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Opinião | Uma Casa do Cinema de Coimbra, porquê?

Por Tiago Santos

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Fotografia: Casa do Cinema de Coimbra

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Petição por condições acústicas na Casa do Cinema

Coimbra é uma Cidade de Cinema. Já falámos sobre isso, mas não será demais recordar o pioneirismo da cidade que na viragem para o Séc. XX tinha exibição de Cinema no Theatro-Circo, mais tarde Teatro Avenida, da sua participação na génese do movimento cineclubista em meados da década de 40 e mais tarde ao acolher, em 1955, o primeiro encontro nacional de cineclubes. Coimbra sempre foi plural nas possibilidades de ver cinema, tanto em inconformidade para dar a ver o que a política reprimia, como no entretenimento e formatação de massas. Durante muito tempo a cidade conseguiu ter a funcionar várias salas de cinema recebendo a programação de empresas e de associações devotas à sétima arte.

O que era já não é e o Teatro Avenida passou a ser um Centro Comercial, o Tivoli já não é a Zara, a Sala do Girassolum já esteve no OLX. O Cine-Teatro São Teotónio praticamente só é conhecido pelos alunos daquele colégio e o Sousa Bastos continua de pé à espera que lhe salvem a fachada. A Cidade ganhou dois multiplex, que motivaram o fecho dos cinemas no Girassolum (2005) e no Avenida (2006). Somente o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) mantinha a sua exibição regular, com a restante oferta de cinema a ocorrer em contextos informais, na medida do possível e sempre em formato vídeo, longe do que podemos considerar cinema: uma tela grande, som surround, uma plateia significativa e a partilha entre espectadores.

Os caminhos dos Caminhos cresciam fazendo-se entre o TAGV, Auditório Salgado Zenha, dos multiplex, mas longe do que se poderia pensar um espaço fixo e dedicado ao cinema, tal como se verificava para as Artes Plásticas, o Teatro ou a Música. E o que têm em comum espaços? São voltados para a cidade e para a comunidade. Havia tanto a necessidade de se criar um espaço para a atividade contínua dos Caminhos – com maior divulgação do cinema português e das cinematografias menos difundidas – como para o Fila K que sempre andou em itinerância pela cidade, quer para o Centro de Estudos Cinematográficos cuja atividade estava circunscrita no seio da academia. 

Foi graças a um rol de condições proporcionadas pelas políticas de apoio à cultura no contexto pandémico, que se criou a oportunidade para ocupar o abandonado Estúdio 2 do Cinema Avenida. Houve reforços de verbas para a realização de Festivais de Cinema e o Programa Garantir Cultura, que no seu conjunto permitiram o acesso aos equipamentos profissionais necessários para a operação de uma sala de cinema, e houve sobretudo a vontade de partilhar e contribuir para um espaço e ali dinamizarmos em conjunto a atividade regular de cada associação. É nesse espírito de missão conjunta que não se criou apenas uma sala de cinema, mas a casa do cinema de coimbra. 

É claro que houve muitos cúmplices e sobretudo muita aprendizagem muito para além da técnica e da curadoria, recebendo além do entusiasmo do público uma gestão mais pesada, mas que a seu tempo deu um fruto que pensávamos difícil de obter: o público da casa do cinema de coimbra rapidamente se tornou uno e superior à soma dos públicos que cada associação tinha. Além disso, conseguiu-se recuperar uma sala de cinema presente na memória da cidade, mas esquecido pelos seus habitantes. 

Todos tivemos sorte. Todos. Até a casa teve sorte na data da sua abertura. Poderíamos ter aberto logo no início do ano de 2021, pois nós já estávamos prontos técnica e curatorialmente, mesmo com o covid em todo o lado. Na prática seria retomar a operação da sala, mas o confinamento decretado deu-nos mais uma oportunidade para amadurecer o projecto, o seu planeamento, ir atrás de apoios e estabelecer a identidade que hoje lhe conhecemos. 

Não nos podemos esquecer que arrancamos por iniciativa conjunta e sem os apoios que os nossos congéneres do cinema têm nos seus municípios. Arriscámos financeiramente, mas não emocionalmente. O projecto começou passo-a-passo com 3 sessões por semana, uma por associação, indo ao encontro das possibilidades de programação e produção de cada uma. Seguimos o modelo de exibição que sempre fizemos nos «Circuitos Alternativos» e em novembro com a realização do Festival Caminhos. Em conjunto fizemos 184 sessões, indo além dos 9000 espectadores. Nunca tínhamos feito tantas sessões em tão pouco tempo.

Findo o ano de 2021 e o plafond atribuído nos apoios anteriores tivémos que nos reinventar novamente. O que faríamos com uma sala e sem as possibilidades de 2021 para a programar? O que poderia ser feito quando concursos municipais só seriam concluídos em março ou abril e os concursos do ICA estavam indefinidos e com fortes hipóteses de só abrirem em março? Fechar novamente? 

A resposta a estas questões só foi possível de satisfazer com parcerias estratégicas que nos abriram portas na distribuição «comercial» de cinema e nos educaram para uma dinâmica que progressivamente passou de 2 exibições ao longo de quatro dias para sessões todos os dias da semana. Foi uma mudança que imediatamente se mostrou positiva e mais sustentável, onde os subsídios passaram de elementos de subsistência para elementos capacitantes e as audiências se revelaram mais significativas em função das novidades, dos prémios recém atribuídos, em suma da mediatização de cada filme. Tal mudança permite-nos hoje de forma conjugada programar os filmes em estreia a par com os nossos ciclos temáticos e assim promover uma programação diversificada entre o contemporâneo e o clássico. 

Mas se o arranque de 2022 parecia estar a correr bem, nada como um balde de água fria para refrear os ânimos. Estávamos efectivamente motivados, tanto com os resultados como com a atribuição do DIR provisório da IGAC, mas sobretudo porque tínhamos a autonomia que nunca tivemos antes. Foi sem qualquer aviso prévio – depois de quinze anos esquecida – que a sala foi colocada em leilão público e nos vimos arredados de qualquer hipótese de sequer sonhar com a sua aquisição. Há uma grande diferença entre sustentabilidade e lucro e na nossa atividade não auspiciamos a segunda. Das mil portas a que pedimos socorro, o Município foi a única entidade que acolheu os nossos argumentos e percebeu o interesse público do nosso trabalho e o retorno que uma sala de cinema como a nossa dá para a região. Aconteceu tudo há precisamente um ano e não podemos esquecer o enorme voto de confiança que nos foi atribuído. Não nos limitamos a agradecer, esforçamos-nos o máximo possível para melhorar a oferta e a experiência para os nossos espectadores.

Em menos de um ano correspondemos com a entrada na Rede Europa Cinemas, reforçando a presença de Coimbra como local de cinefilia. Hoje todos os dias 3059 cinemas europeus exibem o nome de Coimbra na abertura de todas as suas sessões. É uma ação que pode passar despercebida, mas que tem um retorno incrível para uma cidade que se afirma pela sua oferta cultural. 

O que temos hoje como Casa do Cinema de Coimbra poderá parecer muito pouco diferente da sala de Maio de 2021, mas não o é. Em estreito contacto com o município estamos a resolver várias anomalias, umas com maior complexidade técnica que outras resolvidas com a mesma celeridade com que foram identificadas. Contudo as anomalias mais relevantes e complexas que prejudicam a experiência em sala são as de mais fácil resolução e só dependem de um pouco da boa vontade e do diálogo da comunidade que nos rodeia. São os espectadores que nos dão força para continuar um trabalho que tem tanto de cativante, como burocrático, que nos emociona e nos frustra, seja pelas limitações financeiras, mas sobretudo pelas condicionantes a que somos alheios. 

Hoje, 12 de maio, mais do que a casa e as associações que nela “habitam”, está a cidade de parabéns porque finalmente tem – por ironia um espaço que esteve esquecido – um espaço dedicado à programação de cinema com reconhecimento nacional e europeu. Contamos com os mais de 30 mil espectadores destes dois anos para tornar este espaço no que a região precisa, com mais oportunidades: para conhecer filmografias menos difundidas; para retomar a formação técnica em cinema; para receber e ancorar o desenvolvimento de projectos cinematográficos. Tudo isto é possível.

 1) A partir de 1946 com o Círculo de Cultura Cinematográfica e a Associação Académica de Coimbra, que em 1958 cria o Centro de Estudos Cinematográficos, e a partir de 1949 o Clube de Cinema de Coimbra. 
2) A Caminhos do Cinema Português – Associação de Artes Cinematográficas de Coimbra foi fundada a 21 de Novembro de 2001.
3) O Fila K Cineclube foi fundado em 17 maio de 2002.
4) Os Caminhos do Cinema Português haviam realizado parte da sua XXVI edição no Estúdio 2 do Avenida.
5) Falamos de um atraso de uma década, sem acesso a projeção DCP. Nós e o TAGV, os principais promotores de cinema “alternativo” na região. Tudo se compôs, mas foi preciso uma pandemia para surgirem os apoios que deveriam aparecer recorrentemente e possibilitar que projectos similares surjam noutros pontos do país. 
6) O DIR é acrónimo de Documento de Identificação do Recinto. Na prática quer dizer que o projecto da sala cumpre com a legislação em vigor e a IGAC acredita que a sala poderá laborar com condições de segurança para o espectador. A IGAC – Inspeção de Atividades Culturais – monitoriza e fiscaliza a atividade cultural em Portugal protegendo os direitos dos autores e os interesses dos espectadores. 

Tiago Santos é licenciado e Pós-Graduado em Tecnologias de Informação Visual e Mestre em Design e Multimédia. Frequentou o Doutoramento em Arte Contemporânea e actualmente é Doutorando do Programa de Materialidades da Literatura na Universidade de Coimbra. Colabora nos Caminhos do Cinema Português desde 2007, é vice-presidente da associação desde 2019.

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