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Fotografia no TUMO Coimbra

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Cursos de fotografia AAC e Cearte

Profissão: jovem fotógrafo em Coimbra

Começam muitas vezes por imortalizar capas e batinas. Mas falámos com quatro profissionais autodidactas cujas aspirações vão mais além, apesar dos desafios do mercado e desvalorização do ofício na era dos smartphones, filtros e aplicações tecnológicas.

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Fotografia: Mário Canelas

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Olhar o passado para compreender o presente e captar o futuro é uma das lentes salvaguardadas pela fotografia e os Encontros de Fotografia, nascidos em Coimbra na década de 1980, provaram-no. Apresentaram durante anos a constante mutação do registo fotográfico, através de exposições de grandes nomes da História da Fotografia, encomendas de trabalhos internacionais e aposta em fotógrafos portugueses.

Descobrimos que há uma nova e profícua geração de jovens fotógrafos ou aspirantes a fotógrafos locais a reclamar apoio para vingar no sector que, como outros, tem os seus desafios. Jovens que, não raras vezes, se dedicam a fotografar os estudantes na cidade académica em sessões que marcam o final do percurso e servem de recordação. Sempre trajados, os estudantes fazem, por norma, sessões individuais ou de curso, e há também a tradição de fotografar os carros do cortejo da Queima das Fitas, onde cada curso costuma contratar um fotógrafo só para o seu carro. 

Rafael Saraiva faz esse e outros trabalhos. Está a terminar a Licenciatura em Engenharia Informática no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra e a estagiar. Espera depois dedicar-se mais à fotografia, desenvolver as capacidades na área, porque para já os estudos são um entrave. «É a semana toda a trabalhar» e «aos fins-de-semana uma pessoa já está cansada», fica com menos energia para o resto. O interesse pela captação de imagens despertou quando o ponteiro do seu trajeto tocou na adolescência. Contudo, o jovem fotógrafo recua no tempo ao evocar a memória, registada pela câmara analógica da mãe, de um Rafael em criança a tirar fotografias aos patos num jardim. Natural da Figueira da Foz, aprendeu gradualmente e de forma auto-didacta a manusear o equipamento, com a ajuda de tutoriais disponíveis online. Começou a gostar da interação com as pessoas de forma indireta. «Faço um estilo de fotografia low profile. Afasto-me um bocadinho, vejo as reações das pessoas e estou atento ao ambiente.»

Há vários tipos de fotografia. Eventos, produto, de estúdio, retratos, paisagens. Rafael ainda está á procura da sua especialidade, algo que o faça dizer: «estou a trabalhar nisto e a adorar, e gostava de empenhar-me e ser o melhor que consigo ser». Pensa trabalhar com empresas, fazer evoluir o website pessoal com entregas acessíveis a todos, tanto fotógrafos como clientes, e explorar um tema que recentemente lhe roubou a atenção: as repúblicas de estudantes. Frequentou festas de considera que há muito por mostrar e contar sobre as casas e respectivos moradores que, habitualmente, são reduzidos a «uma cambada de bêbados e drogados».

O fotógrafo e videógrafo Gonçalo Cunha gostava de ver mais diversidade na comunidade de jovens fotógrafos de Coimbra, que pode e deve ser «muito maior e saudável» para não haver «aquela competição de querer roubar o negócio ou ser melhor do que o outro». O profissional credita que a solução passa por «não ter inveja do trabalho dos outros», já que é comum a sensação de que entrar na área é factor de grande stress. «Não é só flores como se vê no Instagram», descreve, e, além disso, destaca a importância de ajudar e ensinar os novatos porque «certamente depois o favor é retribuído de alguma forma».

Com 26 anos, Gonçalo é freelancer e trabalha em part-time no departamento de comunicação da FNAC. Ganhando inicialmente fascínio pela música, apercebeu-se mais tarde que a sua paixão ficava por detrás das câmaras. A fotografia de estúdio pode ser o próximo passo, mas o desafio está no facto de o mercado funcionar muito na base do passa-palavra. «Muitos [colegas] acabam por ficar pelas cunhas, ou seja, já conhecem x e acabam por passar para y – não há aquela vontade de explorar novos caminhos». O fotojornalismo, por exemplo. Contudo, refere que a realidade faz parte da área e que, como qualquer outro trabalho, se o fotógrafo não procurar as oportunidades não caem no colo. Entende que faltam estúdios profissionais na cidade.

Para João Santos, o interesse pela imagem surgiu apenas depois da pandemia, em 2021. Tem
23 anos, é trabalhador-estudante, e inclina-se para «tudo o que seja fotografia artística». Quer trabalhar com toda a gente que tenha alguma referência de inspiração e que precise de uma lente para a registar e acredita que em Coimbra há uma boa zona de conforto. «[Encontrando] pessoal da tua idade e se te deres com o grupo certo de amigos, que puxe ti, consegues explorar muito a tua arte». A seu ver, há potencial na cidade, mas também sazonalidade, porque no verão o mercado «morre muito». «Podíamos puxar pelas pessoas para ficarem cá com mais investimento no trabalho jovem», defende, mas admite que, não raras vezes, lhe é reconhecida a função de criador de memórias.

Tivemos de redobrar a pesquisa para encontrar uma jovem fotógrafa em Coimbra. Bruna Gaspar tem «quase 22 anos» e tem-se dedicado a eventos e retratos, mas vê destino na parte editorial das revistas. Quer desenvolver a veia artística. Formou-se em Geografia e sentiu dificuldade em conciliar os interesses tão distintos, sobretudo na época de exames. É em Maio que também «há mais eventos, mais sessões, começa a surgir mais trabalho». Diferença por ser mulher só nota, por vezes, na forma como é abordada. «Há mais aquela tentativa de mandar alguma boca ou brincar um bocado e a brincadeira acaba por não ter tanta piada. A questão é que se fosse um rapaz, provavelmente, não iam brincar da mesma maneira.» Mas «há que ter a noção de que a pessoa está ali apenas para fazer o seu trabalho», realça.

Em comparação com a cidade natal, Bruna acha que em Pombal existe uma tentativa de desenvolver mais atividades que permitam aos jovens realizarem-se a nível artístico. Gostava que acontecesse o mesmo por cá, através de concursos ou exposições para novos talentos, por exemplo. Vai fazer um Mestrado em Ensino porque admite que seguir fotografia em Portugal é arriscado – «muitas pessoas têm sorte, mas muitas pessoas têm azar» -, mas de depois perseguir o sonho da fotografia acha que provavelmente terá de ser numa cidade maior.

Foto de João Santos

Rafael, Gonçalo, João e Bruna partilham várias experiências. Todos se apoiaram em amizades, que muitas vezes serviram de inspiração para os seus registos e concordam que o mais comum de se fotografar e a forma mais simples de entrar na área em Coimbra é através da fotografia de estudantes. Os quatro estão certos de querer continuar na área, apesar dos desafios e alguma desvalorização do sector. «Muita gente pensa que é só uma pessoa que tira umas fotozitas, que não vale grande coisa, ainda por cima somos mais jovens e pior é. Já senti isso várias vezes. Uma pessoa tem uma despesa relativamente grande (de equipamento) e também trabalha, e sente que, se pedir um valor para se sentir bem compensada, chega ao valor em que os clientes ficam um bocado de pé atrás», confessa Rafael Saraiva.

Ao mesmo tempo que a imagem é cada vez mais valorizada, a introdução da tecnologia digital e a democratização dos equipamentos fotográficos, que agora estão em qualquer bolso e com uma qualidade assinalável, mudaram drasticamente os paradigmas que norteiam o mundo da fotografia. «Quantos clientes procuram orçamento, dás o orçamento que é justo ao teu nível e à tua qualidade e as pessoas acham caro», desabafa João Santos. «Sinto que as pessoas acham que qualquer pessoa pode fotografar, que basta ter uma câmara ou um telemóvel e é tudo muito fácil de se fazer. E a realidade é que não é assim. Tal como todas as coisas, é preciso ter olho e talento», diz Bruna Gaspar. «Se calhar vai ter de ser um esforço dos dois lados. Ao início ajuda bastante fazer trabalhos grátis para portfólio. E da parte de quem procura, é começar a ter noção de que se estão à procura deste serviço têm de ter noção que é o trabalho de outra pessoa», conclui Gonçalo Cunha.

Foto de Bruna Gaspar


Fotografia é:

«Memória. Conseguindo guardar momentos seja em papel, seja em digital, para conseguir
rever mais tarde, com o pormenor que é, é diferente do que estar simplesmente a recordar. É
essencial para todos, ter registos»

Rafael Saraiva

«Paixão. Sinto que quando é feito com carinho consegue-se perceber pelo estilo de fotografia
o que é que a pessoa é, muitas vezes. É uma forma de arte tão abrangente. Pode-se aplicar de
mil e uma maneiras e é uma área que está sempre a evoluir»

Gonçalo Cunha

«Conforto, porque não há nenhum momento em que me sinta melhor do que estar neste tipo
de ambiente. A tentar apanhar aqueles pequenos sorrisos e momentos que possam depois
deixar nas pessoas uma memória para a vida»

João Santos

«Para mim, é a minha forma de ver o mundo e tudo à minha volta. É uma forma que mais
ninguém consegue ver. Toda a gente consegue olhar para uma coisa e vê-la da mesma
maneira que eu, mas ninguém consegue fotografá-la da mesma maneira que eu»

Bruna Gaspar

*Clara Neto é licenciada em Línguas Modernas com Menor em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ex-redatora do jornal A Cabra e esta reportagem é fruto de um voluntariado de um mês na Coimbra Coolectiva.

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