Contribuir small-arrow
Voltar à home
Conheçam

Projetos ao redor do mundo

Leiam

Estudos sobre suportes para bicicletas em autocarros

Saibam mais

Renovação da frota SMTUC

Descubram e apoiem

Coimbr’a Pedal e outras associações

Metro Mondego e SMTUC estudam a possibilidade de transportar bicicletas nos autocarros

Vencer trajetos íngremes e grandes distâncias são apontados por administradores e utilizadores para a integração entre transporte colectivo urbano e meios leves de deslocação. Às portas da implementação do MetroBus, Coimbra tem a oportunidade de se tornar exemplo de intermodalidade em Portugal.

Partilha

Fotografia: Mário Canelas, Christinne Eloy, Arquivo Berrelhas

Conheçam

Projetos ao redor do mundo

Leiam

Estudos sobre suportes para bicicletas em autocarros

Saibam mais

Renovação da frota SMTUC

Descubram e apoiem

Coimbr’a Pedal e outras associações

Um é provavelmente o maior e o outro está entre os menores no segmento dos meios de transporte urbano sobre rodas. Enquanto aquele tem peso aproximado de 30 toneladas, este pesa por volta de uma dezena de quilos. Com perfis tão diferentes, autocarros e bicicletas destacam-se nos atuais projetos de mobilidade das cidades – o primeiro por carregar mais pessoas e diminuir a pressão da imensa quantidade de carros nas ruas, o segundo pelos benefícios à saúde e ao meio ambiente pela poluição atmosférica zero. São parceiros da sustentabilidade urbana, mas pouco se conectam – pelo menos em Coimbra.

Toronto, Nova Iorque, Barcelona, Curitiba, São Francisco, Berne, Porto Alegre, Camberra, entre tantas outras cidades pelo mundo, já implantaram políticas públicas para que bicicletas sejam transportadas em autocarros. Mesmo em Portugal essa intermodalidade existe, mesmo que timidamente, no Funchal, Lisboa e Viseu. Diante da previsão de aquisição de 15 autocarros por ano pelos SMTUC e da expetativa do funcionamento do sistema metrobus, Coimbra pode, para além de juntar-se a essas cidades, tornar-se referência nesse cenário.

Conectar autocarros e bicicletas é uma decisão administrativa que permite utilizar o melhor desses dois modais, especialmente para vencer trajetos muito íngremes e longas distâncias. É o caso, por exemplo, do metrobus que vai ligar Coimbra a Serpins, em um trajeto de 42 km pelo traçado proposto. «Esse percurso é longo para quem usa a bicicleta. Dura cerca de duas horas de pedalada. Aí essa intermodalidade é importante. O ciclista pode aceder ao metro numa ponta e, à saída, usar a bicicleta para seguir ao destino final», explica o jurista Paulo Andrade, um dos fundadores do movimento Coimbr’a Pedal, que busca promover a mobilidade ciclável em Coimbra. Ele completa: «É importante lembrar que quando havia a linha do comboio até o terminal da Lousã era possível transportar bicicletas nas carruagens».

Responsável pela implantação do metrobus em Coimbra, a Metro Mondego porém não previu a intermodalidade com as bicicletas em seu projeto original. Isso, contudo, pode mudar. «Nós temos interesse nessa proposta, mas há um problema jurídico a ultrapassar, já que em Portugal não é possível transportar nada à frente do veículo. Vejo em outras cidades que as bicicletas são transportadas na parte de trás, mas isso não pode ser por razões de segurança. Já à frente faz-se no Canadá e nos Estados Unidos, por exemplo, mas o código de estrada português não permite», refere João Marrana, presidente da Metro Mondego. Diante do impedimento jurídico, Marrana apresenta possíveis soluções: «Estamos a iniciar o processo de licenciamento do sistema e nessa altura vamos interagir com o IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes) para saber se é possível alterar a legislação, pelo menos para esta situação. Há duas hipóteses em estudo: a possibilidade de transportar à frente do veículo ou dentro da carruagem – e aí terá que ser sempre fora das horas de ponta». Vale lembrar que apenas bicicletas dobráveis podem ser transportadas em todos os autocarros de Portugal.

Boas práticas pelo mundo

Os exemplos citados pelo presidente da Metro Mondego somam-se a outros tantos e representam uma mais-valia para as cidades que os adotam. É o que mostra a pesquisa, publicada em 1997, Bike Racks on the Front of Buses: Engineering and Road Safety Issues (em português Suportes para bicicletas na frente dos autocarros: Questões de engenharia segurança rodoviária) realizada em Nova Iorque, que analisa vantagens e riscos do uso de suportes para transporte de bicicletas em autocarros.

Entre as conclusões desse levantamento está a de que os suportes não prejudicam a visibilidade dos motoristas e que os equipamentos trazem benefícios como a redução dos congestionamentos em horas de ponta e menor demanda por novas estradas para carros, além da redução das emissões de gases nocivos à atmosfera e a melhoria da saúde das pessoas com a diminuição da poluição e a adoção de um estilo de vida mais saudável. Ao adotarem o uso dos suportes, as cidades norte-americanas Utah e Madison, assim como Toronto, no Canadá, prepararam material de divulgação orientando ciclistas e motoristas a respeito dos equipamentos.

Em Camberra, Austrália, a organização Pedal Power elaborou o Increasing cycling and public transport usage (2007), um documento que aponta os benefícios da transporte de bicicletas por autocarros. Entre outros, o texto aponta que os suportes resolvem o problema da vulnerabilidade das pessoas que saem à noite, especialmente mulheres, e oferece uma «rede de segurança» para ciclistas que tenham problemas mecânicos, doenças ou sejam surpreendidos pelo mau tempo.

Já a outra solução estudada pela Metro Mondego, o transporte das bicicletas dentro das carruagens, tem sido testada há alguns anos em cidades brasileiras como São Paulo, Porto Alegre, Distrito Federal e Curitiba. Lá, a ideia é tentar garantir a intermodalidade entre esses «grandes e pequenos» do trânsito. «Aqui, no caso do metrobus, acho que as plataformas centrais dos autocarros deveriam ser mais alargadas, para receber tanto utilizadores de cadeira de rodas quanto bicicletas», comenta Paulo Andrade, lembrando da experiência que a Carris fez em Lisboa. «Neste momento, este problema não está resolvido, mas temos todo interesse», ressalta João Marrana.

Um exemplo intermodal próximo a Coimbra

Diferente das experiências feitas no Funchal e Lisboa – com autocarros específicos e horários determinados para o transporte de bicicletas –, em Viseu a adoção do sistema intermodal foi feita na íntegra. A cidade, que fica a pouco mais de 90km de Coimbra, conta com equipamentos para transporte de bicicletas em toda a rede de autocarros. «Era uma exigência do caderno de encargos, a partir de um estudo feito pelo Município, diante das novas diretrizes europeias. Viseu tem uma rede bastante alargada, com uma distância quilométrica considerável. Ganhamos o concurso e, desde abril de 2019, toda a rede interurbana da MUV (Mobilidade Urbana de Viseu), com 21 linhas interurbanas concelhias, dois circuitos circulares de 20 em 20 minutos, conta com sistema de transporte de bicicletas», enumera Filipe Almeida, gerente da Berrelhas Transporte, responsável pelo sistema de autocarros em Viseu.

Ali, os autocarros transportam até duas bicicletas por vez, na parte traseira do automóvel. Apesar de admitir um «retrocesso na procura do serviço em consequência da pandemia de Covid-19, em 2020», o vice-presidente da Câmara Municipal de Viseu, João Paulo Gouveia, mostra otimismo na perspetiva intermodal. «O balanço é muito positivo, ressaltando-se um aumento na procura após o final do estado de emergência.» Nuno Fonseca, que trabalha há 22 anos na Berrelhas, comemora a instalação dos suportes na MUV, literalmente, em dobro. Adepto da bicicleta como meio de transporte, ele também é motorista da empresa. «Foi uma novidade. A procura ainda é pequena, mas espero que no futuro as pessoas comecem a andar mais de bicicleta e a utilizar mais. Os suportes são seguros. E quanto mais seguros e confortáveis, melhor», destaca Nuno.

No caso de Viseu, o motorista é orientado a descer do autocarro e acompanhar a afixação da bicicleta no suporte pelo ciclista. Só após a correta colocação o autocarro pode seguir viagem. Diante disso, o tempo da viagem estaria prejudicado? «Os horários foram colmatados de tal maneira que temos tempo para tudo, sem pressão. Mesmo que a colocação da bicicleta demore, conseguimos recuperar o tempo perdido», explica o motorista-ciclista, que certa vez levou a própria bicicleta no autocarro que dirigia. «Foi uma boa experiência. É um sistema vantajoso. Temos que lutar por um mundo melhor, em termos de poluição, e contribuir para isso. Esse é um projeto implantado que deve ser cada vez mais utilizado. É uma questão de mentalidade».

Nos SMTUC «faz todo sentido»

Duarte Miranda e Joana Martins são de Coimbra mas viveram nove anos em Gent, na Bélgica. Por lá, iam a todo lado de bicicleta. Em 2022, ao retornarem a Portugal com uma bebé, optaram por bicicletas elétricas para vencer os caminhos íngremes da cidade dos estudantes.

«Para mim fazia todo sentido ter uma bicicleta elétrica em Coimbra, até pela presença na estrada. A bicicleta mecânica vai em muita desvantagem, principalmente nas subidas, por isso acho que seria bom a possibilidade do uso do autocarro para as pessoas que usam a mecânica nesses percursos mais complicados. É uma mais-valia», enfatiza Joana. «Nesses percursos íngremes, especialmente para pessoas com mais idade, seria muito bom poder levar a bicicleta no autocarro», concorda Duarte, que complementa: «Numa escala macro, do ponto de vista da mobilidade é muito interessante porque uma pessoa que anda de bicicleta ou a pé pode usar o transporte público, à partida nem sequer tem carro. Fica muito mais fácil não ter carro».

Ana Bastos, vereadora da Mobilidade, antecipa que a conexão entre autocarros e bicicletas está na pauta da administração pública da cidade. «O Município de Coimbra identificou a ação de colocação de suportes para bicicletas em autocarros nas intenções de investimento, no âmbito do PT2030 – que continuamos a aguardar a abertura de candidaturas. Nesse sentido, prevê-se apresentar essa candidatura, assim que abrir a call, uma vez que se trata de um dispositivo essencial à promoção do intermodalidade urbana. Nessa candidatura, prevê-se a aquisição de suportes para bicicletas para toda a frota dos SMTUC, com dispositivos a incluir no exterior das viaturas. As cotas baixa e alta obrigam mesmo a soluções integradas deste tipo. Faz todo sentido».

Paulo Andrade, que faz da bicicleta o principal meio de transporte há pelo menos duas décadas, comenta a perspetiva nos SMTUC. «A bicicleta é o transporte ideal para pequenas distâncias. Mas, dizem alguns a brincar, como “Coimbra é a única cidade do mundo que tem mais ruas a subir que a descer”, a verdade é que quem mora na Baixa e quer ir aos Olivais, por exemplo, pode perfeitamente levar a bicicleta no autocarro e depois, como os Olivais são um planalto, deslocar-se perfeitamente por lá. Faz todo sentido.»

*Errata, corrigida às 10h15 de 7 de Março de 2023 a frase «Diante da previsão de aquisição de 15 autocarros por mês pelos SMTUC» para «Diante da previsão de aquisição de 15 autocarros por ano pelos SMTUC».

Mais Histórias

Ana Bastos: «Querem que se faça rápido, mesmo que mal. E é dessa maneira que seremos avaliados.»

As soluções para devolver a rua às pessoas e travar o trânsito automóvel são hoje recebidas pela vereadora como medidas sem apoio eleitoral, numa cidade dependente do carro, sem planeamento e que vê o investimento privado a desviar-se para outros concelhos.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Proximidade e uma vida a 30 km/h: soluções para Coimbra na semana da mobilidade

A definição de zonas 30 e de coexistência nos bairros residenciais é o ponto de encontro entre urbanistas, arquitectos, peritos da mobilidade e poder público para desenhar uma cidade com mais vida e menos trânsito. Há já quatro zonas no radar da Câmara.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Coimbr’a Pedal: «O sorriso está sempre presente na cara do ciclista»

Seis meses depois da reactivação, o Coimbr’a Pedal está mais activo do que nunca. Entre diversas iniciativas, colaborações e projectos, o grupo que promove a bicicleta como alternativa de transporte em Coimbra criou o selo «bike friendly» para estabelecimentos comerciais da cidade.

quote-icon
Ler mais small-arrow
Contribuir small-arrow