Contribuir small-arrow
Voltar à home
Ajudem

Os Nossos Miaus

Os Nossos Miaus: há quem faça a diferença na vida de dezenas de gatos do concelho

Fomos conhecer o grupo informal de voluntários que cuida de 22 colónias de «gatos comunitários» capturados, esterilizados e devolvidos à rua, onde gostam que se sintam felizes.

Partilha

Fotografia: Mário Canelas

Ajudem

Os Nossos Miaus

Estamos em Taveiro, num jardim. Há comedouros, bebedouros e uma casota. A gata «Tuxinha» está sentada a apanhar sol e ao lado dela um amigo que veio visitar. Não faz parte da colónia, mas também se alimenta aqui. Inês Quinteiro e Elisete Salgado acompanham-nos nesta espécie de visita guiada a várias zonas da freguesia onde alimentam voluntariamente aqueles a que chamam «gatos comunitários», que vivem na rua mas já foram devidamente esterilizados e tratados em alguns casos.

Foi o gosto por animais e a vontade de os ajudar que as levou a integrar o grupo de voluntários Os Nossos Miaus. Inês já andava intrigada com os postos de alimentação e procurou informações, Elisete ficava preocupada cada vez que nasciam novos «gatinhos» na sua zona. «Às vezes as mães abandonavam-nos e acabavam por morrer. Eu não sabia como fazer e aquilo incomodava-me, estarem ali os gatitos, uns morriam, outros não… Ainda tentei resolver sozinha antes de existir o grupo, mas não consegui apoio, nem ajuda, nem nada. Depois do grupo sim, está controladinho.»

Criado em fevereiro de 2021, em Taveiro, o grupo de cuidadores Os Nossos Miaus, como gosta de ser chamado, é responsável por colónias de gatos que funcionam como casas de abrigo. Fazem aquilo que é chamado de CED – Captura, Esterilização e Devolução de gatos de rua. Inês e Elisete contam que o objetivo é poderem dar uma vida melhor aos animais que andam nas ruas, garantindo-lhes cuidados básicos de sobrevivência, e sentem necessidade de divulgar as colónias que administram para cada vez mais pessoas ajudarem. No caso de Taveiro, já contam também com o apoio da junta de freguesia e alguns proprietários de terrenos. 

Porquê Taveiro? Porque a maioria dos voluntários lá mora e a quantidade de animais que se via pelas ruas começou a ser difícil de ignorar. As voluntárias acham que é pelo facto de ser uma zona mais rural. São as pessoas que contribuem regularmente com ração, sempre que sentem necessidade, e até já há um sistema instalado. «Nós tínhamos rotina para dar a alimentação. De manhã à noite, eles tinham aquela rotina, àquela hora eles estavam lá todos. Agora, desde que têm os comedouros, têm sempre lá comida, vão comendo, não têm necessidade de ter horário.» 

Como ajuda extra, o grupo Os Nossos Miaus começou a participar em campanhas de angariação de alimentação para os animais, como a do passado dia 12 de março, no CoimbraShopping. Em parceria com o Banco Solidário da Animalife, conseguiu angariar 300 quilos de ração. «Já é uma grande ajuda e vamos ter comida para uns tempos», comenta Inês Quinteiro.

O grupo já contou com a ajuda da ARPA – Associação pela Redução Populacional e Abandono de Cães e Gatos, por exemplo com o empréstimo de jaulas, mas entretanto investiu em equipamento próprio. «Jaulas só temos duas, porque é caro. Gastámos 250€ numa armadilha e uma jaula», explica Inês sobre o equipamento necessário para que todas as capturas sejam um sucesso. «O que acontece é que quando nós os capturamos não podemos pô-los numa transportadora normal, passá-los da armadilha para uma transportadora é missão impossível.»

Inês explicou-nos todo o processo da captura. «Às vezes demora 10/15 minutos a apanhar um gato e já tivemos aí duas ou três horas só para apanhar dois gatos, porque eles são desconfiados, são muitos desconfiados.» Até ao momento já fizeram 116 esterilizações. «Os gatos que nós esterilizamos, como são animais de rua, é feito um cortezinho na orelha esquerda para identificar», continua a voluntária, explicando que o objectivo é não cair no erro de capturar e esterilizar o mesmo animal duas vezes.

Inês é farmacêutica e guarda equipamentos de captura no local de trabalho, que ficam à disposição dos voluntários. «A farmácia só está fechada ao domingo, portanto a qualquer dia da semana e qualquer hora, a gente tem sempre o material disponível para utilizar.»

Há 22 colónias identificadas pelo grupo em todo o concelho. Nove em Taveiro, com aproximadamente 62 gatos. Santa Clara e Celas vêm a seguir na lista com três colónias e quatro cuidadores e quatro colónias e sete cuidadores, respectivamente. Em Eiras há uma, Cernache tem duas e Antuzede uma. Ançã, já fora do concelho, também entra nas contas d’Os Nossos Miaus com duas colónias activas.

Necessidades e problemas 

Inês Quinteiro conta que nem toda a gente lida da mesma forma com os animais de rua e já houve um envenenamento numa das colónias. Vitimou seis animais. O caso levou à criação de mecanismos de defesa, como não revelar a localização da colónias, nem na página do grupo no Facebook. «Nós tiramos fotografias, mas nunca dizemos a localização exata da colónia, porque depois as pessoas podem ir e estragar.» Os voluntários usam uma espécie de nomes de código que só eles reconhecem para comunicarem entre si.

Perguntámos se é possível adoptar os animais. Respondem que nem sempre é possível porque, a não ser que sejam bebés, os gatos silvestres não são fáceis de domesticar, mas no início do ano três foram sinalizados à associação Grupo Gatos Urbanos para esse fim. O Canil Municipal de Coimbra já foi contactado para obter algum apoio mas o grupo não teve resposta ou quando teve foi tardia. «Acho inadmissível tendo em conta que têm muito mais recursos e não os disponibilizam», dispara Inês.

Esta é uma história de amor pelos animais. Inês e Elisete descrevem a sua missão e do resto do grupo de voluntários como muito emotiva, devido ao apego que ganham pelos gatos dos quais cuidam. Não são todos iguais mas alguns deixam marcas como Pantera, o gato preto que morreu recentemente atropelado e ainda deixa Inês com a voz a tremer. «Lá mesmo ao pé dos comedouros comecei a ouvir umas meninas e um senhor a gritarem: “Tirem a matrícula!”. Pronto, tinham-no atropelado. Ainda o agarrei, ele ainda se mexeu ao meu colo, mas já chegou morto ao veterinário. Às vezes até sinto um bocado de culpa porque ele estava deste lado do passeio e provavelmente ouviu-me a falar e atravessou no momento errado, à hora errada. Atravessou assim de repente.»

«Às vezes é preciso ter um bocadinho de sangue frio», confessa. «Vi-me aflita emocionalmente, todos os dias ia ali e as lágrimas caíam-me pela cara abaixo. A gente afeiçoa-se.»

Mais Histórias

A revolução também morou na Casa dos Estudantes do Império de Coimbra

O número 54 da Avenida Sá da Bandeira recebeu jovens das então colónias portuguesas sob o espírito colonial. Mas o tiro saiu pela culatra e quem acabou por ocupá-la foi a liberdade, o espírito democrático e a luta anticolonialista.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Associação de moradores precisa do contributo de todos para plantar um mural do 25 de Abril no Monte Formoso

Painel de azulejos será «uma obra de arte que destaque e celebre, no espaço público, os valores de Abril». Mais de uma dezena de pessoas já apoiaram a causa. O valor total necessário é de 511€.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Coisas para Fazer em Coimbra

Celebramos os 50 anos do 25 de abril com a estreia do nosso primeiro documentário original. Estreia dia 24 de abril, no TUMO, e é um entre tantos contributos que tornam a data ainda mais bonita e importante do que já era. Celebremos a liberdade.

quote-icon
Ler mais small-arrow
Contribuir small-arrow

Discover more from Coimbra Coolectiva

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading