Luísa Fonseca
Internista e Coordenadora do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa da Medicina Interna
É a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a emergência médica que se carateriza pela súbita diminuição do fluxo sanguíneo no cérebro que impede que receba o oxigénio e nutrientes necessários à sobrevivência das células cerebrais. O que talvez não saibam é que há dois tipos e são diferentes: o AVC isquémico é provocado pelo bloqueio/obstrução de uma artéria e vulgarmente conhecido por trombose; o AVC hemorrágico é provocado pela ruptura do vaso e chama-se derrame cerebral.
O derrame é menos frequente, e representa cerca de 15% do total dos acidentes vasculares cerebrais, no entanto é potencialmente mais grave. Ambos requerem uma resposta rápida assim que os sinais de alerta forem percepcionados, porque quanto maior for o tempo entre o início do AVC e a intervenção médica, maior é a probabilidade de surgirem lesões potencialmente irreversíveis no doente. Entre os sintomas mais comuns está um conjunto de manifestações conhecidas como 3 F’s, que são:
– Face descaída, dando uma sensação de assimetria do rosto;
– Diminuição da força num braço ou numa perna (ou ambos) e que pode ser acompanhada por uma sensação de desequilíbrio;
– Dificuldade na fala, que fica arrastada, a pessoa tem dificuldade em ter qualquer tipo de conversação ou então não se percebe o que ela diz ou não faz sentido;
Mas também podem passar pela alteração da visão, nomeadamente a diminuição abrupta de visão num ou em ambos os olhos, e uma forte dor de cabeça ou dificuldade em coordenar os movimentos. Sempre que estes sinais surgirem devem contactar o 112 e dirigir-se ao hospital mais próximo.
Tratamento e prevenção em debate
Ao contrário da trombose, em que o internamento em unidades diferenciadas e os tratamentos na fase aguda (nas primeiras horas após início de sintomas) contribuíram para a diminuição de mortalidade e do grau de dependência dos doentes, no derrame cerebral esse efeito não se conseguiu. Os tratamentos de fase aguda não são tão eficazes e os doentes muitas vezes não têm acesso a cuidados específicos em unidades diferenciadas. É no sentido de combater esse paradigma que o Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral (NEDVC) da Sociedade Portuguesa da Medicina Interna tem incentivado a investigação e formação na área.
Nos dias 23 e 24 de Novembro internistas e outros profissionais de saúde vão reunir-se no 19º Congresso do NEDVC, no Porto, para debater este e outros temas relacionados com prevenção, avaliação e tratamento dos doentes com doença vascular cerebral, Para além da vertente científica, o NEDVC também se tem preocupado em sensibilizar a população para o problema, principalmente no que toca à prevenção.
O que podem fazer
O AVC é mais frequente nos homens, mas mesmo que factores de risco como o género, a genética e a idade sejam incontornáveis, há outras formas de reduzir exponencialmente o risco de sofrer um AVC, como:
– Controlar a pressão arterial, a glicemia e o colesterol
– Adoptar uma alimentação saudável, pobre em gorduras e sal
– Praticar exercício físico regularmente
– Não fumar nem consumir bebidas alcoólicas em excesso
São pequenas acções que, certamente, farão a diferença na vossa qualidade vida.
Sobre a SPMI
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) é uma associação científica, fundada em 1951. Tem como finalidade promover o desenvolvimento da Medicina Interna ao serviço da saúde da população portuguesa. Promove ainda a investigação e o estudo de problemas científicos, bem como a organização de actividades educacionais, no âmbito da formação contínua, dirigidas aos médicos e à população em geral, no campo da Medicina Interna. Para mais informações consultem aqui.
Sobre o NEDVC
O Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral (NEDVC) da Sociedade Portuguesa da Medicina Interna (SPMI) centra a sua actuação na investigação, formação e consciencialização de profissionais de saúde e da população no âmbito da doença vascular cerebral. Este grupo é constituído por Internistas associados da SPMI.