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Eros uma vez um museu de arte erótica em Coimbra

Visitamos uma exposição temática bem íntima e pessoal que forma um núcleo museológico dedicado ao erotismo, o Museu de Arte Erótica de Coimbra, desconhecido da maioria dos habitantes desta cidade. Fica na zona da Manutenção, aconchegado no andar superior da livraria mais bedéfila da cidade.

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Fotografia: Mário Canelas

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Trepando a passo o pequeno trecho de calçada da Rua da Manutenção Militar até alcançar a livraria Dr. Kartoon, vê-se um anúncio dependurado da fachada. Diz Galeria d’Arte, logo acompanhado de um logótipo sugestivo. Entra-se na livraria e sobe-se ao 1.º piso – temos mesmo que entrar e percorrer a livraria para aceder ao Museu, o que é duplamente vantajoso: arte e literatura. Esta não é a livraria de um museu, é um museu numa livraria.

No andar superior, sob um suave manto de obscuridade pontilhado de luz, expõem-se diversos objectos, quadros, esculturas e obras de arte, dispostos em vitrines, aparadores, nas paredes. A música remata a atmosfera: toca a banda sonora de Emmanuelle, de Pierre Bachelet; logo depois ecoa Gainsbourg com Jane Birkin, com o seu Je t’aime… moi non plus. Eis a única colecção de arte erótica patente ao público em Portugal. E logo aqui, em Coimbra, brindando a cidade com uma exposição temática única.

Ode a Eros

Uma exposição tão singular levanta curiosidade sobre a sua génese. Jorge, curador e coproprietário do Museu de Arte Erótica de Coimbra, esclarece: «Há cerca de cinco anos surgiu a ideia de fazer uma exposição dedicada à arte erótica, que foi ganhando forma no andar superior da livraria Dr. Kartoon». A acompanhar a especificidade do Museu, a livraria Dr. Kartoon é também um espaço único na cidade, dedicado exclusivamente à arte da banda-desenhada. Jorge pediu que lhe abreviássemos o nome, «já que mantém a profissão e quer separar as coisas», tem um rico passado artístico, quando pertenceu a um colectivo de artistas chamado MITO, que precedeu o grupo Puzzle, mais conhecido, e que reunia João Dixo, Albuquerque Mendes, Fernando Pinto Coelho, entre outros; e foi ainda director do Círculo de Artes Plásticas, conta, no início dos anos 70.

Jorge continua: «Já havia interesse sobre o tema [da arte erótica], após a visita a vários museus que apresentam a temática. O momento-chave terá sido mesmo a visita ao Museu Erótico de Amesterdão – o ‘Erotic Museum Amsterdam’». Estes contactos despertaram a ambição e foi-se formando assim o núcleo do que é o acervo de arte erótica, adaptado, sublinha Jorge, às singularidades portuguesas. De temporária a exposição passou a definitiva, «graças à boa vontade da direcção da livraria, apropriando-se o nome de Museu de Arte Erótica de Coimbra». E ensaiam-se acrónimos, que emparelham sempre bem com museus: MAE Coimbra, MAE, MAEC.

Exposição comentada

Jorge diz não ter noção de quantas peças tem. O museu conta com um número significativo de objectos (além da biblioteca, com mais de mil volumes sobre a temática erótica), a maior parte das quais permanece em armazém devido às limitações físicas e uma pequena parte do acervo vai sendo exposta em sistema de rotatividade, o que implica sempre um cuidado curatorial na selecção e na apresentação. Algumas peças foram doadas para a colecção, mas a maior parte foram compradas em feiras, mercados e antiquários, em Portugal e no estrangeiro. Jorge explica: «A colecção está sempre a crescer. Aumentámos ainda agora a exposição e, embora o espaço seja apertado, rodam-se as peças e vai-se gerindo o Museu na medida do possível».

As peças mostradas vão desde objectos populares portugueses, alguns reconhecíveis e facilmente identificáveis, de que «somos ricos e com tradições», sublinha Jorge; «a objectos da vida corrente, outros raiando o kitsch, enraizados na cultural popular e, claro, peças clássicas dos mais variados quadrantes», como esculturas e quadros, incluindo um par da autoria de João Dixo, uma das peças predilectas de Jorge. Reúne objectos de todo o mundo e épocas, esculturas históricas, ilustrações de shibari e caganers, uma das estatuetas eróticas vem do Século XVIII, ao lado dessa repousa um fascinus romano, um amuleto fálico com dois milénios de história. Uma cerâmica assinada por Paula Rego é ladeada por um cálice resgatado de uma casa de meninas de Badajoz. Uma sucessão de objectos e curiosidades libidinosas.

a funda São

Paulo Moura e Jorge são amigos e partilham o mesmo gosto pelo gesto de coleccionar e juntar objectos, ímpeto imparável de coleccionadores. Paulo tem uma ampla colecção de arte erótica, com mais de 2000 livros e cerca de 5000 objectos que, refere, «já foi artigo de capa da desaparecida revista C e da revista Artes & Leilões». Este extenso acervo, a que chamou de a funda São, é visitável apenas por marcação.

Jorge acarinha a ideia de juntar as duas colecções, estabelecendo uma parceria para exibir permanentemente num único local os dois acervos, ideia não acompanhada por Paulo Moura, não completamente. Paulo Moura comenta: «Não faço questão que a colecção fique em Coimbra. Estou aberto a qualquer cenário, desde que me convençam da sua viabilidade». Teve ao longo dos anos muitas manifestações de interesse, da parte de entidades públicas e privadas, vontades que se esfumaram por diversas razões. Seria sempre um problema de escala financeira e de compromisso institucional.

Curiosidades e singularidades

A juntar ao acervo de arte erótica, que Jorge comenta ser uma pequena parte daquilo que colecciona, a parte visível, revela que tem cerca de 500 galos de todo o mundo, número que aumenta constantemente. Colecciona também artesanato, comboios eléctricos e outros objectos singulares, que guarda em casa. Em casa, no sótão, objectos à vista e guardados. Diz, desenhando uma provocação: «Tenho muito mais peças do que aquelas que o Gabinete de Curiosidades da Universidade de Coimbra mostra». Poderia até criar outro espaço museológico, exclusivamente dedicado às singularidades e curiosidades, como um museu de Barcelona que admira, o Museu Frederic Marès.

Casa para o Museu

O curador comenta, criticamente: «Gostaríamos de ter um espaço físico próprio, para merecer o nome [de museu]. De preferência em Lisboa ou Porto, pois Coimbra é um universo limitado. A mentalidade ainda preconceituosa dos nacionais leva a que a exposição seja visitada especialmente por estrangeiros e daí também a importância de exposições como esta». Entenda-se isto como um repto a alimentar uma visita. Jorge acrescenta: «Seriam necessários apoios e parcerias». No livro de visitas alinham-se centenas de mensagens, a maior parte em línguas estrangeiras. Nunca abordou a Câmara Municipal de Coimbra nesse sentido, mas agrada-lhe a ideia dum edifício na zona da Baixa que acolhesse o Museu, já que o mais necessário são instalações onde mostrar as suas peças.

Para já, enquanto os conimbricenses (re)descobrem este espaço, que é um dos seus mais originais museus, o Museu de Arte Erótica de Coimbra lança ideias porvir: Jorge está a preparar um catálogo, já fez um desdobrável ilustrado do Museu e pretende estabelecer ligações com outros coleccionadores, exposições e museus.

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