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«Sê-lo Ambiental»

Descubram

Catarina Barreiros

Conheçam

Brew! Coimbra

Desafiámos Catarina Barreiros e João Alexandre a partilhar soluções para festivais mais sustentáveis

Do copo de vidro à consciencialização ambiental através de parcerias estratégicas e acção dos municípios, saíram muitas reflexões e várias ideias da conversa com a activista e criadora do projecto Do Zero e o gestor de eventos do Meo Marés Vivas com a Coimbra Coolectiva e o fundador do Brew! Coimbra, João Claro.

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Fotografia: Mário Canelas

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Brew! Coimbra

O Brew! Coimbra já começa em vantagem. Acontece no Exploratório – Centro Ciência Viva de Coimbra, ou seja, não tem uma estrutura totalmente montada do zero. «Estamos neste que é um espaço de conhecimento, um espaço para as famílias, no Parque Verde. Tudo isto está a pedir que seja um evento onde as pessoas se sintam bem e isso também inclui sentir que não estamos aqui a fazer mais resíduo e mais lixo; fazemos mais mas não deixamos mais do ponto de vista de resíduo», atira o fundador, João Claro, no arranque da conversa sobre sustentabilidade em festivais promovida pela Coimbra Coolectiva durante o evento de três dias, no passado fim-de-semana.

Ao terceiro dia de festival e de muito calor, a combinar com a vontade de provar o produto da casa, passam pelo recinto caras repetidas e sentam-se caras novas, a maioria de copo de vidro na mão e com um sorriso no rosto. Não é para menos, afinal o momento é de encontro e convívio, promovendo a cultura, fazendo a economia circular e prejudicando o mínimo possível o ambiente. Que não é fácil, mas também não é impossível, como confirmam os restantes convidados do painel, Catarina Barreiros e João Alexandre.

«Eu noto uma grande evolução, principalmente [em termos] de consciência da parte das organizações, que é muitas vezes o mais importante», afirma o venue manager do Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota e event manager do Festival Meo Marés Vivas, que chegou a ser vice-presidente da direcção-geral da Associação Académica de Coimbra, conselheiro geral da Universidade de Coimbra e secretário-geral da Queima das Fitas, por isso percebe da poda. João partilha que os anos 2017 e 2018 foram «um ponto de viragem» no que toda à preocupação com a sustentabilidade ambiental nos festivais, e não foi inocente. Houve um forte incentivo por trás chamado «Sê-lo Verde».

O governo português incentivou a adopção de critérios que reduzem o impacto e promovem o uso eficiente de recursos nos festivais de música, apoiando financeiramente medidas inovadoras, de caráter e impacto ambiental positivo a serem implementadas nos eventos que anualmente arrastam milhares e milhares de pessoas de Norte a Sul do país, e que têm um impacte de centenas de milhões de euros na economia nacional. Foram 500 mil euros de dotação via Fundo Ambiental disponíveis para apoiar medidas para os quatro vetores ambientais designados: recursos, energia, efluentes e educação. Um apoio que, entretanto, foi suspenso e continua em stand by devido à pandemia.

Entre muitas, João Alexandre destaca uma medida revolucionária em particular: a introdução dos copos reutilizáveis. «Todos nos lembramos de recintos como o da Queima das Fitas, com 40 e 50 mil pessoas, em que o rasto, sobretudo de copos de plástico, era brutal. Hoje, todos ficamos surpreendidos mas até podemos sair às 6h da manhã de um recinto que temos muito menos lixo visível.» E os públicos, ofereceram resistência ao ajuste? «Não e isso só pode ser visto como algo de francamente positivo.»

Positivo e não só. Catarina Barreiros eleva a fasquia e fala na importância da acção individual. O Cidade do Zero, que a Mestre em Arquitectura e Gestão com mais de 70 mil seguidores no Instagram ergueu em Julho no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, incluiu workshops. «Para nós era muito mais importante que as pessoas fossem lá para aprender do que propriamente para consumir, o mercado de consumo era um mercado paralelo», conta.

«A ideia era gerar-se ali um sentido de comunidade que me parece ser o ponto de partida para a sustentabilidade e o que estão a fazer aqui de melhorar a comunidade, de usar este festival para conversar com a comunidade, para melhorar Coimbra, isto é que é a verdadeira sustentabilidade. É isto que se quer atingir, uma vida plena, feliz, em comunidade, em que não há desigualdades e em que existe um equilíbrio entre pessoas e natureza.»

O Cidade do Zero é um evento imersivo de três dias sobre sustentabilidade, com palestras, mercado de trocas e a presença de várias marcas que colocam a responsabilidade social e ambiental no topo das suas prioridades. Também arrancou com vantagem em relação a tantos outros festivais nacionais: o facto de ser um evento novo, único, sem fins lucrativos e sem contas a prestar. Da primeira experiência a organizar um festival, a bloguer, activista e responsável pela loja de produtos sustentáveis Do Zero admite que ficou «com muito mais admiração por quem organiza eventos, porque é bastante difícil; todas as questões da parte financeira e da sustentabilidade são efectivamente exigentes». 

Copo de vidro ou de plástico?

Casas de banho químicas ou secas? Copos novos ou reutilização dos da última edição? Vidro novo ou reciclado? Durante cerca de uma hora e meia, Catarina Barreiros, João Alexandre e João Claro disparam ideias, apresentam teorias, plantam sugestões sobre como é possível tornar mais sustentáveis ambientalmente estes eventos tão populares e com públicos cada vez mais diversos, sem prejudicar a necessária viabilidade e sustentabilidade económica, conciliando a diversão com a responsabilidade e equilíbrio com a natureza.

O público assiste atento, sentado nas paletes que servem de mobiliário do festival, totalmente reutilizado de outros eventos ou cedido por empresas e entidades parceiras, a fazer lembrar o que já acontece em festivais de grande escala como o Rock in Rio Lisboa, onde profissionais do Boom Festival vão recolher material para reutilizar em Idanha-a-Nova. O Boom tem 25 anos e foi pioneiro na mensagem e execução de estratégias em prol da sustentabilidade nos eventos em Portugal.

Catarina Barreiros defende que é preciso pensar em oportunidades de financiamento menos óbvias e oportunidades de patrocínio, e são lembradas outras tendências actuais como soluções para a acessibilidade e a inclusão, painéis solares e distribuição gratuita de água. O Brew! Coimbra contou com a presença da Águas de Coimbra, com copos de água prontos a serem levados a qualquer momento pelos visitantes do festival. «A ideia de gerar aquecimento de água através de painéis solares parece pequenina mas na nossa casa, que é uma escala mínima, 25% das faturas vêm do aquecimento das águas. Isto num festival não é de menosprezar. Bem vistas as coisas até pode ser mais importante do que o copo, em termos de pegada carbónica», atira Catarina Barreiros.

«O que estão a fazer aqui de melhorar a comunidade, de usar este festival para conversar com a comunidade, para melhorar Coimbra, isto é que é a verdadeira sustentabilidade.»

Catarina Barreiros, activista, bloguer e criadora do projecto Do Zero

O copo é polémico. No Brew! Coimbra é a forma de o festival se financiar, além de o recipiente ser mais adequado ao consumo da cerveja artesanal, mas João Claro admite que implica a produção de muito resíduo (cartão) devido ao transporte. «Transformou-se um nadinha num negócio», defende João Alexandre, e acrescentou que «é preciso perceber o que é que acontece ao copo? Quantas vezes usamos o copo? Tudo isso é importante mas parte muito de nós consciencializar que não termina só no evento, é o caminho até ao evento». Catarina Barreiros explica que «o que é tido como solução ideal é existirem empresas gestoras que produzem os copos, colocam nos festivais e depois levam os copos de volta, ou seja, haver um sistema da chamada tara retornável». Uma solução que não descarta o negócio, desde que o negócio não se sobreponha à preocupação ambiental.

A activista defende que o vidro tem vantagens e desvantagens – não é feito de combustíveis fósseis mas explora a areia, que é um material não renovável; não implica a criação de microplásticos, mas é menos seguro quando se parte e mais frágil para transportar. «No entanto, se me disserem copos de vidro reciclável eu digo: sem dúvida! E há produção em Portugal. Eu apostaria nisso numa próxima edição. O vidro é infinitamente reciclável e sem alteração das suas propriedades. O plástico não.»

O papel das autoridades

«Os municípios têm um papel fundamental, porque são eles que fazem a ligação com a gestão de resíduos, além de que, principalmente, o que nos falta é educação», atira João Alexandre, que revela que este ano o festival Meo Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, recebeu cerca de 100 mil pessoas em três dias e produziu quatro toneladas de papel e cartão, uma tonelada de vidro, uma tonelada de plástico e metal. «Os municípios têm de perceber que no momento em que passam uma licença têm de dar determinadas condições e são apenas exigir», completa. 

Melhorar a comunicação, consciencializar, informar – para, por exemplo, evitar a contaminação de resíduos dentro dos ecopontos, proporcionar opções de transporte público para as deslocações para e desde o recinto, assegurar a limpeza, controlar a gestão de resíduos, promover a redução e reutilização de embalagens, gerir o consumo de água e energia, colocar caixotes de compostagem e caixotes de reciclagem selectiva além dos ecopontos tradicionais são outras ideias a tomar nota.

«É preciso que a sustentabilidade ambiental acompanhe a económica», diz Catarina Barreiros, que acredita que também é interessante usar os eventos para comunicar a sustentabilidade, promovendo a recolha de determinados materiais, como pilhas. Ou seja, os festivais podem ser palco de acções de sensibilização ambiental. «Pedir às câmaras para aproveitarem os eventos e dar-lhes espaço para, durante os eventos, terem esse tipo de acções.»

Sem fundamentalismos, a activista defende que é necessário perceber que a longo prazo há benefícios e mesmo compensação financeira e, quanto à acção individual de cada um de nós, «vale sempre a pena ser o chato de serviço, mas sem exagerar porque queremos é que as pessoas venham para o nosso lado.» Usar o mesmo copo ou um cantil, não comprar o que não se precisa, responsabilizarmo-nos pelo lixo que geramos e fazermos pequenas escolhas como não pedir um menu que inclui garrafa de água se houver água disponível no local e ser respeitoso com as pessoas que estão à nossa volta faz a diferença.

Futuro verde

Como começámos por dizer, o Brew! Coimbra realiza-se no Exploratório – Centro Ciência Viva de Coimbra, co-organizador do evento, juntamente com a Câmara Municipal de Coimbra. É a associação que se responsabiliza pela manutenção e limpeza de todo o recinto durante o festival, e permite a utilização das casas de banho com ligação à rede de distribuição de água pública,. «Este bem estar não cai do ar, cai do trabalho do João e da equipa do Exploratório», atira Paulo Trincão da plateia, quase no final da sessão.

O director do Exploratório levanta o véu e avança que na próxima edição conta ter «um novo palco anexo, uma maior ligação à mata e provavelmente cinco repair cafés a funcionar permanentemente, onde a reciclagem não é só pôr a coisa num sítio qualquer e alguém resolve é a pessoa que faz parte desse acto, tem a hipótese de aprender como recicla». E dispara: «Este é que é o espírito do Brew!, isso é que faz com que isto seja mais do que um festival de cerveja dentro de um centro cultural, nomeadamente com atenção ao público infantil, é isso é que nos distingue.» 

Os repair cafés são espaços de partilha de conhecimentos onde voluntários ajudam e ensinam clientes a reparar objetos, de micro-ondas e desumidificadores a peças de roupa, num movimento contra o descartável e o desperdício.

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