Elsa Oliveira reutiliza papel impresso em utensílios domésticos. Carina Horta interessa-se por compra e venda de roupa em segunda mão. Maria do Carmo Pratas dedica-se desde muito nova ao artesanato. As três são as primeiras inquilinas da loja do COL.ECO, vertente complementar do projecto de Colaboração na Organização Local da Economia Eco Sustentável do Concelho de Coimbra, na Rua Adelino Veiga, Baixa de Coimbra. O espaço, antiga loja Valise, também vai ter uma área para incubação de empresas, salas de formação e apoio para desempregados de longa duração ou com dificuldades em utilizar os meios digitais.
Sonhos cumpridos
«Mary’s Fairy Hands» é o nome das páginas no Facebook e Instagram onde podemos ver o trabalho de Elsa Oliveira. A criadora aproveita o papel impresso para fazer utensílios domésticos. «Eu via desperdiçar tanto papel: jornais, panfletos de publicidade e revistas. Comecei a transformar jornais e revistas em colares, pulseiras, brincos, objectos de decoração e utilitários domésticos», apresenta a autora na página de Facebook. À Coimbra Coolectiva a criadora explica que, ao ver que ia abrir o COL.ECO, a decisão de se candidatar foi imediata. «Desde 2013 que faço este tipo de trabalhos. Comecei a ser contactada para fazer coisas mais personalizadas e a participar em feiras de artesanato. Agora chegou o momento de ter uma loja física», defende.
Carina Horta vai fazer companhia a Elsa Oliveira no espaço colaborativo. Depois da licenciatura e alguns anos a trabalhar na área, a crise levou a arquitecta a procurar uma alternativa profissional e encontrou-a no comércio de vestuário. «Trabalhei lá até ao ano passado e aí nasceu a vontade de criar o meu próprio negócio no sector têxtil, que acho ser uma necessidade em Coimbra», entende. Carina Horta vai ter uma loja de compra e venda de roupa em segunda mão no COL.ECO, um negócio que considera ser pouco explorada na cidade. «É um mercado muito próprio que não tem vingado na cidade. É também um desafio lutar contra este preconceito que parece haver em Coimbra», revela. Para Carina, é também gratificante contribuir para revitalizar a Baixa de Coimbra, elogiando o projecto pela sua vertente colectiva e com preocupações ambientais.
Maria do Carmo Pratas confessa que ficou maravilhada quando soube que era uma das seleccionadas a ter o seu espaço no COL.ECO. «Nos primeiros dois dias andei a flutuar», brinca. Maria trabalha com materiais naturais e ter um espaço na Baixa de Coimbra é um realizar de um sonho antigo, que não conseguiu concretizar antes por causa das rendas altas. «Tive uma loja de artigos para o lar e imagens religiosas em Tomar, mas depois quis voltar para Coimbra. Quando soube deste projecto candidatei-me e estou muito feliz por me ter sido dada a oportunidade de ter o meu espaço», destaca, sem esconder a alegria. Sobre o seu negócio, adianta que é à base do reaproveitamento de tecidos, desde fibras naturais, sedas e algodões. «Tudo o que não seja poluente», atira, entusiasmada com a nova fase.
Projecto para mobilizar a Baixa
O projecto COL.ECO surge no seguimento de uma candidatura ao Programa Parcerias para o Impacto do Portugal Inovação Social. O objectivo é acolher pessoas com uma ideia de negócio para investir no comércio local. «Arrendámos um prédio e a Câmara comparticipa com 25%. O objectivo passa por criar 15 postos de trabalho em microempresas ou associações, na companhia de um gestor social e um gestor financeiro, que têm 18 meses para criar o seu negócio», explica a presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, Assunção Ataíde. Na coordenação do projecto está Rute Castela, com experiência na coordenação de projectos com financiamento em economia social e interesse em questões ecológicas e justiça social. Abraçou o novo desafio no início de Fevereiro.
«Para a loja colaborativa escolhemos estas 3 de 35 candidaturas, todas no âmbito da economia circular, e com rendas a custos controlados, no valor de 100€. Nas outras há ideias de negócio muito interessantes, que vamos tentar que se insiram no projecto da incubação», defende. Rute acredita que a estrutura pode ser um pólo de mobilização da Rua Adelino Veiga e da própria Baixa da cidade. O espaço com 3 pisos está em obras e a ser equipado, com a mobília a vir do Estabelecimento Prisional de Coimbra.
Para além da loja colaborativa e do espaço de incubação, há também um projecto direccionado para desempregados de longa duração sem competências digitais. “Há acompanhamento psicossocial e jurídico, que pode ser feito de forma individual ou colectiva”, remata a coordenadora. Prevê-se que a loja abra entre o final de fevereiro ou na primeira semana de março.
