nome este que, por sua vez, remetia para uma antiga estrada italiana… Enfim, apropriações rodoviárias…

A Via que ficava naquela rua era a Via Latina, discoteca que teve provavelmente o seu auge nos anos 90 e da noite coimbrã. A expressão Rua da Via usava-se (e ainda se usa por quem tenha pelo menos trinta e poucos anos, apesar de já não haver Via naquela Rua) para quando queríamos responder a alguém coisas como Onde estacionaste o carro? ou Por onde descemos para a Praça? ou Onde fica o Noites Longas?. Claro que o atalho no discurso que representava a rua da Via não se usava para informar onde era a Via propriamente dita, porque quem não soubesse onde era a Via, era provavelmente de fora e então as referências tinham que ser outras, como a Praça da República, o Jardim da Sereia, a Penitenciária ou, por estranho que possa soar, a Rua Almeida Garrett.

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A partir de certa altura, tornou-se um clássico ir à Rua da Via, madrugada dentro, comer um cachorro. Estava lá uma roulotte estacionada em permanência, mesmo em frente à porta da discoteca e, todas as noites, a fauna nocturna, de origens muito diversas, por lá ia passando. Entre muitos outros, quem por lá ficasse pelo menos 30 minutos cruzava-se certamente com um beto que tinha saído do João Ratão e tinha descido para apanhar o táxi, um gajo do ‘tunning’ que estava a fazer ali escala sabe-se lá entre que destinos, um bêbedo chato que nem sabia bem onde estava e o Sony, vendedor de flores. Obviamente que, um ou outro cliente a caminho ou vindo da Via, também parava por ali. No meu caso, ir comer aquele cachorro de duvidosa qualidade, ao qual gulosamente sobrepunha infindáveis doses de batata-palha e mostarda, servia muitas vezes de posto de reabastecimento entre o OAF ou a Casa de Trás-os-Montes e o States. A partir desse ponto do trajecto, se estivesse sozinho, subia até à Cruz de Celas, passando a Maternidade, e depois era só percorrer a Calouste Gulbenkian. Se estivesse acompanhado, arriscava ir por um escuro atalho que em certo ponto era só feito de escadas, ali entre a Antero de Quental e a igreja de Montes Claros.

Quando me mudei para a Rua Pedro Monteiro, mesmo por cima do Jardim da Sereia, passei a subir e descer a pé, ainda com mais frequência, a Rua da Via, nos mais diversos horários, a caminho do trabalho, da Baixa, da Universidade, do TAGV ou dos cafés da Praça. Nessa altura a roulotte já lá não estava (ainda se mudou durante uns tempos para o fundo das Monumentais), mas sempre que por ali passo ou estaciono, lembro-me sempre daquele beto, daquele gajo do tunning, daquele bêbedo chato, do Sony e de mim.

Texto: Ricardo Jerónimo
Fotos: Coolectiva

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