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O dia em que deram palco à música cigana local

Grupo complementou a exibição do filme A Música Invisível e o momento foi considerado um «marco histórico» por Bruno Gonçalves, activista e dirigente da associação cigana Letras Nómadas.

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Fotografia: Cedidas por Catarina Gralheiro (Câmara Municipal de Coimbra))

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«Sou o Josué, tenho 16 anos, estudo na escola D. Dinis.»

«Sou o Isaac, tenho 13 anos e gosto de tocar caixa flamenca.»

«Sou o João Monteiro, gosto da música e gostava de seguir para a frente. É a primeira vez que toco num espaço assim tão grande e queria seguir com isto.»

«Sou a Chanel, tenho 14 anos, estudo na escola Rainha Santa e gosto de cantar.»

«Sou o Leonardo, é a primeira vez que aqui estou a cantar, não sou cantor.»

«Sou o Ezequiel, comecei a tocar a guitarra aos 12 anos e aprendi a tocar vendo vídeos do Youtube.»

«Sou a Mónica, aprendi a dançar com as outras minhas primas porque é a tradição da etnia cigana e gosto de fazer isso.»

Sete vozes, sete estreias. Pela primeira vez, cantaram fora das comunidades ciganas ou roma de Coimbra onde se inserem e encheram a Sala D. Afonso Henriques, antiga igreja do Convento São Francisco, no warm-up do Festival Política, dia 11 de Fevereiro. O grupo amador juntou-se propositadamente para complementar com música e dança ao vivo a exibição do documentário A Música Invisível de Tiago Pereira, coproduzido pelo Festival Política. O filme resulta de mais de 250 filmagens que o realizador fez em várias localidades do país, entre 2019 e 2022, inserido no projecto A Música Cigana A Gostar Dela Própria, «filho» do Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, que se dedica a documentar, valorizar e divulgar processos e práticas musicais como manifestações de cultura popular.

João Monteiro estava orgulhoso. Apontou para a plateia e disse que o avô, com 96 anos, barba branca e fato e chapéu pretos, também fez questão de assistir ao seu primeiro concerto público. Tiago Pereira confessa que partilha a emoção, até porque «fazer o filme foi muito difícil, porque a cultura cigana tem esta coisa muito bonita de proteger os mais velhos e protege-os de uma maneira muito forte». A plateia dedicou fortes aplausos ao patriarca sentado a poucos metros do presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva.

Antes e depois do momento musical, Tiago Pereira apresentou o projecto e convidou Bruno Gonçalves, dirigente da Associação Cigana Letras Nómadas, para uma conversa aberta também com o público sobre as comunidades ciganas em Portugal, onde não faltaram recados à sociedade e autoridades locais.

«A música tem esta capacidade muito forte de quebrar preconceitos».

Tiago Pereira, realizador

Tiago contou que o primeiro músico cigano que gravou foi José Lito Maia, em 2014, em Portalegre, e que a partir de então «havia sempre esta ideia de querer gravar mais música cigana pelo país». Em Elvas, foi onde conseguiu «gravar com mais força a comunidade cigana» e onde percebeu que, às vezes, «nos esquecemos que a música tem esta capacidade muito forte de quebrar preconceitos».

O documentarista explicou que o objectivo do seu trabalho é fazer discriminação positiva e «perceber como é que é a música cigana em Portugal, por que é que ela é invisível, consumida muito internamente e não sai cá para fora». O filme aborda as características e estilos, da rumba às influências do flamenco espanhol, bem como as letras onde, regra geral, não falta o famoso «Ai!», expressão que designa dor, aflição e surpresa mas também alegria e emoção. Há também quem já misture o merengue, salsa, kizomba e hip hop como Beto Bethoven & Giovanny com Tropa 253.

O Festival Política é um evento que a partir deste ano acontece em cinco cidades (além de Coimbra em Novembro também em Lisboa, de onde é originário, Loulé, Évora e Braga) e que promove a participação cívica, a inclusão, a defesa dos direitos humanos e o combate à abstenção. Foi a organização que desafiou Tiago a reunir todo seu o material, que o próprio considera representar «uma grande aprendizagem», e fazer um filme apresentado nos diferentes pontos do país, com a participação das comunidades ciganas locais.

«Tenho muito a agradecer à música cigana e aos ciganos que fazem música, no sentido em que a música era importante para as comunidades e deixou de ser. Para eles continua a ser», desabafa o realizador. «Isso é uma coisa muito bonita. Aprendem uns com os outros, têm esta lógica interna da música ser o sentido aglutinador, de aprendizagem, de forma de estar num todo e isso é uma coisa muito bonita e que nós esquecemos. Hoje em dia já ninguém canta porque sim, porque lhe apetece, agora a música parece toda que tem hora marcada na sociedade, mas há 60 ou 50 anos atrás em qualquer aldeia, em qualquer sítio havia muita gente a cantar e isso perdeu-se.»

Tiago disse também que quando a música está fora de portas, ao ar livre, acontecendo de forma espontânea, «é isso que nos faz a nós todos seres humanos», lamentando que em vias de extinção «com o rural a desaparecer».

Comunidade cigana em Coimbra

Bruno Gonçalves disse que a cultura a que pertence é uma cultura resistente. «Aqui vimos que há coisas que nunca vão abandonar, como o sentimento de orgulho que expressam através da música», atirou o dirigente da associação Letras Nómadas, natural de Coimbra, que se assume «activista pelo meu Portugal, porque me sinto um português, mas não deixando de lado a minha cultura, da qual eu tenho muito orgulho.»

Para Bruno, o trabalho de Tiago Pereira é «um marco histórico» por dar visibilidade e mostrar a diversidade das comunidades ciganas a nível nacional. «São cinco séculos de permanência em território português infelizmente pautados por um passado traumático que muita gente desconhece e que infelizmente trouxeram muitas assimetrias.» Nas suas intervenções, o dirigente associativo atribuiu aos poderes locais, autarquia e juntas de freguesia, responsabilidades no sentido de combater essas assimetrias, argumentando que «não podemos ter portugueses de primeira, de segunda e de terceira» e «há armas que têm de ser bastante trabalhadas e não podemos também ser vencidos, infelizmente, por um cancro que começa a aparecer também nas nossas sociedades que é a questão dos nacionalismos e da extrema direita».

Serão cerca de 12 milhões os roma a viver na Europa, muitos mergulhados em situações de pobreza. Segundo o Conselho da Europa a população em Portugal será de cerca de 52 mil pessoas e o último Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas, datado de 2014, indica 732 a residir no distrito de Coimbra.

«Eu em criança certamente que não me apercebi de toda a descriminação directa ou indirecta que sofri. É verdade que a minha família não pôde escolher onde vivemos, fomos de facto enviados depois do 25 de Abril para o Bairro do Ingote, um bairro onde, de facto, a segregação espacial aconteceu. Hoje, felizmente, não é. Houve um bairro que se acostumou na cidade a ser chamado de “bairro dos ciganos” e nunca teve mais de 10% de população cigana. Ciganos e não ciganos foram enviados para aquele espaço onde eu – felizmente, e agradeço muito aos meus pais – me tornei bom cidadão. Mas isto muitas vezes não acontece. Não acontece por sermos privados das oportunidades.»

Em Dezembro, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou os ciganos que «deram a vida» pela independência nacional numa mensagem evocativa do Dia da Restauração da Independência e lamentou a discriminação de que têm sido alvo em Portugal. Bruno Gonçalves lembrou essa menção do presidente da república no Convento São Francisco e sublinhou a necessidade de coragem política para pôr questões como o racismo e a segregação na ordem do dia, mais representatividade nos partidos políticos («não só para colorir as listas») e que a cultura cigana faça parte dos manuais escolares.

«Existe um racismo que tem de ser combatido, porque não é um processo irreversível, cabe a todos nós combater», processo que, segundo o activista, deve começar pela educação e inclusão. «Não vamos confundir cultura cigana com comportamentos de indivíduos, é uma coisa completamente diferente, estes comportamentos existem em todas as culturas.»

Ainda recentemente um passatempo publicado no jornal Diário de Coimbra suscitou duas queixas na Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que funciona junto do Alto Comissariado para as Migrações, uma delas por parte do Observatório das Comunidades Ciganas, por ser usada a palavra vagabundo como pista para a palavra cigano nas palavras cruzadas da edição de terça-feira, dia 7 de Fevereiro.

Dia 8 de Abril celebra-se o Dia Internacional dos Roma em memória do primeiro Congresso Mundial dos Roma, em 1971, onde foram criadas cinco subcomissões para cuidar de assuntos sociais, como educação, cultura, língua e crimes de guerra. Foi lá que se tomaram algumas decisões importantes como a determinação de uma bandeira, um hino oficial romani além de ter sido adoptada genericamente a palavra rhomá (roma) em detrimento das muitas variantes de cigano como gypsy, gitano, zingaro e tzigano. Bruno Gonçalves referiu outros dois grandes grupos: Calon e Sinti.

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