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Apesar dos holofotes em Coimbra B mantêm-se os protestos contra desativação da Estação Nova

Falámos com quem usa a estação e ouvimos quem no dia 31 de Janeiro, às 8h, se vai concentrar junto à também conhecida como estação «Coimbra A» para protestar contra o seu encerramento.

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Fotografia: Mário Canelas

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«Não faz sentido» é certamente a expressão mais ouvida entre os utilizadores da Estação Nova, em Coimbra, a respeito da sua desactivação. Mesmo quem não utiliza os comboios com frequência fala de forma crítica sobre o assunto. A decisão do encerramento da estação foi tomada no âmbito da instalação do Metrobus pelo Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) e prevê a interrupção do movimento nos carris até ao centro da cidade para o início de 2024.

Às vésperas de uma nova mobilização da sociedade civil contra o encerramento da chamada «Coimbra A» e dois meses depois de o assunto ter sido tratado por deputados da Assembleia da República, sobram expetativas e dúvidas sobre o futuro da mobilidade, da centralidade, do comércio e do ritmo de vida dos habitantes de Coimbra. Haverá luz no fim do túnel?

Para o Movimento Cívico pela Estação Nova (MCEN), criado em Março de 2020, a resposta é sim. «Mantemos a esperança. Sabemos desde o início que esta é uma questão muito complexa, sempre reconhecemos isso, mas tivemos retorno das pessoas, sobretudo positivo. Continuamos realistas. Depois da audiência no Parlamento [em novembro de 2022], vimos que as pessoas estão a concordar com o que estamos a dizer. Isso dá validade aos nossos argumentos», enfatiza o urbanista Luís Neto, membro do MCEN. O movimento foi criado em março de 2020 com o objetivo de questionar e evitar o encerramento da Estação Nova. Quase três anos depois, o grupo volta às ruas neste 31 de janeiro para a primeira mobilização do ano e conta agora com o reforço dos movimentos ambientalistas Climaximo, Greve Climática Estudantil de Coimbra e Climação Centro – o último associado também à luta contra o abate de árvores em Coimbra, outra consequência do SMM.

Quem são os «invisíveis» da Estação Nova?

Desde o anúncio do encerramento da Estação Nova, grupos da sociedade civil e administração pública têm sido ouvidos (ou procurados para falar) sobre o assunto. De um lado estão, por exemplo, representantes do MCEN e do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI) – o primeiro aponta os prejuízos aos cerca de 1,3 milhões de pessoas que utilizam Coimbra A todos os anos e propõe alternativas – inclusive conciliando o Metrobus; o segundo reuniu-se com o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, a 12 de Janeiro, para alertar para os prejuízos que o encerramento da estação trazem à comunidade. Do outro lado, as gestões municipal e nacional consideram o debate «extemporâneo» e alegam sobre prejuízos advindos de eventuais alterações ao projecto da Metro Mondego (MM).

Mas, afinal, quem é que utiliza as plataformas da Estação Nova e o que pensa sobre o assunto? Até onde essas pessoas foram ouvidas nessa troca de argumentos e reivindicações? «O encerramento de Coimbra A tem um impacto ainda invisível. Porque a grande maioria das pessoas que usa aquela estação meio que são de invisíveis para a “elite” da cidade. Se perguntarem a essa elite, dirão que a estação não é utilizada», aponta Luís Neto. O facto é que, numericamente falando, para uma Coimbra com mais de 140.800 mil habitantes, os cerca de 4 mil passageiros que embarcam e desembarcam rotineiramente na Estação representam uma multidão diante das únicas 11 pessoas que participaram na consulta pública sobre o assunto colocada a termo em 2018 – e das quais mais da metade criticou a proposta.

E se a consulta pública de 2018 tivesse sido feita no espaço público mais diretamente afetado pela proposta – a Estação Nova e seu entorno? Durante um fim de tarde, conversamos com homens e mulheres que vivenciam Coimbra A, seja como passageiros, comerciantes, funcionários. Ao todo, 13 pessoas (número portanto superior ao de participantes da consulta pública referida) conversaram conosco sobre o assunto. Apenas dois aceitaram o encerramento da estação, sob a condição de se entender melhor o que será oferecido como alternativa. Todos os demais concordaram que o encerramento trará prejuízos.

«É a maior asneira tirar a Estação daqui», diz Cristina Antunes, auxiliar de jardinagem. «Se tirarem, travam Coimbra completamente. Temos tudo à volta. Acho que esta estação vai fazer muita falta se for mesmo abaixo. Já temos falta de autocarros, se nos tiram a estação, então, como a gente se desloca para o trabalho?», questiona Cristina, que todos os dias faz o percurso Figueira da Foz – Coimbra.

Nuno Carvalho, companheiro de Cristina, também opina. «Não concordo nada. Isto é um monumento, um ex-libris da cidade. Os autocarros aqui estão todos à porta. Mudar para Coimbra B significa ter que chegar mais cedo para não chegar atrasado ao trabalho», explica Nuno, que utiliza a Estação Nova de segunda à sexta. «Venho cedo e saio tarde», diz. Lara Bandeira, que vem de Aveiro todos os dias, comenta: «Não faz sentido alterar a vida das pessoas. É um erro. Aqui está tudo perto: universidade, escolas, autocarros, tudo à mão. Tantos estudantes a utilizar esta estação. Não seria bom retirá-la».

Paula Almeida, funcionária pública, vai mais além e aponta para prejuízos dentro e fora do espaço dos comboios. «Tudo que está à volta da estação será prejudicado a nível de comércio. A Baixa da cidade vai passar por uma fase complicada, se isso acontecer. Apesar das pessoas andarem a mover abaixo-assinados, as autoridades locais é que fazem estas coisas», comenta Paula, a respeito do abaixo-assinado com mais de 3.400 assinaturas entregue pelo MCEN a deputados da Assembleia da República em novembro do ano passado.

O documento entregue pelo Movimento Cívico pela Estação Nova está nas mãos do deputado Pedro Coimbra, relator que analisa a petição. «No seguimento desta mesma petição, seria ótimo termos resposta positiva do deputado relator, a quem compete analisar e realizar um relatório da petição e da audiência. Ele tem o poder de levar a petição ao plenário. Isso teria todo interesse porque, embora o tema seja local, tem importância suficiente para ser levar o caso à Assembleia da República», enfatiza Luís Neto.

A «nova centralidade» de Coimbra em questão

Mesmo quem não pode se identificar publicamente demonstra preocupação com o encerramento da estação. É o caso de um revisor da Comboios Portugal, que conhece bem a dinâmica da Coimbra A. «Como cidadão acho negativo, lógico. Porque quando tanto se fala na mobilidade, nos transportes públicos, tirar uma estação que é central, deixar de ter o serviço de transporte público de comboios no centro da cidade é complicado». Pela ótica de quem trabalha diariamente sobre os carris em Coimbra, o revisor aponta que «o movimento na Estação Nova, em termos de passageiros, é capaz de ser maior do que em Coimbra B. Em hora de ponta há aqui mais movimento do que na Estação Velha».

A quantidade de pessoas também é a tónica de Luis Miguel, empregado de balcão, que trabalha na estação. «O fluxo de pessoas aqui é grande. Até já foi maior, antes da pandemia, mas continua a ser muito intenso. Não acho vantajosa a retirada da estação, porque as pessoas vão perder uma grande parte da cidade que é aqui e não Coimbra B, que é na periferia. Eu passo aqui oito horas por dia e vejo essa movimentação de pessoas. Se vai ser afinal tudo concentrado em Coimbra B, como é que essa quantidade anormal de pessoas vai conseguir deslocar-se para o centro? Tem de haver alternativa de muita qualidade – e até agora não se tem visto».

O debate entre uma nova centralidade da cidade, a partir do anúncio do projecto de construção de uma nova estação Coimbra B, põe em destaque vozes como a de Pedro Nuno Santos, então ministro das Infraestruturas de Portugal (IP), que em novembro 2019 fez a seguinte declaração: «Não há, como já disse aqui várias vezes, nenhum meio de transporte que consiga fazer frente ao comboio pesado. Há quem ache que o comboio pesado tem que ficar à porta da cidade, sem perceber que a melhor forma de construirmos mobilidade em Portugal é o comboio pesado ir ao centro da cidade, como nos países onde a mobilidade serve bem às suas populações. Não é ficar à porta».

A declaração tem sido questionada pelo Movimento Cívico pela Estação Nova, já que o então ministro da IP, acionista maioritária da MM, deixou a pasta em dezembro de 2022 sem questionar a retirada de Coimbra A. O novo ministro da IP, João Galamba, ainda não comentou o assunto – e essa é uma das expetativas do Movimento. «Sabemos que mudanças no Projecto do Metrobus esbarram em questões processuais e políticas. E que qualquer alteração implicaria em atraso. Mas, mesmo assim, não se percebe porque é que não se quer atrasar apenas esta empreitada para fazer aquilo que está certo. É um erro histórico. A estação é um serviço que está a funcionar. Ao insistir nesse erro o que se vai transmitir é que mais vale entrar de carro na cidade», critica Luís Neto.

Carolina Mará, 20 anos, está no primeiro ano de curso de Arquitectura da Universidade de Coimbra e utiliza a Estação Nova todos os fins de semana para ir e vir da Mealhada. A estudante não acompanhou a fala de Pedro Nuno Santos, mas concorda com o discurso da centralidade de Coimbra A. «Ela está no centro e é muito mais útil do que meter uma estação na ponta. Aqui está a boa distância de todos os pontos da cidade. Coimbra está muito ligada a grandes projectos estruturais para turistas, que não concordo muito. Faz todo sentido esta estação ficar aqui».

Ponderar e manter sistemas paralelos

Tantas vozes, vindas de lugares diversos, se unem na defesa da Estação Nova. Alice Alves e Rosa Martins sequer utilizam os comboios com frequência, mas frequentam o espaço da Coimbra A todos os dias, enquanto esperam a camioneta. Atentas, lamentam a possível retirada da central de comboios do centro. «Muitos idosos chegam aqui para ir ao médico. Há uma clínica a poucos metros daqui», aponta Alice, e Rosa completa: «até para apanhar autocarros para os hospitais é bem melhor aqui».

Os hospitais são o destino profissional do médico Paulo Silva, que vem todos os dias de Alfarelos até à Estação Nova. Ele pondera a decisão. «Tudo depende da alternativa apresentada. É melhor descer aqui do que em Coimbra B, sem dúvida. Para mudar tudo para lá teriam que diversificar mais os autocarros. De repente, uma boa alternativa seria melhorar os SMTUC, mesmo em relação ao metro».

Diogo Martinho, engenheiro de software, é direto na defesa pela manutenção de Coimbra A. «A outra estação é lá à frente e esta tem 700 autocarros que param aqui. É uma resposta tão simples quanto isto, não precisa de mais nada. Dá para ir a todos os lados de Coimbra, por aqui. De Coimbra B tem que vir até aqui e daqui seguir para outras zonas da cidade. Não vale a pena». E o Metrobus? «Tá bem… vamos ver».

Luís Dias é empresário e vem de Braga a Coimbra com frequência para visitar amigos e fazer negócios. Para ele, é possível até dar novos ares a Coimbra A, mas sem retirar dali a funcionalidade dos comboios. «Podem até fazer um museu, reformular isto tudo, mas não desativando a linha férrea. Porque é importante que ela seja mantida, como em Lisboa e no Porto (Campanhã e São Bento, por exemplo), para levar as pessoas ao centro. Venho de Braga e desço sempre aqui, porque acho que uma cidade moderna ter que ter uma linha férrea que vá ao centro da cidade».

Muita expetativa, pouca transparência

Se as obras do Metrobus continuam, apesar do posicionamento contrário à retirada da Estação Nova, os grupos que se mobilizam pela causa guardam expectativas no relatório entregue aos parlamentares da Assembleia da República, em novembro, e na sensibilização do novo ministro das Infraestruturas, João Galamba. «Temos feito esforços para que o ministro seja ouvido no Parlamento relativamente a este tema. Idealmente, gostaríamos de falar pessoalmente com ele», comenta Luís Neto. São possíveis caminhos para uma solução ao impasse.

Ciente da complexidade da situação, Neto revela um incómodo no trato da questão: a falta de respostas claras sobre o assunto. «Até agora, ninguém quis esclarecer quais são os entraves processuais e eventuais custos que isso pode acarretar. Na análise de custos temos que levar em conta não só as custas processuais, mas os prejuízos escondidos. Se é possível refazer o trajeto de projeto em Coimbra-B, por exemplo, também se pode fazer em relação ao Metro e à Estação Nova», argumento o integrante do MCEN.

«De uma forma geral, tem-nos custado um bocado ver a posição das empresas públicas (MM, Infraestruturas) e isso também diz respeito aos cidadãos em geral. Não existe uma postura dialogante. Há uma recusa sequer em reunir informação connosco – que devia ser pública. As questões não são respondidas. Todo o processo é feito com uma opacidade incrível. É uma postura indefensável por parte das instituições públicas. Falta transparência, inclusive de dados que são de entidades públicas que deveriam ser públicas e não são. Volume de passageiros da CP, por que não é um dado público? Só conhecemos porque um jornalista do Público meteu uma ação no tribunal para saber essa informação. Será preciso meter ações no tribunal para ter acesso aos dados, também? Não faz muito sentido», reivindica Luís Neto.

Enquanto isso, a Estação Nova expõe velhos cenários da cidade: a invisibilidade de seus utilizadores, a centralidade do espaço urbano, a luta pelo acesso à informação pública e a necessária participação da sociedade civil nos rumos de Coimbra. Ainda não se sabe qual a próxima paragem. Por isso é possível e preciso parafrasear Fernando Pessoa: «O comboio abranda, é a Estação Nova. Cheguei a Coimbra, mas não a uma conclusão.»

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