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Petição pública «Por um Choupal digno»

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Relevância social da Mata Nacional do Choupal

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Dimensão educacional e pedagógica do Choupal

Quem quer um Choupal mais digno?

Não é só a memória que está em jogo no importante pulmão de Coimbra. Há uma petição pela reabilitação dos campos de jogos e circuito de manutenção da Mata Nacional que significaria uma importante melhoria do presente e futuro da cidade.

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Fotografia: Mário Canelas

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Petição pública «Por um Choupal digno»

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Dimensão educacional e pedagógica do Choupal

António Godinho, António Calheiros e André Marça têm no Choupal um local de forte memória, sobretudo pelas amizades que se formaram na interação proporcionada pelos campos desportivos. Os três amigos conheceram-se a jogar basquetebol aqui, quando a disputa pelos campos era bem acesa, no melhor dos sentidos. «Aos sábados e domingos eram dez pessoas a jogar e dez à espera num dos campos. Depois mais dez a jogar e outras dez à espera, no segundo campo, e ainda havia o voleibol», lembra André Marça.   

À época, para driblar a disputa, António Calheiros frequentava os campos pelas manhãs, caso contrário «era quase uma hora de espera para jogar». Hoje os três amigos ainda se reúnem para jogar basquetebol, mas já não é nos campos do Choupal, por causa das condições precárias para uma prática mais séria do desporto e, principalmente, o risco de acidentes. 

Ainda que olhem melancolicamente para o campo de basquetebol deteriorado, André, Godinho e Calheiros dizem que ainda frequentam a Mata Nacional, mas num contexto diferente daquele de há 30 anos. Esporadicamente reúnem as famílias que entretanto formaram e procuram que os filhos criem as mesmas boas memórias que eles, na juventude. 

Outra história de ligação profunda ao Choupal é a de Ana Pegado. Ela frequenta o espaço desde menina e mantém a tradição semanal de levar as filhas a fazer o mesmo passeio que fazia na infância. «Desde que me lembro, ia para o Choupal com o meu pai. Ele ia fazer o circuito de manutenção. Se for hoje lá ver, ainda estão os mesmos dispositivos, nunca foi recuperado. Assim como os campos de jogos e as envolvências, as torres para subir para as crianças, a barra de passagem, por exemplo. Está perigoso», refere.

Petição pública «Por um Choupal mais digno»

Se as memórias construídas no lugar hoje em dia com aspecto de ruína estão à vista, as soluções nem por isso. Os utilizadores falam num esforço frequente por uma intervenção por parte das instituições responsáveis, ou, pelo menos, por um diálogo que sugira soluções práticas envolvendo a comunidade, se necessário, mas o panorama é o da inércia.  

As soluções encontradas pela sociedade civil têm sido no sentido de agir na medida do que é possível, alertando e propondo as mudanças necessárias. Numa reunião não oficial entre António Godinho e os responsáveis pelo Ténis Clube do Choupal, em 2016, terá ficado estimado um orçamento e um projeto de reestruturação dos campos de basquetebol que rondava os oito mil euros. Ficou registado que a gestão dos espaços dos campos e zonas envolventes aos campos de ténis é da responsabilidade do Ténis Clube por contrato assinado com o IPJ pelo período de 15 anos. Já a responsabilização pela poda das árvores que circundam o campo (e interferem na zona das tabelas, por exemplo), continuam a ser de responsabilidade do ICNF. 

«Este campo desportivo tornou-se órfão, o que está aqui e ainda resta é a rede de badminton. Se reparar, esses remendos que aqui estão no campo, foram feitos por nós. Existe aqui a conservação das pessoas que vinham e vêm aqui jogar», comenta Godinho. André Marça, observa que as infraestruturas têm, pelo menos, 30 anos. Neste plano, não datado, do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, lê-se que a «elevada taxa de utilização originou, ao
longo do tempo, algumas lacunas provocadas pelo desgaste ou desactualização das estruturas» e que «uma intervenção no pólo desportivo torna-se assim evidente pelos vários problemas surgidos ao longo do tempo e de conhecimento comum.»

De acordo com os testemunhos que ouvimos, os diálogos nunca se tornaram oficiais e as ações nunca foram concretizadas, mas uma petição online pública está a voltar a chamar a atenção para o problema. Num mês, o pedido dirigido à Câmara Municipal de Coimbra, ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e ao Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) angariou mais de mil assinaturas. A rápida adesão da comunidade mostra a preocupação partilhada de quem frequenta ou gostava de frequentar mais aquele que é um dos pulmões mais importantes de Coimbra.

«Por um Choupal digno» reivindica a reabilitação integral dos campos de jogos e do circuito de manutenção, ambos instalados na área destinada aos desportos e o autor é o criador da página Tatonas, que assina a rubrica Lindo Serviço na Coimbra Coolectiva e prefere manter o anonimato. O autor explicou-nos que a iniciativa partiu da constatação das «péssimas condições de uso» de um espaço que o próprio admite que nunca chegou a conhecer na melhor forma e que são as duas únicas grandes áreas de uso comum e múltiplo destinadas às práticas desportivas como o basquetebol, voleibol e badmínton, onde está também instalado aquilo que resta dos aparelhos do circuito de manutenção. 

«Ao ver, ano após ano, a decadência dos campos de jogos, sempre me perguntei porque é que não se fazia nada, porque é que não se faz nada. Parece algo que foi bombardeado e deixado ao abandono.» A visibilidade que a sua página do Facebook alcançou, com quase seis mil seguidores, encorajou-o a tornar público um descontentamento que afirma que é comum a qualquer pessoa que frequente o Choupal. «Ao ver esse desmazelo, ano após ano, e chegar ao ponto de ver inclusive o perigo que se corre no sentido do bem-estar e da saúde das pessoas, pensei para mim que finalmente tinha uma plataforma que permitia chamar a atenção a essa situação, sobre a qual estive anos a pensar.»

Tentámos mais do que uma vez, mas não conseguimos ter fotografias com pessoas a utilizar as infra-estruturas desportivas do Choupal. A pesquisa de campo, no sentido literal, dá a ver os sintomas do espaço entregue ao abandono do ponto de vista da manutenção. A zona destinada à prática do basquetebol tem o chão desgastado pelos anos e, por isso, sem qualquer aderência e marcação. A estrutura das tabelas já dá sinal amarelo e o mais grave, na opinião de António Godinho, é uma espécie de degrau na extremidade do campo ao fim da tabela onde não há qualquer zona de escape e que já terá provocado alguns acidentes. 

Os poucos aparelhos de manutenção que resistem no Choupal estão degradados. Num deles, está pendurado um aviso, colocado pelo Ténis Clube do Choupal: «Atenção: não utilizar (está em risco de colapso)».

O antigo campo de voleibol, situado bem ao centro entre os campos de basquetebol, desapareceu. Restam apenas os buracos onde ficavam as traves de suporte da rede. 

Apesar das imagens captadas neste meio de Outono, e do cenário quase apocalíptico do espaço destinado ao desporto, há quem o frequente regularmente. Mas há um grande contraste do lado de cá e de lá das redes que separam as áreas que referimos e os campos de ténis geridas pelo Ténis Clube do Choupal, arrendadas mediante reserva.

Impasse

Com origem no projeto desenvolvido aos fins do século XVIII para reduzir os danos das cheias ocasionadas pelo rio Mondego, a Mata Nacional do Choupal, integrada ao conjunto de espaços verdes históricos públicos, tem lugar de grande importância que ultrapassa o locus indiscutível por onde caminharam os versos de diversos poetas que por aqui passaram. 

Na perspectiva do biólogo Jorge Paiva, não há dúvidas: o Choupal é um dos pulmões de Coimbra. 

Um estudo realizado por Elisabete Palos na Faculdade de Letras verificou que a cidade apresenta o índice de 19,4 m² de espaço verde por habitante, abaixo do índice global desejável. A mesma pesquisa indicou a importância da Mata Nacional do Choupal, juntamente com a Mata Nacional de Vale de Canas, por serem casos particulares de uma cobertura vegetal densa e de grande dimensão. 

Se, por um lado, a Mata Nacional do Choupal tem o seu estimado valor no sentido de uma ecologia mais equilibrada da cidade, por outro lado, a gestão dos espaços que não compreendem especificamente a Mata Nacional – é gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Câmara Municipal de Coimbra e o Instituto Português da Juventude, por isso fica num impasse de ausência de responsabilização

«Ao ver, ano após ano, a decadência dos campos de jogos, sempre me perguntei porque é que não se fazia nada, porque é que não se faz nada. Parece algo que foi bombardeado e deixado ao abandono.»

Tatonas, autor da petição pública «Por um Choupal mais digno»

Enquanto a solução não vem

André Marça, Ana Pegado, António Godinho e António Calheiros continuam a frequentar o Choupal, como tantos outros milhares de cidadãos de Coimbra. Entretanto, sentem como urgente dar atenção aos espaços desportivos e à infraestrutura como um todo – incluindo as pontes e as podas das árvores. 

Para André Marça, que agora opta sobretudo pelo Parque do Vale das Flores para jogar basquetebol, uma revitalização completa no Choupal certamente atrairia os antigos e novos praticantes dos desportos de Coimbra. Talvez a solução nem reescreva a história de uma área desportiva que já foi referência para os treinos dos jogadores profissionais do basquetebol quando de passagem pelo centro do país, mas «os campos de basquetebol do Choupal já tiveram uma grande importância nacional e onde há infraestrutura desportiva há sempre gente a jogar.» 

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