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«Revelamos uma parte de nós quando juntamos pessoas generosas, transparentes, com as suas capacidades e limites, na construção de uma comunidade. Quando chega a altura de fazermos alguma coisa, estamos ali todos como se fosse uma pequena família.»

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Fotografia: Mário Canelas

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Foi num dia de sol de Inverno que o actual Reitor do Seminário Maior de Coimbra, o Padre Nuno Santos (Pe. Nuno ou Reitor), nos recebeu nos jardins, de sorriso aberto e pronto para nos falar sobre o que acontece quando se juntam pessoas generosas na construção de uma comunidade. «Ei, que cena marada!», foi o que o Pe. Nuno exclamou quando espreitámos os avanços das actuais obras do Seminário, no seu jeito desempoeirado e acessível, que faz a ponte entre o comum e o sagrado.

O Pe. Nuno sempre se sentiu mobilizado pela ideia de servir as pessoas e ninguém diria que foi uma criança travessa, que chateava a professora primária e esteve em risco de chumbar no quarto ano. Aos 11 anos entrou para o seminário, uma decisão que deixou os pais um bocadinho chocados, particularmente a mãe. A verdade é que foi inspirado por um mau exemplo, o de um padre que era arrogante e pesado, que fez com que esta criança acreditasse que podia fazer diferente. Não só fez diferente como foi diferente.

«As portas são lugares que rasgam uma parede. Eu não vejo uma porta primeiro, eu vejo uma parede onde alguém rasgou uma porta ou uma janela.»

Pe. Nuno Santos, Reitor do Seminário Maior de Coimbra

Aos 17 anos, Nuno era um jovem seminarista que veio para Coimbra estudar e foi perto do muro onde o entrevistámos que, um dia, o então Reitor foi ter com ele para lhe comunicar a expulsão do Seminário. «Eu dormia poucas horas, tinha muitos amigos fora, tinha muitas amigas, tudo isso criava um bocado de stress, mas eu não faltava às orações, tinha um grande envolvimento na comunidade e também não era pelas notas. A razão que me deram para me expulsarem era “porque parece que tu namoras”. Eu vivia uma vida em alta velocidade e expliquei que me podiam mandar embora mas não o podiam fazer por uma coisa que não correspondia à realidade. Acabei por cá ficar e ser agora o Reitor do Seminário. Nesta discussão foi engraçado perceber as tensões da vida e como o mundo muda numa frase.»

Nos últimos cinco anos, temos assistido a uma abertura progressiva dos espaços do Seminário que acolhem mercados, concertos, teatro, dança e um sem fim de outras actividades que aproximam a comunidade — crentes e não crentes. A devolução deste espaço à cidade era um objectivo do actual Reitor: «Pessoalmente, tenho o gosto de ver uma casa que estava fechada, com três pessoas lá dentro, agora aberta com muita gente a entrar e a sair. Acho que a cidade conheceu aquilo que podia ser um pequeno pulmãozinho, como se tivesse um filho perdido que já não via há muito tempo. A cidade descobriu um espaço que não conhecia.»

A conversa continuou pelos jardins do Seminário, passámos pelo baloiço que guarda vistas soberbas sobre o Mondego, talvez lhe faça lembrar o sítio onde nasceu, a aldeia de Reis, perto de Pombal, um cantinho no cimo de um planalto sempre banhado de sol, para onde regressa todos os domingos à noite para descansar. Aliás, estes últimos tempos têm sido particularmente exigentes, com as obras profundas de reconstrução do Seminário, não só da sua estrutura mas também da sua função, apesar de existirem vozes que discordam da sua visão para este lugar: «Há um ou outro colega que ainda acha que o Seminário devia ser exclusivamente para padres, seminaristas e formação, mas esse mundo acabou e eu não vejo o tempo actual como um problema mas como um desafio. Esta casa tem história para muita gente, quero que continue a ter para outras pessoas.»

Afinal de contas, o próprio nome seminário tem a ver com a semente lançada à terra, a noção da vida que está prestes a rebentar. «O Seminário é um espaço para pessoas, ponto. É também uma ideia muito contemporânea e inovadora porque, quando lanças a semente pode nascer qualquer coisa.» E não faltam ideias, sonhos nem planos ao Pe. Nuno, que os está ali a plantar e fazer florescer: «O Seminário quer produzir cultura e produzir comunidade, queria que esta casa tivesse uma função de acolhimento para muitos: para padres, seminaristas, um casal que queira descansar dois ou três dias, uma pessoa que queira fazer uma tese de doutoramento, alguém que queira estar no meio da cidade em silêncio, alguém que se queira curar.»

Nos dias de hoje, os portões do Seminário Maior de Coimbra estão abertos a todos, os espaços não têm idades nem cores. O actual Reitor entende que «somos imensamente poderosos e revelamos uma parte de nós quando juntamos pessoas generosas, transparentes, com as suas capacidades e limites, na construção de uma comunidade.» E prosseguiu: «Eu acredito mesmo nas pessoas, são todas muito especiais até que me provem o contrário. Só que o mundo de hoje, o stress que vivemos e as condições económicas atiram as pessoas para um canto e esmagam-nas no pensamento ou na sua liberdade, ficam presas e condicionadas nas suas opções. Eu acho que mesmo a questão da fé é uma questão prática, é uma questão de encontrarmos um lugar onde nos sintamos bem. A ideia é que o Seminário possa ser lugar de alimento para essas vidas e eu gostava muito de juntar estas dimensões: cultural, espiritual e solidariedade.»

Seguimos pelo relvado do campo de futebol em direcção à quinta do Seminário, um diamante em bruto no coração da cidade de Coimbra que inclui alguns edifícios devolutos como um antigo matadouro, pocilgas e a casa do caseiro. «Pedimos ao Atelier do Corvo e eles desenharam um conjunto de espaços, de ateliers artísticos. O matadouro é um espaço com muita força e podia ser um espaço de arte, a antiga casa do caseiro podia ser a casa do artista, as pocilgas podiam ser pequenos gabinetes de trabalho, para ter artistas em residência. Nada disto está concretizado porque precisamos de financiamento mas esse projecto está terminado no desenho.» A quinta é casa de um conjunto de plantações mas também de galinhas, patos, gansos e cabras. Mais uma vez, a vontade é de abrir estes espaços à comunidade, já existindo também um projecto de uma horta comunitária. Demorámo-nos dentro do matadouro, a observar, até o silêncio da reflexão ser quebrado pela visão do Pe. Nuno:

«Já aqui fizemos dança contemporânea, só para terem ideia da desconstrução. Para mim é essa a ideia mais forte do espaço, de que tudo pode ser tudo. Sobretudo, gosto que as pessoas tenham margem para a criatividade, que cada um tenha direito a exprimir-se. Acho que o melhor de nós normalmente é reprimido, ou pelo menos sinto que estamos sempre à espera que, um dia, num contexto qualquer, eu possa ser ou fazer qualquer coisa.»

Pe. Nuno Santos

E estes espaços podem simbolizar este encontro connosco, para um exercício livre do que somos e do que sonhamos, e ainda um porto de abrigo para ações comunitárias e culturais. A programação do Seminário inclui não só todas as actividades planeadas pela instituição, mas ainda diversas iniciativas produzidas em conjunto com parceiros locais e ainda em acolhimento.

O sonho comanda a vida e o Pe. Nuno comanda a chamada Comunidade das 11, uma comunidade religiosa que junta pessoas com perfis distintos. Começou por ser um grupo de 14 pessoas mas já foram mais de 300, no Verão. A Comunidade das 11 junta-se todos os domingos às 11h, para a celebração de uma missa onde todos se sentem bem-vindos, mesmo os que a acompanham online, como é o caso de pessoas que vivem no Brasil, em Inglaterra, no Líbano, na Suíça e em França.

Há um grupo de cerca de 20 pessoas que compõem o núcleo duro da Comunidade das 11 e que se assume como um motor solidário. «Quando chega a altura de fazermos alguma coisa, estamos ali todos como se fosse uma pequena família.» Uma das iniciativas foi criada quando começou a pandemia e perceberam que havia muita gente a passar dificuldades. «Apesar de nós precisarmos de dinheiro, ao longo destes dois anos de pandemia, o Seminário partilhou 30 mil euros para tentar ajudar as instituições e as pessoas. Não devemos dar aos outros apenas quando estamos totalmente bem ou quando temos muito, devemos dar quando as coisas estão apertadas para o nosso lado, criar uma cultura de partilha.»

«Isto tudo tem tanto potencial, estou cheio de vontade de concretizar coisas.»

Pe. Nuno Santos

Cidadãos Cool é uma série de reportagens sobre pessoas que estão a mudar Coimbra para melhor. Queremos ir atrás daquelas pessoas que fazem a diferença nas suas ruas, nos seus bairros, nas suas comunidades. 

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