Seria o pagamento sobre as terras que a população da aldeia do concelho de Tomar tinha de fazer à ordem dos templários. Mas também dizem que na aldeia de Tomar houve um destacamento de soldados que eram pagos precisamente a cem soldos, a moeda da altura, daí o nome. Mas para conhecer bem a aldeia do Centro do país, além do curioso nome, nada melhor do que seguir Ana Bento e Bruno Pinto e provar o azeite com vinagre de figo no Lagar, passar na casa da extraordinária Maria do Zé Riscado e chamar à porta a doce Marildes, agora nos seus 96, para cantar e confirmar que passou a mocidade a criar filhos mas mesmo trabalhando muito era sempre uma vida linda.
Também conhecemos a Dona Maria José e as alcunhas de algumas pessoas da aldeia, descobrimos por que é que Caldelas se chama Caldelas, passámos na Rua das Senhoras e das famílias mais importantes da aldeia e soubémos da tradição das frases nas paredes das casas que o festival Bons Sons, que leva lá milhares de pessoas em Agosto, agora tem recuperado. O passeio não acabou sem provarmos um Tichão na tasca do Joel, também mundialmente famoso pela sangria, e brindar ao investimento nas pessoas, à cultura sem dono e ao festival que, desde 2006, transformou a pequena povoação. Foi tudo acompanhado pela guitarra eléctrica e canções originais sobre histórias da terra e vai ser feito também em Coimbra este mês.
Em Cem Soldos
Desde os anos 1920 que a aldeia na freguesia da Madalena, a 10 minutos de carro de Tomar, tem uma grande tradição de teatro e de música. Aliás, costumava haver bailes na praça onde tudo acontece durante o festival de música, mas que durante o ano está vazia e só serve para estacionar os carros. Na sede do Sport Club Operário de Cem Soldos (SCOCS), que é a associação cultural local fundado em 1981, Ana Bento e alguns jovens da povoação também falaram sobre a extravagante Dona Lurdes Godinho e a sua casa verde, ao mesmo tempo que provávamos o bolo, a chouriça, o vinho e a limonada. Depois jogámos ao jogo do cântaro. É o SCOCS que tem a missão de promover o bem-estar social, cultural, desportivo e recreativo da comunidade e por isso tem assegurado a criação de uma dinâmica social excepcional, responsável pelo envolvimento comunitário, formação e empreendedorismo de muitos jovens de Cem Soldos, cujo resultado mais mediático é o festival que se tornou nacional.
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Em Coimbra
Ana Bento é de Viseu, multi-instrumentista e compositora, com formação em Educação Musical, Musicoterapia e na área da pedagogia musical com Pierre Van Hawe, Jos Wuytack, Edwin Gordon, Verena Maschat, Murray Schafer, Soili Perkiö, entre outros. Integra os projectos Cabeça de Peixe, Tranglomango, Colectivo Gira Sol Azul e Stopestra, colaborando, pontualmente, noutros projectos. Começou em Abril a frequentar Cem Soldos e a estudar e conhecer as pessoas que lá vivem para construir o percurso por entre pedras, canteiros e portas que contaminam e se deixam contaminar pelo festival Bons Sons, para revelar as histórias escondidas por entre a História. O percurso foi apresentado todos os dias às 12h e estava previsto para 20 pessoas inscritas mas teve bem mais do que isso com grandes ovações no final. A artista está agora em Coimbra a apresentar outro percurso, O Caminho, inserida no ciclo Dar a Ouvir. Paisagens Sonoras da Cidade, A Fala do Mundo. Até dia 1 de Setembro, a partir das 18h, podem ouvir a História e as histórias dos lugares que compõem o percurso desde o Convento São Francisco e ao Salão Brazil, na Baixa. Dá-se a ouvir através do que se pisa, do que se saboreia e do que se cheira, através das mãos e ainda do coração; dá-se a ouvir através de tudo, até dos ouvidos. Curiosos? O bilhete custa 5€, há descontos e preços para famílias, e nos dias 31 de Agosto e 1 de Setembro é gratuito.
Texto e fotos: Filipa Queiroz