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Comemoramos a chegada da Primavera e o Dia Internacional da Síndrome de Down no espaço que emprega pessoas com deficiência intelectual. À conversa com Mariana Silva, Mónica Velho, Miriam Bernardino e Helena Albuquerque percebemos que só «quando não se conhece, não se inclui».

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Fotografia: Mário Canelas

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Sob a coordenação de Miriam Bernardino, a Casa de Chá, no Jardim da Sereia, funciona de sábado a quinta-feira e quem atende é Mariana Silva ou Mónica Velho. Mariana completará 23 anos em Outubro e trabalha aqui desde junho do ano passado. Mora há quase três anos no Lar Residencial São Silvestre, é muito ativa, pratica padle, que adora, e diz que o desporto a ajudou muito na concentração e coordenação. Também nada, canta e faz qualquer atividade oferecida pela APPACDM CoimbraAssociação Portuguesa de Pais e Amigos Do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra.

Enquanto Mariana é reservada, a colega de trabalho é exatamente o oposto. Mónica nasceu na Guarda, há 37 anos, mas a família veio para Coimbra quando ainda era miúda. «Sou a Mónica, mas podem chamar-me de Moniquinha, se quiserem. Sou uma pessoa muito amável, cheirosa, sou uma rapariga muito fofinha.» A funcionária mora com os pais e uma irmã em São Martinho do Bispo e conta que tem uma sobrinha, Maria Clara, de seis anos. Começou a trabalhar na Casa de Chá em 2011, pouco depois de ter aberto as portas para moradores e turistas de Coimbra, e diz que é um lugar onde se sente muito feliz.

Mariana Silva e Mónica Velho

Segundo Miriam, nos 12 anos de funcionamento da Casa de Chá, nunca houve qualquer problema por parte dos clientes, mesmo por parte quem vai lá sem saber do propósito do empreendimento social. Situada no emblemático e verdejante Parque de Santa Cruz, como é originalmente chamado, em pleno coração de Coimbra, o espaço é gerido em parceria pela APPACDM e a Câmara Municipal, aproveitando os antigos edifícios da Casa do Guarda e dos sanitários, recuperados para criar um ambiente aconchegante e em harmonia com a paisagem envolvente.

Aberta todos os dias excepto às sextas-feira, serve almoços, lanches e uma grande variedade de sabores regionais, doces e salgados. Também está disponível para a realização de festas, reuniões, convívios, almoços e jantares, sendo que todas as receitas revertem a favor da APPACDM de Coimbra. Já o Lar Residencial que referimos antes também uma resposta social para pessoas com deficiência e ou incapacidades que estão impedidas, temporária ou definitivamente, de residir no seu meio familiar. A APPACDM conta com três unidades. 

Mariana Silva e Helena Albuquerque

Helena Albuquerque preside a APPACDM e conversar com ela encanta qualquer pessoa. O encantamento, ao longo da escuta, arrebata-nos, levando-nos para um universo de delicadeza, afeto e amor, encapsulados por um profundo senso de responsabilidade social. O atendimento que a  APPACDM presta aos seus 1,2 mil utentes e seus familiares é «um serviço para toda a vida», segundo a presidente. Além de Coimbra, a instituição tem unidades em Montemor-o-Velho, Arganil e Catanhede.

Os utentes da associação têm seu Plano de Desenvolvimento Individual que é revistos anualmente juntamente com os familiares. Atividades físicas também são largamente estimuladas. Padle, piscina, ginástica e música são oferecidos três vezes por semana e na quinta-feira há ensaio de tuna. A Casa de Chá é um dos dez tipos de serviços oferecidos aos utentes que são transformados em serviços para a comunidade e talvez o mais conhecido. Os funcionários são do Centro de Atividades Ocupacionais de São Silvestre ou formandos do Curso de Mesa e Bar e o objetivo é promover as competências profissionais das pessoas com deficiência ou alguma forma de incapacidade mental, e também mostrar à sociedade civil as aquelas mesmas competências.

Casa de Chá

Helena estima que cerca de 12 pessoas já tenham trabalhado na Casa de Chá e explica que a formação prática no contexto de trabalho que eles ganham não resulta necessariamente em contrato laboral. Por um motivo simples, mas que leva à iniquidade: a legislação sobre cotas não contempla as especificidades das diferentes deficiências e as vagas nas empresas terminam por serem preenchidas por pessoas com deficiência física. «As políticas devem ser específicas», alerta Helena. Ainda falta representatividade das pessoas com deficiência intelectual nos locais de trabalho. Dito de forma mais contundente: pessoas com deficiência intelectual continuam invisíveis. Esta invisibilidade é um dos resultados de falta de conhecimento. «Quando não se conhece não se inclui», diz a presidente da APPACDM Coimbra.

Para Helena Albuquerque integrar é simples, mas incluir requer muito mais. Integração é estar presente, inclusão é ser visto. Para trazer esta questão à prática aqui cabe uma famosa citação erroneamente atribuída à Albert Einstein: «Se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele viverá a vida inteira acreditando que é estúpido.» Nas palavras de Helena: «É preciso adequar o meio para receber as pessoas com deficiência intelectual, criar um espaço de inclusão». A dificuldade de aceitar o diferente é fruto da falta de empatia, acredita, afirmando que esse problema é resolvido através do conhecimento.

A Casa de Chá do Jardim da Sereia parece o sítio perfeito para o desenvolvimento da empatia por parte daqueles que ainda não percebem que peixes nadam, aves voam, felinos sobem em árvores. E as oportunidades oferecidas pela APPACDM Coimbra para promover a empatia não se limitam a chás, tostas, bolos de laranja e sopas.

A vossa viatura necessita de água? Os utentes da associação fazem todo o serviço de lavagem externa, interna, de tapetes, de tecto e de estofos. O jardim está precisar de cuidados? Os jovens do programa Manutenção de Espaços Verdes atendem tanto particulares como empresas privadas e organismos públicos, para serviços de instalação de jardins, limpeza de espaços verdes, serviços de jardinagem, desmatação, abate/poda de árvores, entre outros serviços.

Melhor ainda quando se aprende em ambiente de lazer, através do turismo social. Esta é a proposta do Centro de Férias Quinta da Fonte Quente, localizado na Tocha. Utilizado por grupos da área de deficiência intelectual, deficiência física e pessoas em situação de exclusão, o centro também é procurado por escolas e colégios, grupos de escuteiros. Entre as atividades oferecidas estão ateliês de pizza, de broa e de dança, karaoke, caminhadas na natureza, com acesso às praias marítima e fluvial a curta distância. 

Mónica Velho

O «para toda a vida» que Helena refere é literal. Inclusive o atendimento a gestantes que descobriram que seus bebés têm Síndrome de Down e resolveram continuar a gravidez. A Academia de Saberes talvez seja o mais emblemático programa a atestar a afirmativa, por destinar-se a pessoas com deficiência que não têm uma ocupação diária por não estarem a trabalhar, nem a estudar e nem a frequentar formação. «Este projeto procura, em particular, dar resposta a ex-formandos que tendo concluído o seu percurso formativo não obtiveram uma colocação ou, tendo sido colocado em emprego ou modalidades alternativas de colocação, a mesma cessou.»

A enorme dificuldade para conseguir efetivo espaço no mundo laboral está muito enraizada na infantilização das pessoas com deficiência intelectual. «A deficiência ou santifica ou demoniza», resume Helena Albuquerque. Para ela, o eufemismo «cromossomo do amor», muito utilizado para tentar explicar o cromossomo extra que caracteriza a Síndrome de Down, não ajuda em nada na aceitação e inclusão. Pelo contrário. Relega-os a nichos e os separa.

O que está em sintonia com o tema deste ano da campanha do Dia Internacional da Síndrome de Down em 2023: With Us Not For Us (em português «connosco, não para nós»): uma mensagem que vai contra a abordagem capacitista e sim inclusiva por estar sustentada nos direitos humanos (mais informações no marcador em cima). Para Helena Albuquerque é urgente que se perceba que esta não é uma questão circunscrita às pessoas com deficiência intelectual e seus familiares. «É uma questão de todos porque é transversal», diz. É uma questão de direitos humanos. Pessoas com deficiência intelectual têm defeitos e qualidade como todos nós: «são cisnes que nasceram num mundo que se valoriza a capacidade de voar», define Helena. 

Fez-nos lembrar o primatólogo e escritor Frans de Waal, que estuda os primatas há cinco décadas e no seu último livro Somos inteligentes o bastante para saber quão inteligentes são os animais? afirma que «medimos a inteligência animal numa escala em que humanos estão sempre no topo».

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