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Comerciantes apoiam Rally e Serenata no mesmo dia mas ambientalistas pedem soluções

Os eventos que atraem multidões à cidade de Coimbra, e ao centro histórico em particular, este ano acontecem no mesmo dia: 19 de Maio.

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Fotografia: Mário Canelas, oficiais Vodafone Rally de Portugal

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Coimbra vai estar no centro das atenções na quinta-feira, 19 de Maio de 2022. Ao regresso da Serenata Monumental da Queima das Fitas, que volta a realizar-se em Maio depois de três anos de interregno, junta-se o Vodafone Rally de Portugal, este ano com uma prova Super Especial a acontecer horas antes da cerimónia na escadaria da Sé Velha. Ambos eventos levam milhares de pessoas à zona histórica da cidade e, no caso do segundo, também automóveis de corrida. Segundo dados da World Rally Championship (entidade internacional que rege as provas de Rally), a prova em Portugal movimenta, nos quatro dias, cerca de 900 mil pessoas.


Ainda não se conhece o trajecto mas falámos com comerciantes da zona que consideram ambas as iniciativas positivas, embora haja quem preferisse que acontecessem em datas distintas. Ainda assim, é consensual a opinião de que a cidade só tem a ganhar.

«O Rali a passar na cidade? Até fecho a porta e vou ver!». A resposta bem-humorada é do gerente do restaurante Cova Funda – O Espanhol, na Rua da Sofia, Nicolau Oliveira. Mais a sério, o responsável do restaurante reconhece que já seria uma noite forte para o seu espaço, que todos os anos enche para os jantares de curso, e não acredita que a coincidência das datas traga problemas para a cidade. «Estará tudo a ser organizado de forma a que tudo funcione bem e nos beneficie. Vai bater tudo certo», acredita Nicolau Oliveira.


Na mesma rua, Nélson Silva também gere um café, mais próximo da Câmara Municipal de Coimbra. Confessa-nos que desconhecia o dia da Serenata Monumental, «uma data aguardada todos os anos pela mobilização de pessoas» e só vê vantagens na realização dos dois eventos. «Com a Serenata poderá ser confuso, mas acredito que vai funcionar. É uma boa ideia», admite. Recorda ainda a recente mostra de carros clássicos que em Fevereiro terá chamado muita gente à Baixa da cidade, e a paixão que muitas pessoas têm pelo automobilismo. «Muita gente segue o Rali e nem todas as pessoas têm hipótese de ir ver os carros à Alta Universitária. A nós, comerciantes, certamente que dará mais alguma coisa», defende.

«Há vantagens, mas…»

Em 2019 e 2021, a passagem do Vodafone Rally de Portugal pela cidade resumiu-se à apresentação dos carros na Alta Universitária, ao final da tarde. Este ano, o WRC (World Rally Championship)  Vodafone Rally de Portugal vai ser palco da estreia dos novos carros híbridos em pisos de terra e inova com três super-especiais, em Coimbra, Lousada e Porto, e assinala os 50 anos do WRC. Oficialmente, os primeiros quilómetros em pisos de terra dos novos WRC vão poder ser vistos dia 19 de Maio de manhã, no Shakedown do Rally de Portugal em Baltar/Paredes, que é o derradeiro teste que pilotos e equipas têm para definirem ou corrigirem as últimas afinações. Depois começa a luta contra o cronómetro, com a Super Especial de Coimbra às 20h40. É uma classificativa com três quilómetros de extensão, desenhada no perímetro urbano da cidade do Mondego, que «promete proporcionar muito espectáculo aos aficionados», como é anunciado pela organização. À mesma hora, começam os jantares da Serenata, um pouco por toda a cidade, eventos que mobilizam cerca de 20 mil estudantes que, a partir das 22 horas, começam a encher o Largo da Sé Velha para ouvir as tradicionais guitarradas.

Imagem retirada da página Serenata Monumental dos Antigos Estudantes de Coimbra (Fado de Coimbra)


Nos anos anteriores, este evento foi desencontrado da Queima das Fitas. Em 2021, a festa académica nem sequer se realizou em Maio devido à pandemia da Covid-19, tendo sido adiada para Outubro. Este ano, a prova do Mundial de Rali coincide com a noite da Serenata Monumental. «Já houve algumas alterações. O traçado da Super Especial não será na Alta, bem como já ficou definido que a prova terá de terminar antes da meia noite», conta-nos o secretário-geral da Queima das Fitas de Coimbra, Carlos Míssel, que se mostra esperançado no bom funcionamento dos dois eventos. «O próximo passo será criar sinergias entre os dois acontecimentos», salienta.


Miguel Dinis, do restaurante Jardim da Manga, admite que a cidade ganha com uma Super Especial do Vodafone Rally de Portugal, mas coloca algumas reticências quanto à coincidência das datas. «Seria excelente se fosse noutro dia, assim não sei se será bom», assume, admitindo muitas dúvidas sobre se a oferta hoteleira de Coimbra tem suporte para dois eventos desta natureza no mesmo dia. «Nessa noite não vou aceitar outras pessoas, já tenho grupos de estudantes. Vou ter tudo cheio e, mesmo que tivesse mesas, não é um ambiente muito propício para ter outro grupo de pessoas», confessa.

No sector hoteleiro, também há divisão de opiniões no que toca a expectativas para o 19 de Maio. O Hotel Dona Inês já tem reservas para essa noite, o que é visto pela gerência com alguma naturalidade. «Estas reservas são sempre realizadas com muita antecedência, por forma a se conseguir garantir alojamento para os participantes e todos os serviços de apoio envolvidos», salienta a directora do Hotel, Helena Sequeira. Na Pensão Santa Cruz, na Baixa da cidade (em frente ao edifício da Câmara Municipal de Coimbra), Valter Sereno diz que ainda não tem reservas associadas ao evento, mas o gerente espera ter casa cheia, como de resto é habitual nesta altura do ano. «A cidade ganha sempre, mas dois eventos destes na mesma altura não é benéfico. Os locais já vão estar cheios com a Queima das Fitas, que acaba por abafar todo o tipo de eventos que se realize nessa altura», considera.

Segundo o presidente da Turismo Centro de Portugal, Pedro Machado, o impacto económico do Vodafone Rally de Portugal deverá ser significativo não só para a cidade como para toda a região Centro, «correspondente à retoma da confiança dos milhares de aficionados do Rally e ao restauro do crescimento económico que todos desejamos». A entidade estima receber um número de visitantes equivalente à edição de 2019, «que superou os 300 000 só na região Centro de Portugal» e mostra-se esperançado que tudo vai correr bem.

Ambientalistas falam em anacronismo

Se do ponto de vista económico a realização do Vodafone Rally de Portugal e da Serenata Monumental da Queima das Fitas no mesmo dia parece ser do agrado de todos, em termos ambientais a questão já não é tão pacífica. As associações ambientais com quem falámos enfatizam a produção de resíduos por parte dos espectadores e a passagem de carros de alta cilindrada no perímetro urbano da cidade, como explica Paulo Andrade, da Direcção do Núcleo Regional da Quercus Coimbra. «Não faz sentido fazer o Rali numa área urbana. Dá a ideia que um desporto perigoso e de alta velocidade, que já provocou mortes de assistentes, se pode fazer numa cidade e que as pessoas dessa cidade podem praticar altas velocidades num centro urbano. O simbolismo dos carros de alta cilindrada é absolutamente anacrónico para o que se pretende nas cidades», afirma.

Para além do perigo e do mau exemplo, Paulo Andrade aponta para «um evento que vai contra todas as políticas de mobilidade sustentável que apontam a cidades mais humanas, com padrões ambientais/ecológicos de menos poluição do ar, com mais qualidade de vida e com mais transportes públicos e mais condições para a circulação de peões e em bicicleta». Para Ana Filipa, da direcção do Grupo Ecológico da Associação Académica de Coimbra, o problema não será tanto a poluição atmosférica ou o ruído, mas a recolha de resíduos. A responsável espera que a Câmara Municipal e a organização do evento reforcem o número de contentores para reciclagem (pelo menos) nesse dia. «Falamos de um evento que atrai muita gente e, com isso, há consumo e resíduos daí decorrentes. O nosso foco tem a ver com a recolha de resíduos, e considero que havendo mais pontos de depósito, as pessoas vão cumprir», entende.


Na página do Rally de Portugal na internet lê-se que no âmbito do Quadro de Certificação Ambiental FIA, o Automóvel Club de Portugal, enquanto organizador, «irá enveredar todos os esforços para revalidar a acreditação Achievement of Excellence para o Campeonato do Mundo de Ralis, em 2022» e que «é objetivo da organização continuar a melhorar o trabalho no sentido de minimizar o impacte ambiental do evento, prosseguindo e alargando a implementação de medidas em conformidade com o programa de sustentabilidade da FIA.» O compromisso é de evitar ao máximo a produção de resíduos, separar sempre todos os resíduos, dar preferência ao formato digital, utilizar sacos de reciclagem, evitar o uso do plástico, não deitar resíduos nem beatas para o chão, poupar água e energia, promover a partilha de carro e colocar as máscaras usadas nos indiferenciados. 

Mas não é só a prova do Vodafone Rally de Portugal que preocupa Paulo Andrade. No entender do responsável da Quercus, a festa estudantil deve ser revista em termos ambientais. «A Queima das Fitas é um momento de catarse entre parte da comunidade estudantil e entre esta e a população, mas é uma catarse muito pouco civilizada. É possível divertirem-se sem estragar e sem fazerem enorme quantidade de resíduos. A Quercus de Coimbra sugere que, dentro de cada carro do cortejo, haja um elemento que se comprometa a recolher as latas e garrafas que vão sendo consumidas, podendo isso criar uma dinâmica de grupo para diminuir resíduos e encaminhá-los para reciclagem», defende.

Carlos Míssel, admite que já há uma maior preocupação ambiental na festa, sobretudo no cortejo. «No último cortejo normal que se realizou, em 2019, houve uma redução de 600 mil para 100 mil latas nos carros, e é nosso objectivo reduzir ao máximo a pegada. Este ano estamos a negociar uma frota de carros eléctricos com o nosso parceiro que nos cede os veículos», revela. Míssel aponta para a parceria com a Empresa de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos do Centro (ERSUC), empresa que faz a recolha e tratamento dos resíduos sólidos urbanos nos municípios do Litoral Centro, no sentido em que a Queima das Fitas mantenha o selo de Ecoevento. O objectivo, segundo o secretário-geral da Queima das Fitas, passa por premiar o carro que fizer mais reciclagem de embalagens consumidas.

Para Ana Filipa, o esforço da Comissão Central da Queima das Fitas ainda é insuficiente, em especial no cortejo. «Nos últimos cortejos, a quantidade de lixo foi aumentando, chegando mesmo às 30 toneladas. São números incríveis. Reduzir as latas por carro não é ainda suficiente, ainda para mais quando muitas das latas não são usadas para consumo, mas para despejarem para cima dos colegas», lamenta. A dirigente do Grupo Ecológico alerta ainda para toda a envolvência da festa académica, com resíduos espalhados por toda a cidade, sem que haja um reforço da recolha. «No recinto temos feito campanhas nos últimos anos e há uma grande diferença. Já quase não se vêem copos no chão no final da noite», aponta.

A propósito das questões económicas e ambientais, contactámos a Câmara Municipal de Coimbra e o Automóvel Clube de Portugal, que remeteram as declarações para uma conferência de imprensa conjunta, a realizar nas próximas semanas.

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