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Opinião | O que faz falta a Coimbra

«A primeira vez que abri uma página online da Coolectiva associei-a ao formato internacional Time Out. Bastaram, porém, uns segundos para perceber que tinha um ADN próprio, que ia além da agenda cultural e das iniciativas destinadas a crianças, sem desvalorizar as agendas, pois, bem feitas, são guias de orientação preciosas.»

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Fotografia: Filipa Queiroz

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Encontrei na Coolectiva informação útil sobre o que se passa na cidade de Coimbra, que não está ao dispor em qualquer outra publicação local. A revista torna visível o invisível. A publicação dá a conhecer calls para jovens músicos, padarias inclusivas, com opções para celíacos, mercearias a granel, apresenta festivais sobre género, mercados de ilustração e para crianças, esplanadas em sítio improváveis, histórias de ruas emblemáticas, soluções sustentáveis que nasceram no interior dos laboratórios da cidade, desvenda mistérios sobre os veados da serra da Lousã, cria rubricas para apelar à participação dos cidadãos — «O que perguntaria aos políticos da cidade se pudesse?» — dá a conhecer pessoas, sem esquecer as que emigram e vêem agora a cidade do Parque Verde de outra maneira. Sim, Coimbra é muito mais bonita vista do Parque Verde. 

A Coolectiva é uma revista nativa digital que procura estar ao lado do cidadão e, ao que sei, pretende estreitar essa relação. O projeto está a crescer, numa fase em que o jornalismo precisa de se reinventar. Nos últimos anos, a noção de jornalismo ampliou-se para dar lugar a jornalismos, e deixou de fazer sentido distinguir jornalismo nuclear e periférico, considerado um de qualidade e outro menor, a tal clivagem entre hard news e soft news, se quiserem, perdeu relevância (Mark Deuze). O que faz falta são as notícias que interessam à vida das pessoas, as notícias de proximidade que dão resposta às perguntas que colocamos a cada dia e em cada momento em particular. 

A procura de informação ocorre hoje num ecossistema vasto, preenchido com conteúdos de muitas cores e feitios, produtos híbridos, informação mascarada. O jornalismo tem de concorrer com vídeos de gatinhos, anúncios com temas fraturantes, e provar que o conhecimento que proporciona tem de ser mais gratificante do que as narrativas da lágrima fácil. Por tudo isto, a criatividade e a capacidade de saber contar estórias são atualmente grandes desafios para o jornalista. É preciso respeitar os fatos, apostar na transparência e fornecer informação confiável, mas sem a abordagem da utilidade, as notícias ficam por ler. 

Na sociedade em rede (Manuel Castells) em que nos movemos, o jornalismo deixou de se limitar a um produto fechado, pronto a consumir, deve ser entendido como um serviço (Jeff Jarvis) que se pode prestar de múltiplas maneiras aos cidadãos: newsletter, comentários em comunidades. A Covid-19 veio provar o quanto é precioso saber se os parques estão ou não fechados, e se concertos foram cancelados. As notícias não têm de seguir a grelha dos meios tradicionais: há mais notícias além do acidente.

A Coolectiva reúne condições excelentes para se lançar no espaço fértil que é a reinvenção do jornalismo, que, acima de tudo, privilegia a conexão com o cidadão. Coimbra só tem a ganhar. E se as notícias sobre o que se passa na cidade fossem pretexto para as discussões que interessam aos seus habitantes? A Coolectiva faz falta.



Dina Margato é jornalista (Jornal de NotíciasExpresso), professora de Jornalismo no Instituto Superior Miguel Torga, investigadora na área dos novos media, doutoranda em Ciências da Comunicação, pelo ISCTE- IUL.


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