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Abraço de Gerações

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Oficina dos Avós

Há uma maneira de não pagar renda e ajudar os mais velhos

A Associação Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel tem um programa que resolve dois problemas: o acesso a alojamento acessível e o isolamento dos idosos. Como? Juntando-os num Abraço de Gerações.

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Fotografia: John Moeses Bauan via Unsplash (capa), Inês Mendes

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Catarina Barros tem 18 anos e é estudante do 1.º ano de Psicologia na Universidade de Coimbra (UC). Deixou Braga e a casa da avó, mas sente falta dessa relação próxima agora que mora cá. Gosta do contacto com as pessoas mais velhas. «Eu adoro estar com idosos, mesmo a nível profissional gostava muito de trabalhar em lares», conta, e até já fez um estágio num lar enquanto ainda frequentava o 12.º ano do ensino obrigatório. Catarina é candidata ao novo programa Abraço de Gerações da Associação Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel (ACERSI), que convida jovens a fazerem companhia a pessoas mais velhas, com o objetivo de combater o isolamento e, ao mesmo tempo, solucionar o problema do acesso a alojamento por parte de quem está em Coimbra a estudar.

Na prática, os estudantes vivem gratuitamente na casa de um idoso ou idosa, contribuindo apenas para as despesas, sob condição de fazerem companhia e prestarem auxílio sempre que seja necessário. «Achei que era super bom também para o facto de fazer companhia a estas pessoas, sei que às vezes elas sentem-se muito sozinhas e acho que os jovens conseguem [ajudar]», continua Catarina. Falámos por telefone, enquanto a jovem ainda aguarda colocação na casa de um idoso ou idosa que se candidatou, por seu lado, à sua companhia. Catarina entrou na segunda fase de candidaturas à UC e conta que «foi super complicado arranjar uma casa». «Eu liguei para aí a 100 ou 200 pessoas num dia e ninguém tinha, [a casa onde está a viver agora] foi tipo um achado».

Depois de enviar a candidatura à ACERSI, Catarina Barros foi entrevistada por uma psicóloga e uma assistente social. Conta que lhe perguntaram qual era o objectivo da proposta, como é a relação com a família, que rendimentos tem e os gastos. O mesmo do outro lado. Os idosos candidatos também são entrevistados de forma a ser validada a proposta e verificada a compatibilidade através desta avaliação a nível social, económica e psicológica. «Damos especial ênfase à questão psicológica e não tanto à económica, porque se tivermos um estudante com dificuldades económicas que não tenha perfil, e tenhamos um que não tem dificuldades económicas mas que tem perfil, é claro que passa à frente», explica Teresa Sousa.

«Não fazia sentido não haver um projeto destes nesta cidade, porque eu adoro, é o
projeto do meu coração».

Teresa Sousa, coordenadora Abraço de Gerações


Conversámos com a assistente social responsável pelo projecto na sede da ACERSI, na Baixa de Coimbra, que explica que os estudantes só têm de estar matriculados numa instituição de ensino superior, independentemente do ano que frequentam, mas «o ideal é que estejam no início».
Alunos a fazer o programa de intercâmbio Erasmus, por exemplo, não têm prioridade no programa. «Como ficam pouco tempo, não dá para criar laços. Depois quando estão criados acabam por se ir embora.»

Teresa diz que a rotina entre o estudante e o idoso fica inteiramente à responsabilidade de ambos, havendo uma conjugação das necessidades e disponibilidades de cada um. «Há aqueles que têm as rotinas deles, que até tomam o pequeno-almoço juntos, outros que combinam ir dar um passeio, outros que vão ao cinema, depende dos casos e das pessoas.» Para os jovens, conta não só a vantagem de não pagar alojamento, mas também de viverem num «ambiente mais familiar e isso é muito importante», defende a assistente social, com anos de experiência na área geriátrica e num outro programa semelhante, Lado a Lado, que funcionava em parceria com o Centro de Acolhimento João Paulo II. «Eu também fui adotando como avós emprestados e são relações que ainda se mantém hoje.» Cerca de meia centena de pessoas terão participado ao longo dos nove anos em que esteve activo, antes da pandemia. «Era para toda a gente, era para quem se identificasse e se revisse nele».

A coordenadora admite que «as pessoas têm receio, porque é o desconhecido, é colar alguém dentro de casa», mas a divulgação e esclarecimentos sobre o que é o Abraço de Gerações na comunicação social e em programas de entretenimento televisivo «têm tranquilizado alguns deles». Conta-nos com um brilho nos olhos o quão gosta de trabalhar neste projeto. «É muito bonito ver a relação que se vai construindo entre pessoas que não se conhecem de lado nenhum e que, de repente, sentimos que já são quase familiares.« A coordenadora partilha que mesmo após terminarem os estudos, os jovens têm mantido contacto com os idosos.

A associação conta com várias parcerias, como a da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra e Associação Académica da UC. «Não faz sentido numa cidade de estudantes e onde estão tantas pessoas a viver sozinhas em situação de solidão que este projeto não ande para a frente.»
À data de publicação deste artigo já tinham sido avaliados 10 candidatos que a coordenadora do projeto acredita terem um «bom perfil». Além de Catarina são todos estrangeiros, homens e mulheres, de países como Moçambique, São Tomé e Príncipe e Brasil.

«Eu acho que uma coisa também que era giro e que eu gostava também com esta experiência, que era mesmo aprender outras coisas», remata Catarina. E já há um possível match.

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