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Plano Municipal de Arborização

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Metrobus

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Acção e educação ambiental

Debate SOS Árvores: A cidade falou e o município e a Metro Mondego ouviram

Sabíamos que a cidade precisava de falar e as cerca de 150 pessoas que se juntaram a nós no Seminário Maior de Coimbra e online confirmaram-no. Ficou o compromisso de mais comunicação e maior envolvimento de todos.

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Fotografia: Mário Canelas

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Acção e educação ambiental

Estamos a viver em Coimbra um momento em que boa parte das discussões sobre ambiente gira em torno de árvores. Não pelo seu valor estético, mas pelo abate delas como resultado da construção de uma obra estruturante: o traçado do Metrobus, que, por ter 42 quilómetros de extensão, responderá pelo desaparecimento de centenas delas, que compõem o património natural da cidade. Estamos a falar «de qualidade do ar, de resposta ao calor extremo, de bem-estar e saúde, de utilização dos espaços verdes», como dissemos no arranque do debate SOS Árvores: Coimbra precisa de Reforma?, na passada quarta-feira, 26 de Outubro, o primeiro de dois momentos de encontro com a comunidade que organizamos até Abril de 2023 integrados no RE/FORMA.

Para discutir se, sim, Coimbra precisa de reforma – ou não -, convidámos Anabela Azul (bióloga e representante do movimento cidadão ClimAção Centro), João Marrana (presidente do Conselho de Administração da Metro Mondego), Jorge Paiva (biólogo) e o presidente José Manuel Silva representou a Câmara Municipal de Coimbra (CMC).

A sala encheu. Online, duas dezenas de pessoas juntavam-se à emissão em directo na nossa página no Facebook (que está disponível para quem quiser ver) e, na primeira fila, outros jornalistas locais. Jorge Paiva arranca. «Coimbra não tem qualidade de vida». O biólogo diz que os parques da cidade são precários, para dizer o mínimo. Por não sermos produtores de biomassa e somente as árvores o serem, o abate dos últimos plátanos ao longo da Avenida Emídio Navarro contribuirá ainda mais para o agudamente deste quadro pouco saudável. O argumento é corroborado por Anabela Azul: «Com o MetroBus, teremos vidas mais sedentárias e o passeio a pé pelo rio é o que irá nos salvar». Um corte que empobrece Coimbra cultural e ecologicamente.

O corte das árvores foi publicamente justificado como solução que penaliza menos o tráfego rodoviário, o que faz Anabela indagar ao presidente do Metro Mondego (MM) e ao da CMC por que este tipo de mobilidade tem precedência. «Por que manter estradas de rodagem, mas cortar árvores?» Não é respondida. A bióloga afirma ainda que o corte de árvores despoleta outra emergência: o declínio da biodiversidade, pois cada espécie de árvore tem seu próprio ecossistema, portanto, está-se a falar de ambiente.

Antes de prosseguir, a Coimbra Coolectiva exibiu o vídeo disponibilizado pela empresa TUU – Building Design Management, responsável pela fiscalização do troço da Linha do Hospital do Sistema de Mobilidade do Mondego. A obra que representa «um dos maiores desafios de sempre» para a empresa local que quis fazer a sua «contribuição com este registo para memória futura!».

Com uma extensão de 3,5km, o canal dedicado ao Metrobus vai ligar a Avenida Aeminium ao Hospital Pediátrico, passando pelo coração da cidade: Rua da Sofia, Praça da República, Cruz de Celas e os Hospitais da Universidade de Coimbra, incluindo a Remodelação das Redes de Drenagem de Águas Residuais, trabalhos de integração urbana e nove paragens. Uma obra de 15.5 milhões de euros, que se prevê que fique pronta em 2024, como se lê na descrição do vídeo publicado nas redes sociais da TUU.

José Manuel Silva diz que a importância das árvores não está em questão, mas «toda decisão tem o reverso da medalha». O que soou, para ouvidos mais experientes, como uma nova versão, do século XXI, dos discursos do milénio passado quando poluir ares e mares, para a instalação de fábricas e grandes complexos turísticos estrangeiros, desalojar populações vulneráveis para construir estradas e derrubar florestas para a expansão do agronegócio, eram alguns dos preços que se tinha de pagar em nome de um suposto progresso económico. Efeito colateral inevitável, como se depreende.

Indagados sobre por que não houve debates públicos sobre o corte de árvores e por que a população não foi avisada sobre o abate, o autarca responde que houve chamados para a discussão, mas não houve comparecimento de público. Porém não diz por que é que quem vive em Coimbra só tomou conhecimento através da comunicação social, quando a ação estava a acontecer. 

A resposta aos protestos contra a dilapidação do património arbóreo de Coimbra vem na forma de números robustos, que podem impressionar. Para cada árvore derrubada, serão plantadas três até Dezembro. Segundo dados da autarquia, o novo sistema de autocarros rápidos (BRT) vai evitar a produção de 20 mil toneladas de dióxido de carbono e terá um efeito poupador de dióxido de carbono por ano, semelhante ao efeito de 750 mil árvores. Informa ainda o autarca que 48% da área do concelho de Coimbra é área florestal.

Dados que Jorge Gouveia Monteiro, contesta: «Estas contas, estes cálculos só serão verdadeiros se o MetroBus realmente substituir os carros». Em seguida, afirmou que o Plano Municipal de Arborização não está a ser cumprido: «Tem de plantar 60 árvores por dia». Este plano está disponibilizado no site da Câmara, mas requer uma boa pesquisa para o encontrar. Com relação à falta de público para discutir o projeto do MetroBus, o empresário e coordenador do Movimento Cidadãos por Coimbra também nota que é preciso que a câmara municipal promova momentos de discussão pública com qualidade e de forma entusiástica. «Em relação à Alta Velocidade, por exemplo, vamos ter uma discussão pública ou vai ter de ser novamente a Coimbra Coolectiva, ou o ClimAção Centro, a mostrar como é que se atravessa o rio, como é que se poupa o Choupal? Vamos ter uma discussão pública rapidamente ou vamos apenas receber os anúncios, porque é mais fácil governar só por anúncios do que mostrar ao povo aquilo que se está a passar?»

Miguel Dias, do movimento ClimaAção, cobra a divulgação do relatório de impactos ambientais, uma consulta pública com maquetes para uma melhor visualização do percurso e obra, para melhor compreensão de como irá afetar a cidade, indaga se há um plano de ação, por que não foram salvas as árvores da Praça 25 de Abril. Outro participante do público atira a João Marrana: há algo secreto neste projecto?

O presidente do Conselho do Metro Mondego responde que não há nada secreto e assegura que está aberto a receber o contributo dos cidadãos de Coimbra. Assegura que irá procurar formas mais eficazes de comunicar com os constituintes e pede desculpas pela falta de uma comunicação mais fluída com a população e pela falta de um debate mais amplo. Marrana informa que a Linha do Hospital está a passar por uma reavaliação e assegura que na Linha da Solum vão ser cortadas menos árvores do que o previsto.*

José Manuel Silva ressalta que está a lidar com um projeto da administração anterior e que lhe cabe agora é «mitigar os impactos», e que juntamente com a Metro Mondego está a analisar a situação «árvore a árvore». 

Anabela Azul questiona se houve uma atualização do projeto que, como foi dito, tem três décadas e a Coimbra daquela época certamente era diferente da de hoje. Em razão da afirmação de que serão plantadas três árvores para cada uma abatida, indaga sobre quais as espécies a serem plantadas, pois não se está a falar apenas de árvores «mas de todos os ecossistemas», por isso é fundamental que se discuta quais serão plantadas. A representante da ClimAção Centro pergunta ainda quantas pessoas serão beneficiadas com o MetroBus – no site informa-se apenas o número estimado de passageiros: 13 milhões ao ano. «Este plano não é progressista. Ouvir os troncos caírem não é ambientalista».

A falta de educação ambiental leva a ações do poder público alienadas dos desejos da população, na opinião de outro participante no debate, Manuel Bragança. Para ele, é «a maior prova da força da educação ambiental está nesta sala cheia de pessoas». Mas, para ele, isso ainda é pouco. Se fosse ensinada nas escolas ou mesmo nas universidades, tendo em vista que «os estudantes dominam a cidade», o debate teria de acontecer num estádio.

Mais do que falta de educação, «não existe civismo ambiental» em Coimbra atira, do alto de seus cerca de 90 anos de idade, Jorge Paiva. Dizendo-se «desoladíssimo» com a atual situação, salientou que aquela era a primeira vez na sua vida que dialogava directa e (ainda por cima) publicamente sobre estes assuntos com um presidente de câmara. Dá como exemplo de inexistência de uma consciência cívica ambiental a Festa das Latas ou Latada, que chegou a produzir 30 toneladas de lixo numa única tarde e noite. Entulhos que são retirados das vias públicas com o dinheiro público, que sai do bolso dos constituintes, ao invés de o ser pela instituição que promove o evento para celebrar o início do ano académico.

*Artigo actualizado às 16h de 03/11/22, após esclarecimentos prestados posteriormente pelo presidente do conselho de administração da Metro Mondego, João Marrana.

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