Contribuir small-arrow
Voltar à home
Leiam

Saibam mais

Visitem

Os Bairros

Pesquisem

Pelo documento

Como é que termina a história dos Salatinas?

Já dissemos por que é que devíamos todos saber quem são os Salatinas de Coimbra. Completamos agora o arco da história desta comunidade, chegando ao tempo presente.

Partilha

Fotografia: Mário Canelas

Leiam

Saibam mais

Visitem

Os Bairros

Pesquisem

Pelo documento

Os Bairros de Celas e da Fonte do Castanheiro foram criados longe da vista, distantes do centro da cidade, até por ela serem abraçados. São dois bairros onde a memória da gente Salatina ecoa até aos dias de hoje, onde as suas tradições foram sendo acarinhadas geração após geração.

Fernando Coelho, Presidente da Associação de Moradores da Fonte do Castanheiro (AMFC), resume: «Quando as pessoas da Alta vieram para aqui, [para o bairro], isto era um ermo. [Disseram]: “Vamos tirar estes gajos daqui, vamos pô-los em cascos de rolha”. Isto foi muito violento, não tínhamos nada aqui». Fernando Ribeiro, Presidente da Associação de Moradores do Bairro de Celas (AMBC), acrescenta: «A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) ainda é capaz de dizer, não é a primeira vez, “Sr. Ribeiro, calma, vocês estão num sítio privilegiado”. Mas quando viemos para aqui, até metia medo».

Revista esta memória de desenraizamento, chegamos à actualidade para mostrar os vários problemas e inquietações da comunidade Salatina.

Longe da vista

Fernando Coelho recebe-nos na sede da AMFC, numa das pequenas casas do bairro, uma igual a tantas outras. «Estas casas têm 70 e tal anos», conta, «é tudo original, nunca viram obras. Este é um protótipo do original, com janelas em guilhotina, a forra [do tecto]. Isto é horrível, quem viveu e vive nisto, isto ferve [no Verão], no Inverno é muita humidade. É doloroso para quem tem determinada idade, e [mais] agora, com as restrições energéticas todas, é incomportável». 

Os moradores anseiam há muito por obras no Bairro. Estava previsto que arrancassem em 2005 e terminassem em 2009, mas foram sendo consecutivamente adiadas. As obras, lamenta Fernando Coelho, «eram muito necessárias na altura, agora ainda mais. É horrível viver numa coisa destas. Isto é habitação social, tudo bem, mas há que respeitar as normas que há hoje em termos de habitabilidade». Foram feitas algumas pequenas intervenções, «sem qualidade nenhuma, mantiveram os problemas».

Já no Bairro de Celas, as obras progrediram lentamente, em sucessivas empreitadas desde 2002 até às intervenções actuais. Fernando Ribeiro assinala que o Bairro tem muitos problemas, «mas tem problemas porque não está integrado na cidade. Isto há falhas por todo o lado e toda a gente quer resolver o problema, mas infelizmente a nossa força não é muita». 

«Botabaixismo»

Chegaram a fazer-se propostas políticas para arrasar com os bairros e substituí-los por prédios de rendimento, isto na primeira década deste século. Consideraram «dizimar os bairros», recorda Fernando Coelho. «A ideia era fazer umas torres. As pessoas já tinham vindo desalojadas da Alta, ficaram marcadas psicologicamente. Houve acesa oposição da AMFC. Disse ao Carlos Encarnação (presidente da CMC da altura): “O senhor esquece-se que as pessoas foram deslocalizadas uma vez, quer fazê-lo novamente? Ele ouviu e disse: “Sim, não é justo. Eu prometi que se fosse presidente eu venderia as casas e, portanto, é uma promessa que eu quero cumprir”».

Maria de Lurdes, tesoureira da AMBC, diz o mesmo sobre o Bairro de Celas: «Queriam fazer [aqui] umas torres e não puderam». Seriam construídas na parte superior do bairro, a ombrear a Avenida Bissaya Barreto.

Inquietações dos Salatinas

A insatisfação acumulada dos moradores levou a que despontassem movimentos orgânicos, distantes das Associações de Moradores. Conceição Belo é uma dessas moradoras, que levou as suas queixas a diversas reuniões públicas da CMC. Foi uma das fundadoras da AMFC, da qual se demarcou, refere que a CMC: «Votou o bairro [da Fonte do Castanheiro] ao abandono». 

No Bairro de Celas, alguns moradores ventilam as suas queixas sobre as obras que decorrem e as recém-concluídas, acumulando indignações. Maria de Lurdes, Daniela Sousa, Cláudia e Patrícia Carlos, de várias gerações de Salatinas e outros moradores, mostram o seu descontentamento pelas «obras mal feitas e inacabadas; as casas antigas estão melhores do que as novas». Referem-se à última empreitada de obras de reabilitação em curso; mostram rodapés com má qualidade, torneiras que não funcionam, muros e guardas ausentes, outros detalhes que vão assinalando de acabamentos incompletos e ingerência, desilusão pregada no rosto.

Ana Cortez Vaz, vereadora da CMC com o Pelouro da Acção Social, comenta: «Queixas vão haver sempre, é sinal que estamos a fazer alguma coisa. Se não estivéssemos a fazer nada, não havia queixas sequer». Os presidentes das associações de moradores assinalam que algumas das queixas têm fundamento e que as pessoas têm direito à reivindicação, mas não estão mandatadas pelas associações, interlocutoras e mediadoras por excelência entre a CMC e os cidadãos.

Ana Cortez Vaz acrescenta: «Temos um problema grave no Bairro de Celas, que é o não cumprimento de prazos, sobretudo carpintarias, muitas vezes não depende do empreiteiro. Antes era a Covid19, agora é a guerra, há desculpas para tudo».

Em Celas as obras vão avançando, já na Fonte do Castanheiro são há muito aguardadas e necessárias. Para Fernando Coelho, «a reabilitação está assim, há muita expectativa e muita necessidade de respostas. Passam quase vinte anos [sem obras]. Nós temos sido esquecidos. O Ingote é constantemente embelezado. Não tenho nada contra, mas empola-se o Ingote, as coisas têm que ser equitativas». 

Obras avançam

A CMC anunciou a adjudicação das muito ansiadas obras do Bairro da Fonte do Castanheiro em Abril de 2022. Antes do acto de consignação e argumentando que o custo da obra era incomportável, o empreiteiro desistiu. Ao ser relançado o concurso, este empreiteiro voltou a concorrer, ficando em segundo lugar. Procurou impugnar a obra, adiando um processo já de si urgente.

Ana Cortez Vaz vem anunciar agora que esta «questão jurídica já está ultrapassada, [a reabilitação do Bairro] é uma obra que não pode parar». Boas notícias, portanto, para o Bairro e suas gentes. Estas obras incluem 33 casas, uma nova sede para a AMFC e intervenção no espaço público e no Clube Desportivo da Arregaça. 

O arquitecto José Neto, Chefe da Divisão de Promoção da Habitabilidade da CMC, pormenoriza: «Desde o início que existiam 4 tipologias de habitação [no Bairro da Fonte do Castanheiro], tipos A, B e C unifamiliar e tipo B1, bifamiliar. Havia 100 fogos em 86 lotes. Assumiu-se que aquelas bifamiliares dariam origem a uma unifamiliar, no âmbito da reabilitação do bairro. De 100 passam a ser 86 fogos, mantendo-se 54 na posse da CMC, os restantes já foram vendidos».

Quanto ao Bairro de Celas, o arquitecto resume: «Existem 100 habitações no bairro. Houve uma primeira empreitada, foi concluída. Está em curso uma empreitada de 38 habitações, de que falta entregar 17. E depois haverá uma empreitada de 27, que se iniciará ainda este ano».

Lino Bernardes, engenheiro da CMC, acompanha estas empreitadas desde o início. Acrescenta que vai ser criado um fogo extra no Bairro de Celas. As obras funcionam com casas de rotação: os moradores passam para uma casa já concluída, enquanto as suas anteriores casas são intervencionadas. Há, no entanto, quem não se dê bem com essas mudanças, por razões simbólicas e emocionais.  

A vereadora pretende «mudar o paradigma», como diz: «As pessoas vêem isto como uma solução definitiva. Habitação social, muito bem, concordo inteiramente, todos nós podemos passar por altos e baixos na vida. Precisa? Está aqui, é um pilar. Mas a partir daí que as pessoas se capacitem, se reergam».

Quem casa quer casa

Em 2009 foram celebradas as primeiras vendas de casas do Bairro da Fonte do Castanheiro, num processo prometido e iniciado por Carlos Encarnação, enquanto Presidente da CMC.

«Havia pessoas do bairro, da direcção, que não acreditavam que fossem vendidas as casas. Hoje há moradores que querem comprar as habitações antes da reabilitação, são cerca de 5 interessados», conta Fernando Coelho.  

A vereadora refere a impossibilidade de travar o processo de reabilitação para venda dos terrenos: «Fomos contactados por alguns inquilinos municipais [com esse interesse], mas essa política está suspensa porque existe a empreitada das 33 casas, temos o financiamento para isso».

A expectativa de alguns moradores colide assim com a posterior valorização das casas após a obra, até porque se trata de habitação social, de moradores com dificuldades. Fernando Coelho comenta esta preocupação: «Eu não acredito que estes potenciais compradores venham a comprar uma habitação por cento e tal mil euros. Vamos imaginar que as obras ficam por cento e tal mil euros, por fogo, a CMC vai vender pelo mesmo preço? Má vendedora. As pessoas têm dinheiro para isso? Por isso é que lutam por comprar a habitação agora».

Já o Bairro de Celas tem a singularidade de que a CMC não pode dispor das casas, nem dos terrenos. O terreno original fazia parte da Quinta de Sete Fonte e foi doado pelo Conde de Fijô especificamente para habitação social. É uma história genealógica que assume contornos mitológicos no Bairro de Celas. Fala-se na Condessa, no Conde, no seu palacete, que ainda existe nas imediações do hospital. Se a CMC optar por fazer outra coisa no bairro que não habitação social, os terrenos reverterão para os descendentes do Conde. 

Final de História

O processo de reabilitação dos dois bairros é financiado pelos 60 milhões de euros do Programa 1º Direito, elencados na Estratégia Local de Habitação de Coimbra (ELH), tal como os edifícios polémicos projectados para o Planalto do Ingote. A prioridade da CMC é reduzir os cerca de 500 agregados familiares que carecem de habitação social em Coimbra, alguns em situação urgente. 

A CMC está a trabalhar na revisão da ELH, os caminhos a seguir serão a recuperação total dos dois bairros e algumas coisas mais que a vereadora diz que serão divulgadas a seu tempo, porque estão «ainda em reflexão e análise». Sublinha-se a estreita abertura do canal de diálogo entre a CMC e as duas associações de moradores, protectores da mais fiel tradição Salatina. Foi ainda lançado o repto de se realizar uma reunião de executivo no bairro de Celas, que a vereadora prometeu ponderar.

Mais Histórias

A revolução também morou na Casa dos Estudantes do Império de Coimbra

O número 54 da Avenida Sá da Bandeira recebeu jovens das então colónias portuguesas sob o espírito colonial. Mas o tiro saiu pela culatra e quem acabou por ocupá-la foi a liberdade, o espírito democrático e a luta anticolonialista.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Associação de moradores precisa do contributo de todos para plantar um mural do 25 de Abril no Monte Formoso

Painel de azulejos será «uma obra de arte que destaque e celebre, no espaço público, os valores de Abril». Mais de uma dezena de pessoas já apoiaram a causa. O valor total necessário é de 511€.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Coisas para Fazer em Coimbra

Celebramos os 50 anos do 25 de abril com a estreia do nosso primeiro documentário original. Estreia dia 24 de abril, no TUMO, e é um entre tantos contributos que tornam a data ainda mais bonita e importante do que já era. Celebremos a liberdade.

quote-icon
Ler mais small-arrow
Contribuir small-arrow

Discover more from Coimbra Coolectiva

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading