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Aldeia da Inovação Social

Aldeia de Inovação Social: fomos mais de mil a trazer à Luz ventos de mudança

O encontro pôs à conversa empreendedores sociais, organizações de Economia Social, investidores, entidades públicas, cidadãos e parceiros que arregaçam as mangas por um país melhor. E tudo na espantosa aldeia alentejana que é, ela própria, um exemplo de inovação.

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Fotografia: Filipa Queiroz

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«Miguel Torga escreveu que só há duas coisas grandes pelo tamanho e pela força: Trás-os-Montes e o Alentejo. Trás-os-Montes é o ímpeto e a convulsão e o Alentejo é o fôlego e a extensão do alento», cita Filipe Almeida. Foi com a descrição do escritor que o «ensinou a olhar para o país antes de sair do quarto» que o presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social inspirou dezenas de pessoas às primeiras horas da Aldeia da Inovação Social, na aldeia da Luz, Alentejo. Isto porque «Torga refere que», continua, «talvez pensando em navegadores como o Vasco da Gama, nascido em Sines, não é de admirar que na planura alentejana nascesse a fé e a esperança num destino nacional do tamanho do mundo. Porque só destas ondas de barro que sucedem, sem naufrágios e sem abismos, se consegue partir com confiança para as verdadeiras. E é isso que estamos aqui a fazer».

Aqui é na nova povoação que foi edificada em 2002 num local muito próximo da antiga Luz, submersa devido à construção da barragem do Alqueva. Aqui onde foram construídas 212 casas de habitação, de arruamentos, largos e estradas, de estabelecimentos comerciais e de equipamentos coletivos como escolas, um centro de saúde, equipamentos desportivos, um jardim público, um cemitério, o santuário de Nª Srª da Luz – à imagem do original de fundação quatrocentista – e um museu, como lugar de memória e criação. Aqui, distrito de Évora, Município de Mourão e, nos dias 20 e 21 de Junho, ponto de encontro nacional de empreendedores sociais, organizações da Economia Social, investidores, entidades públicas, cidadãos interessados e parceiros da iniciativa pública que visa promover a inovação social e dinamizar o mercado de investimento social em Portugal.

As terras de cultivo, agora regadas pela barragem, foram distribuídas pela população da Aldeia da Luz, impondo-se hoje a vinha e o olival na nova paisagem. Mas a razão institucional para fazer aqui a segunda edição de um evento que era suposto ser único deve-se ao ser, em si mesma, um projecto de inovação social «que merece a atenção do circuito dos empreendedores sociais». «Porque está afastada do que é o circuito mais tradicional do turismo interno e externo, porque as pessoas 20 anos depois ainda estão em fase de adaptação ao seu lugar e porque é um lugar belíssimo no interior relativamente esquecido do país», justifica Filipe Almeida, de chapéu na cabeça e orgulho nos olhos.

«Era difícil não cedermos à pressão que vínhamos sentido do ecossistema ao longo destes anos», continua o responsável, lembrando o impacto da primeira Aldeia, realizada em Julho de 2018 na Cerdeira, Serra da Lousã. «Ao longo destes cinco anos, como os 42 projectos se transformaram em 694, como as primeiras 40 organizações se transformaram em 477, como temos 843 investidores e uma rede europeia que se vai juntar a nós, neste momento com impacto até no Brasil, o ecossistema há muito que nos pedia, porque somos os únicos com capacidade de chamamento de todos, que criássemos um momento em que nos encontrássemos.»

Luz na aldeia

À chegada ninguém diria. Tivemos a impressão de que nos tínhamos enganado na hora, talvez no dia, porque não víamos ninguém. Mas depois de finalmente encontrar o Largo 25 de Abril, entre as dezenas de casas caiadas de branco e ruas impecavelmente pavimentadas e limpas, descobrimos a multidão de participantes a fazer fila para recolher a credencial e o saco de brindes que incluíam um chapéu de palha e um leque de papel, porque os termómetros ameaçavam subir. Sob fitas e outras decorações, preparadas inclusive pelos habitantes da aldeia, ouvimos cante alentejano e vimos dançar os Lisbon Breakers, enquanto preparámos os sentidos para a avalanche de informação, contactos e boas energias que se seguiram.

Filipe Almeida diz que o encontro só foi possível com o apoio de diversos parceiros e o patrocínio de mais de duas dezenas de empresas e fundações, mas assegura: «a nossa equipa crescerá em breve no Portugal 2030». Esta 2.ª edição da Aldeia da Inovação Social está integrada dentro das atividades a desenvolver por Portugal no consórcio europeu designado ESF+ Network of Competence Centres for Social Innovation, que adotou na sua comunicação o nome genérico FUSE (Facilitating United approaches to Social innovations in Europe), no âmbito da iniciativa lançada pela Comissão Europeia de apoio à criação de Centros Nacionais de Competências para a Inovação Social, em cada um dos Estados Membros da União Europeia.

Portugal está representado nessa iniciativa pela Agência para o Desenvolvimento e Coesão (AD&C) e pela Estrutura de Missão Portugal Inovação Social (EMPIS), com o apoio de quatro parceiros de referência – a Fundação Calouste Gulbenkian, a Universidade Católica Portuguesa, o Banco Montepio e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa/Casa do Impacto, acompanhados por um Conselho Consultivo composto por cerca de 40 entidades do ecossistema de inovação e investimento de impacto nacional.

Coimbra na Luz

Além de nós, entidades como a Palhaços d’Opital e empresários como Manuel Tovar, co-fundador da Loop co. foram alguns dos participantes naturais da nossa cidade. «Tinha um bocadinho de medo que nalguns palcos houvesse pouca gente, que falassem para o boneco, afinal são seis palcos, mas não, estão todos sempre cheios», observa o co-fundador da Loop Co. que, recentemente, se juntou à Loja do Zero para lançar uma joint venture dedicada ao futuro do granel e das embalagens inteligentes, a Zeroo Smart Packaging, que visa apresentar soluções mais sustentáveis a retalhistas e consumidores.

Miguel Portugal, sócio de Tovar, diz que «o ambiente [na Aldeia] é muito propício para conhecer pessoas, primeiro porque elas têm causas comuns e uma vontade empreendedora e iniciativa que as une, em segundo lugar apesar de ser um espaço relativamente amplo acaba por se tornar pequeno e permitir que esse encontro aconteça». Dos temas pertinentes e interessantes, Portugal destaca as questões legislativas sobre aquilo que é a inovação social. Já Manuel Tovar congratula o facto de ouvir coisas como «a EDP a dizer que já falou com o presidente da junta e vai instalar painéis e não sei quantos edifícios da aldeia, portanto há uma série de coisas deste evento que vão ficar cá», mas considera que o ambiente e a sustentabilidade deviam estar mais presentes na agenda da inovação social.

Joana Moscoso, bióloga e fundadora da Native Scientists, conta que seis dos cientistas que ligou a crianças das mesmas comunidades imigrantes saíram da Universidade de Coimbra e que, depois de conhecer bem o ambiente de inovação social do Reino Unido, está muito contente de ver que aqui também «somos muitos».

«Estou surpreendida pela positiva porque sinto que é um trabalho algo solitário, sinto algum isolamento no dia-a-dia, sinto que o que faço é disruptivo, mas aqui encontro pessoas que estão exactamente a viver o que estou a viver e é bom, é reconfortante», afirma a activista pela redução das desigualdades, promoção de uma educação de qualidade e celebração da diversidade, cujo projecto educativo acaba de ser premiado no Novo Bauhaus Europeu com um prémio de 30 mil euros. Com sede em Braga e em Londres, e apoiado por empresas como a Feedzai, criada em Coimbra, venceu na categoria de Campeões da Educação, levando o galardão na temática Recuperar um Sentimento de Pertença.

Na Aldeia da Inovação Social, Gonçalo Quadros foi uma das personalidades a partilhar a história de vida inspiradora, cujo percurso passou pela inovação social, na cénica Casa dos Pássaros. A Critical Software é uma das empresas financiadoras da Aldeia da Inovação Social e de projectos como o TUMO Coimbra, que também esteve em cima da mesa na Luz. Joana Pires Araújo, co-directora da Coimbra Coolectiva, teve a oportunidade de falar sobre nós no painel Inspirações e Oportunidades a convite de Fábio Silva, da Rede Muda Mundo.

Perguntámos a Filipe Almeida como é que Coimbra se posiciona no que toca à inovação social e o filho da terra não hesitou: «muito bem. Tem alguns projectos instalados que dão bastante esperança em relação ao futuro. Além da incubadora InovSocial, projectos como o vosso, a Coimbra Coolectiva, convocam a comunidade para pensar os seus problemas, reflectir e agir sobre eles, que é um princípio de inovação social. Há vários projectos a acontecer». O responsável avança que, neste momento, estão a desenvolver uma «parceria bastante interessante com a Câmara Municipal de Coimbra, que é o que acontece no resto do país, um grande dinamismo com as Câmara Municipais, e há grande abertura e grande perspectiva». «Estamos todos a olhar para o futuro», remata.

Pioneirismo

Portugal tem um dos ecossistemas de inovação social mais dinâmicos do mundo e, ao longo de cinco anos, conquistou mais redes, mais parcerias e maior diversidade. Ficou bem claro ao longo dos dois dias de aldeia, com dinâmicas a acontecer em seis palcos em simultâneo e em total harmonia com a comunidade residente da aldeia da luz, que o nosso país é actualmente um laboratório experimental de novas respostas sociais com elevado potencial de impacto na vida de milhares de pessoas e famílias e que inspiram a evolução de políticas públicas. Era melhor que não precisássemos de empreendedores sociais, claro, mas eles estão aí e com o coração repleto de esperança, optimismo e perseverança.

Nas próximas semanas daremos conta de alguns momentos que presenciámos e histórias que descobrimos durante a iniciativa onde participaram cerca de 170 oradores, foram apresentados mais de 40 projectos na primeira pessoa, aconteceram 10 mesas redondas, 21 oficinas e 10 conversas improváveis, como a de António Bagão Félix, ex-Ministro do Trabalho e da Segurança Social e ex-Ministro das Finanças com Sara Claro, aluna 9º ano EB2,3 Olivais e membro da Rádio Miúdos sobre os maiores desafios da sociedade e do planeta. Entre os participantes também esteve uma comitiva de meia centena de pessoas de 21 países europeus, incluindo a Comissão Europeia, e o Brasil.

Eduardo Graça, presidente da CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social e co-produtor e organizador da Aldeia da Inovação Social, disse que o «grande magma de organizações que tem no seu centro o associativismo livre, que é uma pedra chave das sociedades democráticas, em particular da nossa sociedade, tem de ser apoiado e protegido». «É inelutável a sua presença e desenvolvimento na nossa sociedade, ao que se junta a inovação social que é hoje também uma pedra muito importante para que haja dinâmicas progressivas de desenvolvimento das comunidades, dos empreendedores, daqueles que dedicam as suas energias e o seu tempo a apoiar o desenvolvimento socioeconómico e cultural das nossas sociedades», remata. 

«A inovação social é o que faz reduzir a necessidades da emergência e da assistência social», atira João Baracho, presidente da ESLIDER. «É isso que estamos aqui a fazer, a fazer coisas inovadoras e não só coisas bonitas. Queremos melhores políticas públicas. Apoiamos o financiamento de impacto, mas não podemos esquecer que inovar socialmente é criar, é ter ideias disjuntivas, e essas ideias nem sempre são capazes de convencer as pessoas a financiar. É bom que as empresas estejam aqui a viver isto connosco e saber que há apostas que têm de ser corajosas, apostam na mudança e nas ideias disjuntivas.»

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