No início de 2022 decidimos regressar a Coimbra. Depois de quase nove anos a viver em Gent, na Bélgica, optámos por deixar o estilo de vida que tanto gostamos: fazer tudo a pé, de bicicleta ou de transportes; usufruir do espaço público de qualidade; e ter um ótimo balanço entre a vida social e o trabalho.
Tínhamos meio ano para nos prepararmos mentalmente para a mudança. Que turbilhão de sentimentos: voltar a Coimbra, à casa que já não é casa, que como todos sabem está parada no tempo. Onde nada se passa e já conhecemos todos os poucos que cá ficaram. Muitos não perceberão mas regressar a casa, quando sair nos mudou tanto, pode ser muito assustador.
Tivemos a sorte de, por essa altura, já alguém ter começado a procurar soluções. «Uau, em Coimbra afinal há uma creche que promove a brincadeira das crianças no exterior, na terra, à chuva, nunca pensei»; «Já há lojas com preocupações ambientais»; «Afinal todos os fins-de-semana há coisas para fazer em Coimbra»; «Há várias lojas de produtos em segunda mão e mercados de trocas»; «Também há
hortas urbanas». A cada história, a cada partilha a esperança e motivação aumentavam. Passei a partilhar os artigos da Coimbra Coolectiva com a família e amigos descrentes.
Assim que chegámos, organizaram um debate sobre mobilidade, um tema que me é tão querido mas que é uma das minhas maiores frustrações nesta nova vida. De todos os lados, o que ouvimos foi: há muita resistência à mudança, mas o que é preciso é incentivo e apoio. Pois aqui estou para apoiar.
Sempre me envolvi em projetos em Coimbra, de muitas maneiras diferentes, mas até isso me parecia esgotado: tudo parecia estar que estar na mesma e já não me identificava.
Até que surge a Geração Coolectiva. A energia que ronda à volta da Coimbra Coolectiva é contagiante e, tal como ouvi da parte de vários outros participantes, eu «tinha que fazer parte» desta geração, por tudo, mesmo que apenas para os apoiar e lhes agradecer pelo que estão a fazer. Alias, eu já me identificava com esta geração.
O evento da Geração Coolectiva conseguiu superar as minhas expectativas. À entrada os sorrisos e os olhares dos desconhecidos já me traziam a certeza que estávamos ali todos a sentir que este dia ia fazer a diferença. É impossível ficar indiferente ao que aconteceu naquela tarde. Foi política, daquela que faz falta ser feita. Deixou claro que somos muitos e que, de maneiras e com motivações muito diferentes, estamos aqui para ajudar, para colaborar, para mudar. Não tenho dúvidas de que aquela tarde mudou o futuro da cidade para muito melhor.
Eram algumas as caras conhecidas e, felizmente para mim, a maioria eram pessoas novas, de diferentes idades e contextos. Começámos naturalmente pelas queixas, elencámos o que está mal, o que faz falta, o que nunca muda. Mas, muito rapidamente, fomos orientados para pensar nas soluções, a olhar para o potencial da cidade.
Possivelmente, algumas daquelas ideias vão realizar-se. Provavelmente muitas não passarão daquela tarde ou do programa de capacitação mas o que mudou foi a certeza de que há esperança e que nós fazemos parte dela. A transformação já começou e só não participa quem não quer, dado que a Coimbra Coolectiva e a Geração Coolectiva afirmam-se como um espaço-plataforma para todos.
São tantas as ideias que gostava de implementar em Coimbra que, por vezes, me perco nelas. Mas o que mais me interessa, neste momento, é que esta energia não se perca e que chegue a mais pessoas. Levámos uma ideia para aquela tarde que procura isso mesmo: aproximar, ouvir e ajudar as pessoas a ser parte das soluções para a sua rua, o seu bairro, a sua cidade. Confirmámos a relevância desta ideia quando um outro grupo antes de nós fez um pitch com uma ideia semelhante, pelo que acabámos o nosso a sugerir que nos juntássemos, pois só unidos conseguimos mudar as coisas. E assim foi.
Começámos o programa de capacitação com mais dúvidas que certezas. Percebemos que nesta plataforma de participação cívica tudo é possível, nada é muito concreto e tudo depende da receção e envolvimento das pessoas. A juntar a isso, ainda há que unir ideias e ambições de dois grupos. O programa é mais orientado para uma lógica de negócio que no início não estava a fazer muito sentido para nós. Mas a Shift ajudou-nos a compreender a relevância destes exercícios, a estruturar, a questionar e a consolidar as nossas ideias. A cada encontro ouvimos experiências, ideias e projetos de pessoas que de diferentes maneiras os têm posto em prática. Tem sido uma excelente ajuda para
conseguirmos definir o que queremos realmente fazer e como é que o vamos conseguir. Tivemos a sorte de encontrar um grupo de pessoas que querem realmente envolver-se com a comunidade e com quem a dinâmica de trabalho fluiu sempre de uma forma natural, divertida e entusiasmante.
No domingo, dia 12 de fevereiro organizámos o primeiro momento deste projeto-
piloto no Largo da igreja dos Olivais. No seu momento alto, fomos 25 pessoas a dizer «Eu também», a conversar, a questionar o futuro projeto, a dar ideias concretas para este espaço que é de todos e que cada um vivencia à sua maneira a cidade de Coimbra.
Não sei onde é que isto vai dar. Mas «eu preciso disto», como dizia um dos participantes no evento de domingo. Esta energia que sinto a cada conversa, a cada evento a cada sorriso é que me ajuda a regressar a Coimbra e a saber que faz sentido que a nossa filha cresça aqui.
À Filipa, à Joana e a todos os que tornam tudo isto possível, estou muito grata. E não posso deixar de celebrar que por detrás deste projeto fantástico estejam duas mulheres. Duas mães.

Joana Martins cresceu em Coimbra e desde cedo esteve ligada à intervenção pública, desde associações juvenis à política. Formou-se arquiteta e rumou a Gent, na Bélgica. Trabalhou em projectos de várias escalas, tendo-se especializado em habitação social com foco na sustentabilidade. Passados 9 anos regressou a Coimbra para ver a sua família crescer.