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MENSAGEM CIDADÃ | A Coimbra Coolectiva criou um espaço que não existia

Coimbra tem sido uma cidade onde a criação de qualquer coisa parece malfadada ab initio, como se uma qualquer maldição coletiva predestinasse tudo ao insucesso. Conseguir criar, divulgar, manter, melhorar um projeto, é, de facto, um feito e uma inspiração. É preciso que alguém faça alguma coisa bem, que perdure no tempo, que evolua, que cresça como exemplo para que as pessoas sintam que vale a pena, para que se sintam compelidas a fazer igual. No fundo é preciso «pôr as mãos na massa».

Em retrospetiva, a primeira vez que ouvi falar da Coimbra Coolectiva achei mesmo que estávamos no bom caminho, que qualquer coisa nova estava finalmente a emergir para dar a conhecer, debater o que se faz em Coimbra, o que se cria, o que se muda, as pessoas atrás das ideias, as ideias concretizadas os de cá, os que cá ficam, os que vêm para cá, os que vão embora, um emaranhado de histórias e vidas com tanto para nos dar.

Eu nunca duvidei que havia muita coisa a acontecer sem que ninguém soubesse, que havia muitas pessoas com histórias que mereciam ser ouvidas e contadas, de que valia a pena falar, que nos orgulham. Porque, todos os dias, em Coimbra, há pessoas que criam, mantêm, cuidam, inventam, um bater silencioso de um coração antigo e semiadormecido, mas que ainda vale a pena ouvir. E que ninguém via, nem ouvia. Coimbra tem sido uma cidade silenciosa com os seus.

Eu gostei logo, de imediato, dessa porta aberta às pessoas, quase como um despertar tranquilo para nos retirar de um certo torpor e resignação quotidiano. Quase como uma inspiração para nos envolvermos e fazermos mais. É fácil cobrar aos políticos aquilo que eles não fazem, ou criticar o que eles fazem, porque, na verdade, nos desresponsabiliza da ação. Mas se queremos a mudança e uma vida melhor não podemos deixar de participar, de nos comprometer, é imperioso que participemos nesta mudança, ativamente e com responsabilidade. E, de certa forma, a Coimbra Coolectiva veio lembrar-me que agora não há desculpas.

Não somos todos criativos, não temos todos paciência, nem ideias incríveis, nem queremos todos criar ou gerir negócios, mas todos temos uma palavra e um contributo, todos podemos estar presentes no que a cidade nos dá, para lhe retribuir esse gesto e dar também qualquer coisa de nós. Ir é o primeiro passo para que Coimbra cresça e para que as pessoas sintam que se devem envolver. E as pessoas vão. E foi esse propósito que reconheci na Coolectiva e onde me reconheci, espaço para dar a conhecer, espaço para divulgar, espaço para nos orgulharmos e até comovermos, espaço de inspiração.

Porque como alguém muito querido escreveu um dia é «fácil uma pessoa bater com a porta, zangar-se e ir embora, o que é difícil é ficar» (Miguel Esteves Cardoso, prefácio d’ As minhas Aventuras na República Portuguesa).

Daniela Gonçalves é de Coimbra e é jurista.

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