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    Efeito borboleta: vamos passar à acção e dar abrigo aos polinizadores

    A partir de Coimbra, dois investigadores montaram uma rede de trabalho colaborativa e deram o primeiro grande passo para Portugal ter uma estratégia de conservação dos polinizadores. O plano já tem apoio do governo para avançar – todos podemos dar uma vida mais doce aos insectos.

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    Fotografia: Mário Canelas, FLOWer Lab

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    A Primavera chegou e com ela uma pergunta que, por cá, continua sem resposta: há menos abelhas e borboletas de volta das flores? Com a Europa a traçar metas até 2030 para travar o declínio dos polinizadores, vitais na produção agrícola, Portugal tem ainda de medir e avaliar o papel dos insectos em território nacional e só não está totalmente a zeros porque uma equipa de investigadores, com quartel no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, partiu para campo. No último ano, estabeleceu as bases para um plano de acção que agora tem mesmo tudo para ser testado e posto em prática: o financiamento para o projecto, no valor de 350 mil euros, acabou de ser aprovado pelo Ministro do Ambiente e da Acção Climática.

    Quando, há coisa de três anos, os biólogos Sílvia Castro, João Loureiro e Helena Freitas se aproximaram do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas para criar uma rede colaborativa nacional para defesa e promoção dos polinizadores, a polli.NET, o objectivo era já aproximar Portugal de outros países e desenhar uma estratégia para manter o maior número possível destes insectos fora de perigo. De forma espontânea e sem verbas, mais de 60 entidades, entre cientistas, instituições académicas, autarquias, órgãos da administração central, organizações não governamentais, empresas e associações de produtores, têm vindo a trocar informação e a gerar conhecimento sobre as várias espécies de abelhas, borboletas e moscas em Portugal, e o serviço que prestam aos ecossistemas.

    O plano para desenvolver uma estratégia nacional ganhou nova dinâmica no ano passado, com a candidatura bem-sucedida a mais uma chamada da aliança internacional Promote Pollinators – desta vez para lançar um processo participativo capaz de dar corpo à Teoria da Mudança, que implica definir um objectivo claro e descrever de forma muito concreta os passos a dar para o atingir. «Tivemos dois consultores que nos orientaram para termos um plano eficaz. A primeira tarefa foi escolher um grupo de 20 pessoas, o mais representativo possível, com vontade de fazer e conhecimento de terreno. Partimos do objectivo final e fomos construindo para trás: em 2030 qual é o mote para os polinizadores em Portugal e o que é preciso para atingir isto?», resume Sílvia Castro.

    O processo de discussão aberta, com sistema de votos e todo feito online, «foi extremamente desafiante», acrescenta João Loureiro, e implicou o ajuste de diferentes sensibilidades, com produtores e grupos ambientalistas a tentar chegar, por exemplo, a uma definição comum de floresta.

    O resultado? «Temos a primeira versão de uma proposta a três anos [para os polinizadores], que inclui já um plano de monitorização, com implementação no terreno, e um plano de avaliação de tendências e sua execução», retoma Sílvia Castro.

    O projecto foi apresentado em Dezembro pelos dois investigadores na COP 15, a Convenção das Nações Unidas Sobre a Diversidade Biológica, e a Administração Central ficou de olho. Com o apoio do Fundo Ambiental o plano de acção pode ser desenvolvido e transformado num documento vinculativo.

    O roteiro prevê ainda um plano de comunicação e educação ambiental. «É preciso mostrar que há muitos mais polinizadores além da abelha do mel. Existem outras 700 espécies de abelhas [em Portugal] e são inofensivas», destaca João Loureiro.

    Está mesmo bem, abelha

    Os dois investigadores estão à frente do FLOWer Lab, o laboratório da UC que estuda a evolução e reprodução das plantas, e tem vindo também a promover o contacto com polinizadores. É para levar à letra: dá para fazer festinhas até na maior abelha que existe em Portugal, a carpinteira, com asas violeta. «Tirando a abelha do mel, todas as outras só picam se alguém pegar nelas e forem fêmeas. Não há perigo», assegura João Loureiro.

    A equipa tem chegado também aos municípios e mostrado a importância de deixar crescer a vegetação espontânea nos parques, jardins, canteiros e bermas para dar alimento e proteger os polinizadores. O município da Lousada, que faz parte da polli.NET, deixou de cortar a relva, mas, ressalva Loureiro, «só tomou a medida quando havia já um conjunto de pessoas convertidas a este tipo de práticas». «Para ser eficaz é preciso que se perceba que não é descuido; não é por falta de gente para cortar a relva; há um propósito», reforça.

    Há mais acções que podem ser feitas no espaço urbano a favor dos polinizadores e que se forem replicadas pela cidade «ganham a escala necessária». O jardim comunitário de Monte Formoso é exemplar, tal como a construção de ninhos e hotéis para insectos – mas qualquer cantinho pode ser transformado num belo e crucial refúgio.

    Nas cidades é preciso criar corredores para expandir o raio de acção dos polinizadores e as varandas são boas zonas de conexão. «Há abelhas que se deslocam num raio de 500 metros. Em contexto urbano, é importante ter várias parcelas, não muito afastadas, que permitam aos polinizadores terem recursos para se alimentarem e fazer os ninhos», explica João Loureiro.

    As abelhas são o principal grupo de polinizadores, mas sabe-se muito pouco sobre elas: desconhece-se a diversidade total que temos e como se distribui pelo país. Em Portugal, contextualiza Sílvia Castro, as primeiras listas são de 2018 e há poucos especialistas capazes de identificar abelhas até à espécie – o FLOWer Lab não só tem um entomólogo, Hugo Gaspar, como uma colecção de referência, que conta com cerca de 6300 espécimes, onde se somam mais de três mil abelhas e 300 moscas-das-flores.

    Os insectos foram recolhidos em projectos de monitorização em plantas ameaçadas e produções agrícolas, que levaram também à identificação de mais espécies – como uma nova abelha, descoberta no meio de um cerejal no Fundão. «Conseguimos elevar a região interior/centro, que, segundo o que conhecíamos, era pouco biodiversa, numa das mais ricas de Portugal. E isto deve-se apenas ao facto de termos ido para lá estudá-la», diz Sílvia Castro.

    Diversidade é mel

    As plantas precisam da ajuda de insectos para se reproduzir e mais de 75% das culturas agrícolas mundiais dependem da acção dos polinizadores, em declínio devido às alterações climáticas, ao uso de pesticidas e à perda de habitat, provocada pelas mudanças na paisagem e instalação de monoculturas sem preocupações de sustentabilidade. A Comissão Europeia indica que uma em cada três abelhas, borboletas e moscas-das-flores estão em vias de desaparecimento.

    Em Portugal, não há registos que permitam fazer comparações, mas a hipótese provável é que também por cá haja grupos de polinizadores em risco – daí a urgência em perceber quais estão a sobreviver (e onde) e quais precisam de acções de conservação.

    «Todos os nossos sistemas agrícolas dependem da polinização da abelha do mel, que está com grandes problemas de gestão e de manutenção. E se lhe acontece alguma coisa? Temos de conservar estes outros polinizadores que estão na natureza a fazer o serviço gratuitamente», observa Sílvia Castro.

    A promoção da biodiversidade é vital porque, desenvolve a investigadora, «quanto mais rico for o nosso ecossistema, mais facilmente a natureza é capaz de responder a alterações e se adaptar a novas situações». A restauração da paisagem, com a preservação das molduras florais à volta dos campos de cultivo, é outra medida importante para dar alimento diverso e durante todo o ano aos polinizadores. «Não podemos fugir ao sistema intensivo. Tem é ser feito de forma sustentável», remata Sílvia Castro. Basta não cortar o bem pela raiz e deixar florir as plantas bravas.

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