Tânia faz parte da Associação de Pais do Atelier de Tempos Livres (ATL) de Santa Apolónia, na freguesia de Eiras e São Paulo de Frades. Perante uma situação de reconstrução familiar, com conflitos bem vivos entre os núcleos familiares, sentiu necessidade de pedir ajuda ao projecto «Famílias em Acção». A iniciativa nasceu no final de 2021, no Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel (a que pertence o ATL de Santa Apolónia), para ajudar alunos e respectivas famílias, incluindo todos os elementos, desde a resolver conflitos a tentar um maior equilíbrio nas finanças, melhorar as condições da casa e até arranjar o carro.
«Fui a uma sessão com uma técnica, que me correu muito bem. Numa futura vou com o meu filho, mas agora fui sozinha porque achei que ele está melhor resolvido que eu», adianta Tânia (que prefere não revelar o apelido), elogiando a iniciativa. «É um grande incentivo para expormos os nossos problemas à vontade e para nos sentirmos melhor dentro da família», entende.

Uma alteração familiar também levou Patrícia (também não colocamos o sobrenome) a recorrer ao projecto, mas em nome do filho. «Ele estava a ter comportamentos agressivos com os colegas e esteve mesmo em risco de sair do ATL de Santa Apolónia», aponta. Em Novembro de 2021, o jovem começou a ir a consultas de apoio psicológico e a mãe admite que está muito melhor. «Está muito mais calmo, em casa e na escola», revela. As sessões são dadas por uma técnica de Lisboa e assentam no método de Constelação Familiar, uma metodologia em que são colocados objectos ou bonecos a representar as pessoas, emoções ou sintomas.
Apoio do Estado
«O filho da Patrícia encontrou o seu lugar no seio da família e isso levou-o a melhorar o seu comportamento». Esta frase é-nos dita por Irma Brito, professora na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e coordenadora do «Famílias em Acção». Completa que, nas sessões, «procuramos os gatilhos, tentamos desconstruir o assunto. E têm sido muito eficazes junto das famílias que ajudamos».
O projecto é apoiado no âmbito do programa estatal «Bairros Saudáveis», tendo como promotores o Rotary Clube de Coimbra Olivais e o Instituto Europeu para o Estudo dos Factores de Risco em Crianças e Adolescentes, uma rede europeia que se dedica à investigação e promoção da prevenção primária de comportamentos desviantes da juventude. Tem ainda uma rede de parceiros que inclui a União de Freguesias de Eiras e São Paulo de Frades, a Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra ou a Unidade de Saúde Familiar de Coimbra Norte. Começou em Outubro de 2021 e está actualmente a apoiar 34 famílias, com um plafond de 400€ por família.

«Nós não damos dinheiro, nós damos os instrumentos para as famílias viverem de forma mais sustentável. Por outras palavras: Não damos o peixe, ensinamos a pescar», clarifica Irma Brito, que completa ainda que uma das razões para este projecto avançar tem a ver com a alteração repentina do modo de vida das famílias e dos seus rendimentos, decorrente da pandemia. Segundo a descrição do projecto na página oficial, «as famílias socialmente mais vulneráveis por vezes encontram algumas dificuldades na educação dos filhos. Através de oficinas de Reflexão, Experimentação e Transformação dinamizadas por parceiros comunitários, pretendemos apoiar as famílias a melhorar a saúde familiar, o bem-estar socioeconómico, a salubridade e conforto da habitação, sem esquecer os conhecimentos sobre saúde».
O objectivo inicial era apoiar 30 famílias, mas os recentes acontecimentos levaram a uma remodelação do projecto. «Com a guerra na Ucrânia e a chegada de quatro famílias à freguesia de Eiras e São Paulo de Frades, elas foram também incluídas no projecto. Neste momento, as crianças dessas famílias já estão a ter aulas de Português», conta Irma Brito.
Ajuda com a habitação e transporte
Uma das vertentes do projecto é ajudar as famílias na gestão do seu dia-a-dia. Uma delas passa por tornar as casas mais agradáveis e sustentáveis, inclusive na perspectiva de fazer obras que sejam necessárias. Irma Brito descreve-nos que há um arquitecto que faz a avaliação das casas e que, a partir daí, as famílias podem decidir avançar para obras. «Damos ajudas na habitação e em pequenas melhorias até 400 euros. Já substituímos janelas e electrodomésticos ou tomadas descarnadas», exemplifica a coordenadora.
Patrícia foi uma das pessoas que quis avançar para obras em sua casa, com o projecto a contribuir na compra de materiais de construção. «O meu marido está a fazer as obras e temos a ajuda de um interveniente do projecto, que também trabalha em construção civil», adianta.

Irma Brito explica que o arquitecto avalia as casas em termos de conservação e conforto energético. Paralelamente, há vários webinars (todas as terças-feiras) e workshops que servem para explicar aos associados como podem tornar as rotinas mais sustentáveis, nomeadamente no que toca a finanças, a melhoria da saúde familiar e literacia em saúde, o bem-estar socioeconómico, a salubridade e o conforto da habitação.
«A 7 de Maio tivemos uma técnica de comunicação a explicar algumas situações, com aspectos como vestir para uma entrevista de emprego. Tivemos também uma pessoa a dar explicações sobre o carro: o que significam as luzes que acendem, quando e como devem mudar o óleo, uma vez que temos muitas famílias monoparentais, em que a pessoa que utiliza o carro não tem este conhecimento», descreve.

Ensinar as crianças a terem um estilo de vida mais saudável faz parte da missão da «Famílias em Acção», por exemplo incentivando-as a plantar uma horta na escola sede do Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel. Neste momento, a própria manutenção do espaço está a ser feita pelos alunos do 5º ano da escola, tarefa que, no início do próximo ano lectivo, vão transferir para os recém-chegados, com Irma Brito a sublinhar a importância de aprenderem estes estilos de vida de uma forma mais prática.
Avaliar para renovar
O projecto «Famílias em Acção» termina tem Outubro de 2022 mas a coordenadora tem esperança que seja renovado pelo Estado. «Os meses de Julho e Agosto serão mais parados, pelo que esperamos poder ainda pô-lo em prática no próximo ano lectivo. Se for bem avaliado pode ser renovado», adianta. Se assim for,, será alargado às crianças do 2º Ciclo.