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O Mundo em Coimbra | África do Sul

Nasci na África do Sul, em Bloemfontein, que significa fonte de flores. Aos 25 anos, peguei na minha mochila e fui trabalhar para a Irlanda. É estranho como as aventuras são fáceis quando se é jovem e não se tem responsabilidades ou receios do que pode correr mal.

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Fotografia: Mário Canelas

A minha vida em Coimbra é complicada porque ainda estou a habituar-me a viver em Portugal, há mais para aprender do que pensava. Por exemplo, raramente usei um autocarro antes. Andei de metro em Londres e Paris, comboio na Checoslováquia, mas por alguma razão os autocarros em Coimbra e os autocarros nacionais deixam-me insegura, não é fácil orientar-me.

Aquilo de que mais gosto em Coimbra são os edifícios em pedra, os relevos. Este é dos muitos lugares de Portugal ideais para praticar desenho ou estudar história, há muito a ver a uma curta distância a pé. Também gosto muito dos músicos e artistas que estão na via turística principal, enchem-me sempre o coração enquanto tomo café.

Sobre o lado mau, não gosto de viver num subúrbio fora da cidade, é preciso praticamente uma hora de viagem para me deslocar, entre caminhar até à paragem do autocarro, esperar por um autocarro e a viagem de autocarro – que é de aproximadamente meia-hora -, e depois caminhar até ao meu destino. Tira-me duas horas ao dia — suponho que quem tenha carro não entenda.


Em relação a mudanças em Coimbra e Portugal, indico mais coisas na área da comunicação. Gostava de conseguir descobrir com facilidade onde posso apanhar um autocarro e sair, as páginas na internet não são claras, as paragens não estão bem identificadas, é confuso. Criava também uma linha de autocarros nacionais que percorresse todos os parques nacionais e atrações turísticas circundantes — seria encantador. Sei que posso apanhar um transporte privado, mas é um pouco dispendioso. É o que acabo a fazer para sair aos Domingos, depois de estar em casa toda a semana.

Também acho que seria útil uma lista facilmente disponível na internet de aulas como cerâmica, dança, etc. Antigamente, costumávamos encontrar essa informação nas bibliotecas, por passa-a-palavra ou jornais locais, mas agora a vida é mais rápida e tem mais informação, relevante e irrelevante, para filtrar. Os passatempos são a forma melhor de fazer amigos, uma vez que já se tem algo em comum.

Nasci em Bloemfontein, na África do Sul. A minha família mudou-se bastante. Aos 16 anos de idade, tive a oportunidade de ingressar numa escola de artes, disciplina que adorava. Também estudei Arte, através da University of South Africa, uma universidade de ensino à distância, e fiquei surpreendida com o quanto gostei de projectos de História da Arte.

Depois vivi nove anos na Irlanda. Conheci lá o meu marido na noite de Halloween e perdi-me de amores por ele. O nosso filho nasceu em 2003 — saiu de casa este ano, o meu mundo é muito mais pequeno sem ele. O meu marido faleceu quando o meu filho tinha sete anos e eu voltei para a África do Sul, para estar perto dos meus pais. Foram anos difíceis, mas encontrámos o nosso rumo e ritmo como uma família de dois.  O meu filho nasceu um verdadeiro cavalheiro irlandês, apaixonado por seguir regras, tenho muita sorte uma vez que eu sou desorganizada e esquecida. Vivemos Mosselbay, na África do Sul, durante os seus anos de escola.

O meu filho voltou para a Irlanda e eu vim para aqui há três meses. Saí da África do Sul para estar mais perto do meu filho e também porque as pessoas não me julgavam com justiça porque sou branca — há a percepção de que tudo o que tenho consegui de graça, em vez de com trabalho árduo e, portanto, deveria ser deles. Conheci dois estudantes nigerianos que estavam de intercâmbio na Universidade de Capetown e que ficaram espantados com esta atitude generalizada na África do Sul, uma vez que na Nigéria não têm aulas de graça, nem mesmo as praias são livres de as usar, sentiram-se frustrados de ver um povo com tão mais oportunidades que os nigerianos e sem vontade de trabalhar arduamente. Outra coisa que me fez deixar a África do Sul foi a desonestidade e o crime — é demasiado elevado, parece inevitável por mais que se tente.

Quando vim cá para Coimbra, no início sentia-me muito sozinha, mas depois descobri um grupo de expatriados, de forma perfeitamente casual: abordei pessoas que falavam inglês em cafés e perguntei se me podia juntar a eles. Até sou muito tímida e calada, mas aprendi a falar com pessoas quando trabalhei num pub irlandês na pequena vila de L’ Agulhas, na África do Sul — o desespero funciona como grande motivação.

Espero viver aqui feliz e encontrar um novo ritmo para mim, agora que o meu filho saiu de casa. Agora preciso de encontrar uma aula de dança em linha – quem faz sabe que é uma paixão e um vício. Sinto falta dos amigos, da família, da dança em linha e do meu carro. A África do Sul é um belo país, mas Portugal também o é. A natureza é sempre bela, não importa onde se vai, podemos sempre encontrar um lugar para respirar fundo e olhar para algo que nos agrade.


Aulas de dança em linha é definitivamente o que eu traria a Coimbra se pudesse, porque me mantém mentalmente, emocionalmente, social e fisicamente feliz. Socializar enquanto se faz uma actividade é a melhor forma de fazer amigos e também a mais fácil para introvertidos ou para quem tem ansiedade social. Também gostava de trazer para aqui o lugar onde eu e o meu pai costumávamos nadar em Mosselbay, qualquer pessoa que adore nadar no oceano adoraria esta pequena jóia.

Termino com uma pequena curiosidade: os interruptores de luz portugueses ligam-se na direcção em que os interruptores sul-africanos se desligam.

*Texto originalmente escrito em língua inglesa, traduzido por Ana Sousa Amorim.

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