Olá, meus pantagruélicos coimbrinhas.

Tal como o melhor nem sempre se revela no mais evidente, o seu contrário também se aplica. E a prova disso foi a nossa visita desta semana a um dos (para os menos atentos) menos evidentes locais da restauração coimbrinha.

E digo isto não por este ser inusitado, mas somente porque é regular e avassaladoramente ocupado por turistas em bem maior número que qualquer futrica, salatino ou doutor desta vida. Falo do Se7e, que ironicamente está localizado no n.º 10 da Rua Dr. Martins de Carvalho, partilhando calçada com o Café Sta. Cruz, antiga igreja do Mosteiro.

A proximidade com o elemento histórico não o inibiu, no entanto, de dessacralizar e inovar pratos e ingredientes genuinamente portugueses, sem pedantismos e com boa dose de criatividade e acerto.
Acima de tudo, acerto. Que é o que finalmente parece ter encontrado o iParque e a sua renovada administração com, finalmente, todos os primeiros lotes totalmente ocupados. Também foram apenas 13 aninhos, o que é isso? Tinham cá atuado os U2.

Abrimos com U2, fechamos com Coldplay. Maravilha!

Para começar, aparte o regular couvert, optámos pelo Caldo Rico de Peixes e Mariscos. Cumpriu. Caldo apaladado, bem constituído, picantinho qb, com peixe, marisco e molusco. Ótimo aconchego iniciático. De regresso terei de ensaiar ainda a Salada de Bacalhau com Molho de Azeitonas e a Salada Sete Sabores com Gelatina Moscatel.

Dos pratos principais, optámos por Sardinhas Crocantes, o seu Arroz com Pimentos e ainda a Empada de Leitão da Bairrada com Chutney de Abacaxi (ressalvar que existem opções vegetarianas ao longo da carta).

Foquemo-nos primeiramente nas sardinhas. Imaginem o invólucro do Pastel de Tentúgal com sardinha dentro, não há como melhor descrevê-lo. Aquela folhagem a partir-se a cada dentada e, lá dentro, tenrinhos pedaços do suculento peixe. A acompanhar, o tal arroz com pimentos, com penetrante, mas esclarecido sabor da nutritiva sardinha. Um arroz que, de tão confortante, apaladado e aromático, se come sozinho. Que foi o que fiz, no final da refeição, revigorando a cada garfada.

Consta que não houve garfadas, apesar de alguns antagonismos na bancada, mas antes um pastelão, naquele que foi o 13º derby da cidade. Melhor a festa fora do que dentro. Nada de novo, portanto. Para a história fica a passagem da Académica à próxima ronda da Taça de Portugal.

Entretanto, seguimos para o segundo prato, a consoladora Empada de Leitão. Acompanhada de couve-flor grelhada e um chutney de abacaxi (ia jurar que o que me foi servido era de maçã) que serve de anticlímax perfeito à lipídica carne bairradina. A empada tem as dimensões exatas para uma refeição, repleta de cima abaixo com a carne e gosto do apimentado porquinho de leite, talvez ganhasse em ser ligeiramente menos densa.

É, no entanto, uma honorífica homenagem à terra do leitão e é, sem sombra de dúvida, um excelente abracinho de que o estômago carece num domingo ao almoço. O sofá e séries da restauração, esta empada. Se lá forem no fim-de-semana acompanhem-na com uma cerveja da Brew, o Festival
de Cerveja Artesanal, nas imediações do Exploratório. Esperemos que São Pedro não estrague a festa.

No final da refeição acabámos por não nos comprometer com qualquer sobremesa devendo deixar o reparo que, tendo em conta a tão sui-generis e estimulante carta que apresenta, o Se7e não acompanha esse desígnio no seu final. Sem poder ajuizar sobre os seus sabores, que não provei, Panacotta, Pudim Abade de Priscos e Laminados de Fruta é severamente pouco, para quem nos presenteia um arroz e uma empada daquelas.

Ficou somente o amargo de boca em não ter provado o Bolo de Chocolate Negro com Mousse de Chocolate Branco e Coulis de Morango.

Pantagruélicas saudações, meus coimbrinhas.