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Há Baixa na voz e nas mãos da comunidade

Este mês, começaram os ensaios do novo Coro da Baixa de Coimbra, o BaixaVoz, e inauguram exposições que dão a conhecer o singular Saco da Baixa, projecto de inclusão e capacitação para mulheres com mais de 65 anos.

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Fotografia: Mário Canelas, Telma Arzileiro

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Mais de uma dezena de residentes da Baixa de Coimbra têm um novo compromisso nas agendas: todas as segundas-feiras, às 18h, no Teatro da Cerca de São Bernardo, ensaia o novo Coro da Baixa de Coimbra, o BAIXaVOZ, para todas e todos os que sabem e os que não sabem cantar.

Impossível não pensar nas palavras de João Gilberto e esse grande clássico da bossa nova, Chega de Saudade, que reza: «que no peito dos desafinados/no fundo do peito bate calado/que no peito dos desafinados/ também bate um coração». Aqui, os corações batem pela Baixa de Coimbra e não são os únicos. Outros seguram o amor pela zona histórica da cidade nas mãos e, com eles, cosem um Saco da Baixa.

BAIXaVOZ



Catarina Moura e Luís Pedro Madeira estão na proa do projecto que no primeiro ensaio, a 9 de Janeiro, contou com 15 voluntários, de todas as idades e zonas do concelho. A cantora trabalhou durante 13 anos na área da Educação para Adultos, é a voz da Brigada Victor Jara e muitos outros projectos como as Segue-me à Capela e o Taleguinho, direccionado ao público infantil e também com Luís Pedro Madeira que, por usa vez, é compositor, intérprete e professor de Educação Musical.

A ideia do BAIXaVOZ é «dar voz a todos os que tenham vontade de falar sobre e para a cidade, a partir do seu ponto de vista pessoal e subjectivo», lemos no manifesto. Com o apoio da equipa com experiência de pedagogia e criação musical – além de Catarina e Luís Pedro contam com consultadoria para a escrita de repertório de Carlos Alberto Augusto -, o colectivo de cantores amadores residentes, trabalhadores ou visitantes da Baixa de Coimbra «procurará incorporar as experiências, memórias e conhecimentos pessoais dos participantes na criação de repertório original». 

Uma vez por semana, às segundas-feiras, em horário pós-laboral, o espaço d’ A Escola da Noite no Teatro da Cerca de São Bernardo encontra-se para «estimular, através de um processo criativo colaborativo, outras formas de ver, (re)conhecer, contar, cantar e reivindicar a cidade, expandindo as margens do espaço físico e emocional individual para o desenho de um (novo) mapa afectivo colectivo».

Em Junho contam partilhar publicamente os resultados da primeira fase de ensaios e criação colectiva, com base neste diálogo e sentido de comunidade entre novos e velhos habitantes da Baixa de Coimbra.

Saco da Baixa

«Sílvia, tem cuidado porque a Rosa pôs muitas folhas», ouvimos dizer Catarina Pires, antes de conversar com a mediadora no rés-do-chão do 36, na Rua Eduardo Coelho. Com base num padrão, cada uma da meia dúzia de participantes do Saco da Baixa, projeto que reúne diferentes gerações em torno dos lavores manuais, da aprendizagem partilhada, da transmissão de experiências e memórias, cria as suas próprias intervenções que desenvolve colaborativamente de forma a construir um livro têxtil com recurso à técnica da cianatopia, um processo de impressão fotográfica em tons azuis.

«Isto aqui são negativos que estamos a usar para criar composições visuais.» Se perguntassem a Luísa Velases o que era a cianotopia ou se alguma vez pensou usá-la não saberia o que dizer. «Aprender tudo isto que não fazia a mínima ideia, nunca me passou pela cabeça, mas gosto muito. É um convívio incrível, não há palavras.» Marieleen Bruggeman conta que um dia ia a passar na Baixa, espreitou o ateliê, foi convidada a experimentar e desde então não quis outra coisa. «Com algumas das pessoas senti mesmo uma conexão muito especial. Às vezes só têm de repetir ou falar mais devagar mas tudo bem, adoro!» Depois de França, Alemanha e Espanha, foi em Coimbra que a professora aposentada belga se sentiu em casa.

Durante um ano, a artista Ana Rita de Albuquerque trabalhou com as «meninas do Saco». «Um processo muito giro [porque] o cariz social torna as coisas mais humanas, obriga-nos a ter outra interacção, não estamos só a ensinar a fazer coisas, estamos aqui para as pessoas se poderem valorizar através dessa apreensão de conhecimentos e de mais valias.»

Na oficina de lanolina, conheceram o processo da confecção com lã desde o início, tosquia incluída. «Foi tão fixe!», alguém atira. «Têm sempre imensa energia», continua a escultora têxtil que assegura que dali o grupo sai sobretudo a saber trabalhar muito bem a sua criatividade e a sentir-se mais seguro da sua capacidade de fazer acontecer, de fazer nascer coisas ou pelas mãos ou pelas ideias ou pelo que for. «Acho que saem pessoas mais confiantes», completa.

Teresa Dias da Silva garante: «Aprendo coisas todos os dias e o sair de casa então, é muito bom». Está desempregada. Trabalhava na sociedade industrial de confecções Colsi.

Pensar a cidade

O Saco da Baixa, é um projecto dirigido a mulheres com mais de 65 anos que começou há sete anos na génese do projecto, hoje associação, Há Baixa. «A ideia era envolver as pessoas mais idosas da Baixa ou em situação de desemprego com uma idade mais avançada, porque sabemos que a integração no mercado de trabalho ou em redes sociais que depois as possam encaminhar para possíveis empregos é difícil com a idade», conta Catarina Pires.

«Este espaço cria uma rede de sociabilidade que ao mesmo tempo desenvolve novas competências. As mulheres vêem com os seus conhecimentos, normalmente têm alguns das artes manuais mas quem não tem vem aprender com as que têm, e convidamos artistas que trazem outras maneiras de fazer. Mais jovens, mais contemporâneas, para haver uma ligação intergeracional.» 

Catarina explica que inicialmente contaram com a parceria como da Atlas – People Like Us, que permitu começar por receber pessoas mais vulneráveis da zona, mas admite dificuldades porque «cada participante tem os seus constrangimentos e vêm quando podem» às oficinas que são gratuitas e decorrem mensalmente ou pontualmente ao longo do ano.

A de Ana Rita foi regular mas ainda recentemente uma semana foi dedicada do upcycling com a Agente Costura, residente em Berlim. Já houve uma de poesia e arte têxtil, com Lu Lessa Ventarola, com base num conto que uma das «meninas» escreveu para os netos. Participaram na Feira do Livro, no Festival Batom e no Dar a Ouvir. Visitaram várias vezes a Bienal Anozero, o Círculo de Artes Plásticas e outros eventos e espaços culturais.

«Vão surgindo oportunidades de participar noutros projectos e de colaborar com parceiros locais e não locais. A ideia é elas terem contacto com outras estéticas, outras sensibilidades. Algumas até são bastante activas na procura de actividades culturais, mas outras disseram que foram a sítios onde nunca iriam por iniciativa própria, muito menos sozinhas. Quando estivemos no Convento São Francisco foi uma forma de elas pensarem a cidade. Pensaram edifícios ou alternativas que acham que faltam.»

Este mês, podem conhecer melhor o projecto através da exposição Saco da Baixa: uma visita ao Atelier, que se integra na parceria Entre o ir e vir o que daqui levo, com o Centro de Arte Contemporânea de Coimbra e o Museu Municipal de Coimbra. Vai estar patente na Galeria Chiado, a partir de 19 de Janeiro, de 3ª feira a Domingo, das 10h às18h (aos fins-de-semana encerra das 13h às 14h). Mas não é só, o projecto também vai estar exposto em Lisboa no Isto é Partis & Art For Change, de 26 a 29 de Janeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Há Baixa

O Há Baixa começou por ser uma acção de estudantes de Arquitectura e Design da Universidade de Coimbra que queriam intervir sobre esta zona específica da cidade. No Verão de 2017, gente da Baixa (e não só) juntou-se no Salão Brazil para costurar e decorar sacos e carteiras de pano colocados depois à venda em vários pontos do comércio local, como contou o jornal Público. O objectivo: recuperar o sentimento de comunidade, inspirados na iniciativa lisboeta A Avó Veio Trabalhar, da associação Fermenta, que gira em torno dos conceitos de design social e trabalho participativo.

Catarina Pires integrou o colectivo que entretanto mudou de elementos e se transformou em associação. Integram o núcleo duro Andreia Antunes, Carlos Brito, Cátia Roça, Daniel Lopes, David Sarmento, Francisco Albuquerque, Frederico Martinho, Gilberto Pereira, Pedro Martins e Zhang Qinzhe.

A mediadora conta que apoios como o do Partis – Art For Change, da Fundação Gulbenkian permitiram arrendar o espaço na Rua Eduardo Coelho. Da formação em História de Arte e mestrado na área das Ciências, passando pela Museologia e investigação sobre o cruzamento da arte com a ciência, Catarina confessa que o que a toca é «a possibilidade de ligar mundos e criar oportunidades de encontro entre os artistas e as pessoas que não têm tanto contacto e acesso às artes, porque acredito mesmo que a arte é potenciadora de uma maior qualidade de vida.»

Quanto à cidade, «Coimbra é super rica, tem imensa coisa a acontecer. Às vezes falta diálogo, mas já esteve pior e acho que se tem caminhado no bom sentido. Há pessoas muito sérias, a fazer trabalho muito sério, mesmo envolvido e comprometido, e isso é importante.»

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